sábado, 1 de maio de 2010

Água para pessoas, não para relvado

O estádio Moses MabhidaOs preparativos para o Campeonato Mundial de Futebol num estádio em Durban, África do Sul, mostram bem todas as prioridades deformadas do negócio do desporto. Por Dave Zirin.
Já estive em muito campo de futebol em toda a minha vida, mas nunca tinha visto uma arena desportiva que fizesse cortar a respiração como o Moses Mabhida Stadium em Durban, África do Sul. Depois de fazer uma visita privada à maravilha de 457 milhões de dólares, fiquei completamente estupefacto, tanto no bom como no mau sentido.
O estádio, cujo nome se deve ao último dirigente do Partido Comunista Sul-africano, é uma obra de arte estilizada. O complexo em branco casca de ovo é visível a quilómetros de distância, elevando-se da Terra em nuvens de leite que contrastam de forma abrupta com o ambiente urbano e poeirento que o rodeia. O tecto aberto tem um arco gracioso e suave que liga um lado ao outro do estádio. Só o arco em si é uma maravilha: começa como uma curva clara, e depois divide-se, separando-se em duas extensões de branco.
Isto é uma homenagem à bandeira Sul-africana do pós-apartheid, com as riscas querendo simbolizar, de acordo com o que diz no sítio Web do governo, "a convergência de diversos elementos dentro da sociedade Sul-africana, levando o caminho pela frente em unidade." Os viciados em adrenalina até podem subir ao topo do arco e fazer "bungee-swing" sobre o campo.
Num dos lados do estádio, por detrás da baliza, existe uma abertura panorâmica, do feitio de um gigantesco quadrado chamado "janela sobre Durban", e, realmente, a linha do horizonte de Durban faz de cenário ao estádio através desta "janela". Mas a verdadeira façanha de engenharia do Estádio Moses Mabhida são as bancadas. Estas erguem-se em ângulo com tal subtileza que o efeito é o de um prato e não de uma tigela.
Cada um dos 74 mil lugares sentados tem uma perspectiva perfeita da linha de acção, quer se esteja nos lugares do topo ou nos camarotes. Os assentos propriamente ditos estão pintados em cores vivas: os do primeiro nível são em azul forte que representa o oceano, os do meio são verdes que significa a terra e os do topo são castanhos para que, de acordo com o que me disse um repórter desportivo, "na televisão pareça que o estádio está cheio."
No entanto, a cor mais marcante do estádio não está nas bancadas. Está no relvado. A relva é de um verde tão brilhante que até fere a vista. Cada folhinha de relva parece ter sido meticulosamente colorida com um marcador mágico. Isto foi criado com a ajuda de litros de água quase sem conta, irrigando constantemente o campo, conforme eu próprio pude testemunhar.
* * *
Levantei a questão da beleza incomparável do estádio porque os políticos sul-africanos apoiantes do Campeonato Mundial de Futebol acusam os detractores daquilo que eles chamam de "Afro pessimismo." Alegam que os críticos não acreditam que a África do Sul tenha capacidade para receber um evento desta magnitude. Isto é um disparate. Ninguém duvida que a África do Sul o consiga fazer. O problema é como o governo e a FIFA estão a executar os seus planos nefastos.
A África do Sul é um país onde a riqueza e a pobreza extremas já convivem lado a lado. O Campeonato Mundial, longe de ajudar esta situação, ainda evidencia mais cada uma das manchas desta nação pós-apartheid.
Ver uma nação já dotada de estádios perfeitamente utilizáveis gastar quase 6 mil milhões de dólares em novos complexos, é verificar um inconcebível esbanjar de recursos.
Ver litros e litros de água desperdiçados num campo de futebol, num país onde a falta de acesso à água potável tem originado protestos em todas os distritos, é reconhecer uma negligência irresponsável pelas necessidades do povo. Como disse ao New York Times Simon Magagula, que vive numa casa de barro perto de um dos novos estádios: "Prometeram-nos uma vida melhor, mas vejam como vivemos. Se deitarem água num copo, vão ver coisas moverem-se lá dentro."
Ver uma maravilha arquitectónica como o Moses Mabhida Stadium num país onde o acesso a um abrigo limpo e acessível é um sonho impossível para tantos, é testemunhar os interesses do governo a colidirem com os interesses do povo que o elegeu.
E ver um estádio cujo nome foi dado em memória de Moses Mabhida, que simboliza as lutas contra a pobreza para milhões de sul-africanos, é contemplar a ironia na sua forma mais lúgubre.
À medida que o preço e as exigências feitas pela FIFA se vão tornando mais onerosos, muitos estão agora a reconsiderar. O correspondente desportivo do Canal E da Televisão Sul-africana, Zayn Nabbi, que me fez uma visita guiada pelo estádio, olhou à volta e disse:
Estruturalmente, o Moses Mabhida Stadium é brilhante. A nível mundial. Contudo, quando pensamos quanto custou, num país com tanto serviço público defeituoso, é difícil acharmos que isto esteja certo. Há áreas com necessidade desesperada de financiamento. Estamos todos tão embrenhados neste romance para ganhar o Campeonato do Mundo - o romance dos romances - que ou não alcançamos ou não fomos informados das repercussões. Deixamo-nos todos levar pelo entusiasmo. Claro que eu também me coloco nesta categoria. Homem, quando tudo isto terminar, a ressaca vai ser brutal.
Esta pode ser uma daquelas ocasiões em que a ressaca começa ainda antes de a festa acabar. As organizações distritais já foram chamadas a protestar durante o Campeonato Mundial se não forem alcançadas as exigências para os serviços públicos básicos. É o que acontece quando a água para o relvado é limpa mas os poços de água para beber - em conjunto com as políticas da FIFA - estão completamente imundos.
21 de Abril de 2010
Publicado primeiro em The Progressive
Dave Zirin é o autor de A People's History of Sports in the United States e duas colecções dos seus artigos desportivos, Welcome to the Terrordome: The Pain, Politics and Promise of Sports and What's my name, Fool? Sports and Resistance in the United States. É um colunista no TheNation.com; os seus artigos também se encontram disponíveis no seu sítio Web Edge of Sports.
Tradução do Socialist Worker por Noémia Pontes de Olive

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.