É cada vez mais difícil conseguir conciliar trabalho ou participação cívica e social na vida com a exigência de ritmo dum curso de Ensino Superior. Embora havendo excepções, a maior parte dos estudantes do Ensino Superior que ainda conseguem continuar a pagar propinas não tem possibilidade de participar activamente na vida da sua faculdade ou da sua cidade. Os estudantes de hoje são precários na vida e no tempo. O tipo de relação regular que a sua faculdade lhes exige é um factor crucial para uma estratégia do pensamento dominante: esvaziar a capacidade de participação activa do máximo de cidadãos possível nas decisões e na vida duma comunidade ou sociedade. Reduz-se assim o papel do estudante na sociedade à passividade cívica. O estudante estuda, o trabalhador trabalha. Assim é que estamos bem, não é?
A geração que hoje se denomina de “jovem” é a primeira geração que vai viver pior do que os pais. É a geração que já não tem bolsas, tem empréstimos. Que já não tem licenciatura, tem bacharelato, num mercado de trabalho nacional completamente inadaptado às capacidades dos trabalhadores qualificados. A geração que já não tem emprego, tem biscate. Que já não vive, sobrevive. Sobrevive a trabalhar em call-centers ou com trabalho que não lhes dá subsídio de férias, desemprego, doença ou gravidez. Sobrevive em quartos alugados nos subúrbios da cidade, sempre na corda bamba, prestes a cair.
Mas pelo que ouço, isto tem de ser assim! O capitalismo quer maximizar o lucro a qualquer custo, a agenda neoliberal impõe a precariedade a nível global. O que temos visto nos últimos anos na comunicação social são geralmente comentadores, economistas neoliberais, a vender-nos a ideia de que as medidas para “salvar a economia” são inevitáveis. Querem nos convencer de que, se queremos sobreviver ao século XXI, os direitos laborais têm de regredir até ao século XIX.
Este é uma breve desabafo das condições de vida de um estudante em Portugal. Tal como os trabalhadores gregos, não podemos deixar que nos venham ao bolso, nos cortem salários, nos cobrem propinas, nos peçam para apertar ainda mais o cinto para atingir o que, segundo alguns economistas, será uma óbvia recessão.
Porque nós não pagamos a crise deles, dia 29 de Maio, estudantes estarão presentes em Lisboa no Protesto Geral da CGTP contra o PEC e a austeridade. Porque nós, os precários de hoje, seremos os rebeldes de amanhã.
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