terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Quem avisa, amigo é: nunca dê confiança a espiões ocidentais

A cada nova fuga, mais e mais a WikiLeaks expõe o desencaminhamento, o beco sem saída da política externa dos EUA e dos seus supostos “aliados”.
La Clinton recusou-se a confirmar a autenticidade dos 250 mil perfeitamente autênticos documentos. Foto de Nrbelex, FlickR
Diferente do que me informavam os boatos, a mulher disse, ao telefone, que não era espia, mas simples attaché da embaixada, que só queria conversar um pouco sobre o futuro do Líbano. Eram dias de sequestros na capital do Líbano, e ser visto num almoço com o comensal errado terminava numa cave dos subúrbios do sul de Beirute. Acreditei na mulher. E errei totalmente. Ela chegou com dois guarda-costas britânicos, armados, que se sentaram à mesa do lado. Minutos sentados num restaurante de peixe na parte alta do Raouche, e ela começou um interrogatório sobre armas do Hezbollah no sul do Líbano. Levantei-me e saí do restaurante. Na mesa do outro lado, havia dois homens do Hezbollah. Telefonaram-me, na manhã seguinte. Tudo bem: tinham visto que eu saíra do restaurante. Mas eu que ficasse esperto.
Desde que aquela mulher mentiu – mais de dois anos depois, contaram-me que ela tinha medo de fazer o que fazia como agente de espionagem – sempre evitei embaixadas dos EUA pelo mundo. A não ser que seja para falar com diplomatas irlandeses, suecos e noruegueses que conheço, ninguém jamais me verá em embaixadas de países ocidentais, em lugar algum do mundo. E nunca fui sequestrado.
Interessante é que, quase no mesmo momento em que a embaixada britânica tentava aplicar-me aquele golpe, os iranianos publicavam, em forma de livro, quantidades inacreditáveis de arquivos secretos da Embaixada dos EUA no Irão.
Os estudantes consumiram longos dolorosos anos, depois da revolução islâmica de 1979, a colar fragmentos rasgados das cópias dos telegramas diplomáticos enviados a Washington pela missão dos EUA em Teerão. Os norte-americanos confiscaram todos os livros que chegaram aos EUA – ah, os gloriosos dias de papel, antes da Internet – mas consegui comprar e tenho todos os livros em Beirute.
Dentre outras coisas, lê-se lá, num dos telegramas, a conclusão, redigida pelo attaché Bruce Laingen (13/8/1979), segundo a qual “a psique persa é de insuperável egoísmo (...). Resultado prático dessa psique é a preocupação quase total dos persas com eles mesmos, o que não deixa espaço para que compreendam pontos de vista que não sejam o de cada um”. Li e escrevi sobre este telegrama para o The Times há já quase 30 anos. E agora, lá está o mesmo telegrama, divulgado pela WikiLeaks, elevado ao trono de manchete pelo New York Times e por seu filhoteInternational Herald Tribune, como se fosse extraordinário furo de reportagem. Não há – como se sabe – memória humana no New York Times. Lamento, mas essa “caxa” é dos iranianos. E esta semana, sabendo que os documentos bem podem conter o nome de infortunados jornalistas que vomitam o que sabem sobre o primeiro attaché “da Defesa” de embaixadas ocidentais no Médio Oriente, foi um conforto saber que ninguém leria lá o meu nome.
Foi fascinante assistir a Hillary Clinton, na tentativa inicial de denunciar a torrente de telegramas da WikiLeaks como “ataque contra a comunidade internacional”. Em dois momentos, ela avisou aos jornalistas que também haveria nomes de jornalistas, nos telegramas – portanto, que ninguém viesse com questões sobre liberdade de imprensa, dado que a WikiLeaks também conhece os nomes de muitos valorosos guerreiros mediáticos. O mais espantoso foi o efeito do “aviso”. Mal La Clinton se recusou a confirmar a autenticidade dos 250 mil perfeitamente autênticos documentos – ela falou de “supostos documentos” – e lá estava a BBC, imediatamente, também duvidando da autenticidade de “supostos documentos”; como se a matéria que estivera na manchete da BBC de minuto em minuto, de hora em hora, todos os minutos e horas das recentes 24 horas pudesse ser boato, coisa inventada. Depois, infelizmente, a Al-Jazira cometeu o mesmo erro.
O problema, é claro, é que não é boato nem coisa inventada. E a arrogância pomposa que La Clinton considerou necessária, para explicar a diferença entre os telegramas diplomáticos (os quais, sim, têm alguma relação com a realidade, embora nem sempre bem escritos) e os “documentos”, que emergem de seu hoje muito reduzido gabinete diz tanto quanto a enxurrada da WikiLeaks. Porque essa senhora, que não poderá escrever a própria biografia, ordenou – e tenho de sacudir a cabeça para acreditar em tal coisa – que seus serviçais espionassem na ONU.
Que La Clinton tenha mandado que os seus escravos no Departamento de Estado brincassem de agentes secretos com essa velha e patética ONU – a besta que saltita pelo palco, zombando do fracasso das fracassadas políticas dos EUA para o Médio Oriente, esse arranha-céus decrépito no East River, embrulhado em asbesto suficiente para envenenar uma nação inteira de guardiões da paz, essa ruína burocrática, com o seu patético secretário-geral, cujo inglês ainda carece de muito aprimoramento – mostra o Departamento de Estado dos EUA como é: uma instituição absoluta e totalmente sem qualquer serventia.
La Clinton mandou-os espionar detalhes encriptados da vida dos delegados, transacções com cartões de crédito, até cartões de empresas aéreas mais usados. Mas quem teria interesse em ler o nonsense que o pessoal da ONU e seus salários superinflacionados escrevem, ou quanto gastam em almoços no Nobu com o cônsul da Nicarágua, ou quem paga as passagens de amantes de quem para ir a Havana de boleia nesses voos da ONU?
Há muito tempo, a Air France concordou em entregar a espiões dos EUA os detalhes dos voos de seus clientes mais frequentes. Para que, então iriam querer a mesma coisa, outra vez? E por que espiar a ONU, se se sabe que o pessoal lá dirige a organização mais cheia de furos e fugas do globo? Uma vez, recebi tantas cópias idênticas de relatórios de soldados da paz da ONU no sul do Líbano – o tenente-general aposentado William Callaghan, irlandês, é testemunha – que tive de pedir aos soldados da ONU que me verificassem as suas listas, para saber quantas vezes o meu nome lá aparecia, repetido.
Mas fiquemos só no Médio Oriente. Hoje sabemos que o presidente Hosni Mubarak do Egipto “odeia o Hamas e os vê como parte da Fraternidade Muçulmana do Egipto, que, vê como a sua mais perigosa ameaça política”. Macacos me mordam. Para quem assistiu aos gangsters do Partido Nacional Democrático de Tio Hosni espancar a Fraternidade há duas semanas – para não falar dos polícias pagos a um dólar por dia, metendo na cadeia milhares de Irmãos – não chega a ser propriamente novidade. E tampouco é novidade, por falar nisso, que a imprensa egípcia sempre leal a Mubarak, depois das eleições, tenha alardeado o modo como o Partido Nacional Democrático “salvou a nação” com sua vitória massiva (tudo isso, claro, antes de conhecer-se qualquer resultado das urnas).
Quando Mubarak ouve o nome de seu adversário eleitoral Ayman Nour – homem encantador, com quem estive em Beirute, antes das eleições – diz que “sente náuseas”, segundo o telegrama da WikiLeaks. Exactamente o que Nour sentiu quando Mubarak o prendeu na prisão de Tora, antes das eleições de 2005. Todos aguardamos, naturalmente, para saber o que os telegramas diplomáticos realmente disseram sobre o facinoroso Yasser Arafat e – mais importante – o governo colonial de Israel na Cisjordânia. Mas nada temam, nenhuma verdade que lá exista jamais obnubilará os acintosamente arrogantes documentos “políticos” da lavra de La Clinton e seus antecessores.
A cada nova fuga, mais e mais a WikiLeaks expõe o desencaminhamento, o beco sem saída da política externa dos EUA e dos seus supostos “aliados”. É. De facto. A comunidade internacional está, sim, sob ataque. Está mesmo!
18/12/2010
Traduzido pela equipa de tradutores da Vila Vudu
Publicado originalmente no Independent. Retirado de Redecastorphoto

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.