segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

600 quilómetros

Depois de algumas idas e voltas Lisboa-Madrid-Lisboa, e de outras idas e voltas Maputo-Joanesburgo-Maputo comecei a encontrar pontos de encontro entre a viagem no Sudoeste europeu e a viagem no Sudeste africano. Por Nuno Milagre/Buala.org.
Foto Nuno Milagre
Foto Nuno Milagre.
Os dois percursos têm cerca de seiscentos quilómetros, de país para país, de capital para capital; sintonizar noutro idioma ao passar a fronteira, cambiar as notas por outras - actualmente já se salta este passo na Península Ibérica. São viagens em longitude, para Oriente: Madrid e Maputo; para Ocidente: Lisboa e Joanesburgo.
De avião bastam 45 minutos, mas não se vê mais que nuvens e aeroportos. Pode-se ir também de comboio, mas são linhas pouco rectas que não vão direitas ao assunto. Não tendo pressa de chegar, o melhor é ir por estrada, poder sentir a distância espalhada pelas horas que avançam no asfalto. As estradas são boas e a paisagem é bonita, vai-se desenrolando nos vidros, a xis quilómetros por hora: longa-metragem em 3D, com aromas e banco tremido.
É normal que em alguns cantos do planeta, viajando por estrada, quando nos afastamos da urbanidade, quando não passam carros, nem há casas, nem gente; onde há só campo, só mato, às vezes pareça que a paisagem que corre lá fora se poderia localizar noutros longínquos recantos do globo. A paisagem não humanizada é universal e tem pontos de encontro nos dois hemisférios: o mesmo tipo de relevo, cursos de água, prados, arbustos parecidos, vento indistinguível de outros ventos, no seu movimento sem causa aparente.
A zona de Boane pode parecer o território antes ou depois de Navalmoral, e perto de Estremoz poderíamos afinal estar na região de Mpumalanga.
Se aterrássemos sem referências em alguns locais escolhidos a dedo na África do Sul, Espanha, Moçambique ou Portugal, em locais com o mínimo de vestígios dos seus habitantes, facilmente nos poderíamos enganar jurando estar noutro continente.
Durante as horas de viagem podemo-nos entreter a colher simetrias geográficas, mas chegando às cidades, mesmo de olhos fechados, as diferenças saltam à vista.
Em Madrid existe a Plaza de Oriente. Dizem que se chama assim por ter a sua morada a oriente do Palácio Real, construído onde existia o antigo alcazar devorado por um incêndio que o consumiu durante mais de três dias.
A Oriente da Plaza de Oriente, está o hexagonal Teatro Real, heterodoxa geometria do Teatro de Ópera de Madrid. Entre o Palácio e o Teatro, um jardim ao estilo barroco com estátuas de reis visigodos e católicos. Estas e outras estátuas foram feitas para pontuar a cornija superior do Palácio Real, mas reza a lenda que a lisboeta rainha espanhola Maria Bárbara de Bragança, esposa do castelhano Rei Fernando VI, sonhou, no sossego do Palácio, com o estrondoso colapso da cornija sob o peso das estátuas reais, e estas a caírem redondas no chão. Perante apocalíptico pesadelo, e outras conveniências políticas, foram poucas as figuras de pedra que tiveram a honra de ficar a morar no alto do Palácio, com vista para os pontos cardeais. A maior parte ficou-se pelo rés-do-chão, no jardim da praça, ou foram espalhadas pela capital e por outras cidades de Espanha.
Vizinha da ponte Nelson Mandela, a Oriental Plaza de Joanesburgo é tão diferente da madrilena que só no oriental nome coincidem. Aqui, a Oriental Plaza é um grande espaço comercial, com áreas cobertas e ao ar livre. Uma espécie de outlet por grosso e a retalho onde há de tudo. Um grande bazar de produtos orientais, a preços muito em conta ou não a anunciassem como a Meca dos Preços. Nas trezentas lojas da Oriental Plaza encontramos cabeleireiros, filmes e música, electrónica, casas de câmbios, restaurantes, mobiliário, tecidos e roupa, minimercados, lingerie, telemóveis, jóias, e muito mais!
Por comparação a Espanha, a África do Sul tem uma ligação mais marcada e mais antiga com o Oriente. Muito antes de Joanesburgo existir, os holandeses deslocaram para a Cidade do Cabo milhares de escravos do Extremo Oriente a partir do final do século XVII, a meio do século seguinte havia mais escravos que europeus na região do Cabo. A África do Sul, enganadoramente apresentada como um país a preto e branco, tem uma sociedade muito cosmopolita onde vivem há muitas gerações grandes comunidades indianas, malaias, javanesas e outras: mais de um milhão de sul-africanos, cidadãos que não são os pretos nem os brancos do país.
Joanesburgo é uma cidade nova, com pouco mais de cem anos, mas é seguramente uma das cidades do mundo com maior diversidade de comunidades de origem estrangeira. Cresceu com sucessivas vagas de imigrantes vindos da Europa, de todo o continente africano e de muitos países do Médio Oriente e do sul da Ásia: do Líbano à Indonésia. Uns vieram em busca do ouro e da fortuna, outros para trabalhar nas minas, a fazer a fortuna alheia. Já se esgotou o ouro da região de Joanesburgo - as minas hoje são parques temáticos para turistas - mas novos imigrantes continuam a vir para ficar nesta metrópole que ainda exerce grande poder de atracção.
Política sincronizada
Tal como as duas praças orientais de Madrid e Joanesburgo; Lisboa e Maputo também têm duas avenidas com o mesmo nome: Avenida 24 de Julho. Os nomes remetem para o mesmo dia de anos diferentes. O 24 de Julho de 1833 em Lisboa, celebra a entrada na cidade das tropas liberais sob o comando do Duque da Terceira. Em Maputo, o 24 de Julho, até à independência do país, assinalava que nesse dia de 1875 o Presidente francês, Patrice Mac-Mahon, moderando uma contenda entre Portugal e Inglaterra, sentenciou a favor de Portugal na disputa do território do sul de Moçambique que a Império Inglês cobiçava. 24 de Julho, deu o nome à avenida e veio a tornar-se também no feriado municipal, dia da cidade de Lourenço Marques, nome de Maputo no tempo colonial.
Pela mão de um outro Presidente, o primeiro da República de Moçambique, Samora Moisés Machel, um mês depois da independência do país, publicou-se a Lei das Nacionalizações: no dia 24 de Julho de 1975. Pontaria certeira, um novo marco histórico, precisamente cem anos depois da decisão de Mac-Mahon em 1875.
Após a independência, muitos nomes de cidades moçambicanas e quase todos os nomes das ruas, praças e avenidas das localidades foram alterados. Mas com este sincronismo político irrepreensível entre Machel e Mac-Mahon, manteve-se o nome da Avenida 24 de Julho em Maputo, só mudou a efeméride. Menos umas placas para trocar, e seriam bastantes, pois a avenida é muito longa, sai do centro da cidade alta e só termina na rotunda que já nos encaminha à auto-estrada para Joanesburgo.
Rumar a Madrid e Joanesburgo é ir para a cidade grande e perigosa; onde nos podemos perder, ou encontrar a fama e o glamour, longe do mar, das praias e da boa vida, com clima continental e seco. Cidades mais modernas, cheias de novidades, modernices e perdições, grandes centros de produção cultural e com voos directos para meio mundo.
Rumar a Maputo e Lisboa é ir para o lado mais relaxado dos continentes: menos organização e regras, um ar mais limpo pelos ventos dos oceanos, cidades mais pequenas, com menos milhões de habitantes e de cifrões, mas com palmeiras na marginal à beira Índico ou miradouros para esticar a vista a ver o Tejo. Temperatura mais amena durante todo o ano, metrópoles ma non troppo que prezam com sabedoria o dolce far niente. E o mar ali ao lado, praias, marisco e peixe fresco.
Para um lado, para o outro, para o outro ou para o outro, vale bem a pena fazer os seiscentos quilómetros.

Artigo de Nuno Milagre, originalmente publicado na revista Fugas do jornal Público em Setembro de 2008, e agora no portal Buala.org.

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.