quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Irlanda: Sob o império do capital financeiro

A principal preocupação do BCE é a solvência dos bancos alemães e franceses que tanto se expuseram na Irlanda e noutros países. E o plano de resgate está delineado para manter os seus estados financeiros em boa situação.
“Luta por cada emprego. Resiste a cada corte” Cartaz irlandês de “Put People Before Profit”(“Põe o povo à frente dos lucros”) - Foto de infomatique/Flickr
“Luta por cada emprego. Resiste a cada corte” Cartaz irlandês de “Put People Before Profit”(“Põe o povo à frente dos lucros”) - Foto de infomatique/Flickr
Os meios de comunicação estão repletos de referências sobre o resgate da economia irlandesa. Mas é mais correcto falar de um salvamento para os bancos do Reino Unido, França e Alemanha. Efectivamente, as duras condições que se impõem ao povo irlandês correspondem a um tributo oneroso. Esse povo pagará, mas isso não o converte em sujeito do resgate.
Como evoluiu a crise na Irlanda? Nos anos noventa, a expansão da bolha de bens imobiliários foi espectacular. Boa parte do crescimento do PIB entre 1994 e 2007 deve-se ao desenvolvimento de projectos imobiliários. O comportamento do sistema bancário foi totalmente irresponsável: recorreu-se a empréstimos de três meses para financiar projectos com vencimentos de dois ou três anos. A palavra “prudência” foi expulsa do léxico dos banqueiros.
Em Setembro de 2008, a bomba explodiu. No ano seguinte, o governo decidiu salvar os bancos e estabeleceu a NAMA ou Agência Nacional de Administração de Activos, entidade especial para comprar os activos tóxicos dos bancos cobertos com o seguro de depósitos. O valor contabilizado desses activos ascendia a 88 mil milhões de euros; o seu valor de mercado era de 47 mil milhões de euros. O défice público subiu às nuvens (32 por cento do PIB) e a vulnerabilidade externa aumentou abruptamente.
Ainda em Setembro, a Irlanda teria podido endireitar o barco de outra maneira, menos onerosa e injusta. Nesse mês venceram títulos dos bancos irlandeses de 55 mil milhões de euros. Esses títulos eram detidos por bancos ingleses, alemães e franceses. O governo cometeu um grande erro: pediu ajuda e pôde pagar com dinheiro emprestado do Banco Central Europeu (BCE). Vale a pena determo-nos para ver os detalhes.
Até esse momento, Dublin tinha uma boa razão legal para repudiar todos os seus compromissos legais com os bancos. A razão é que vários deles violaram a legislação vigente ao disfarçar informação sobre o seu estado de solvência. Isso libertava o governo e ter-lhe-ia permitido executar um resgate muito menos custoso e injusto. Podia ter ordenado a intervenção dos bancos e que o saldo remanescente dos seus passivos se convertesse em acções dos bancos, o que lhe teria permitido sair menos dolorido e mais rapidamente da crise bancária. Mas o pagamento dos 55 mil milhões de euros com ajuda do BCE tornou impossível seguir a opção de partilhar os custos com os detentores de títulos.
Há dois meses, a Irlanda estava na encruzilhada. Ou adoptava a decisão de solucionar a crise bancária de uma forma mais sensata ou pedia ajuda para retornar até ao último centavo aos detentores de títulos. E escolheu a segunda opção, virando as costas aos seus compromissos com o povo irlandês e confirmando a sua entrega aos bancos. O BCE outorgou-lhe essa ajuda sabendo que a Irlanda regressaria de joelhos para aceitar um novo resgate, o que hoje ficou confirmado. Dublin pôde ter nacionalizado todos os bancos, mas parece que a banca internacional se lhe adiantou e comprou primeiro o governo.
A principal preocupação do BCE é a solvência dos bancos alemães e franceses que tanto se expuseram na Irlanda e noutros países. E o plano de resgate está delineado para manter os seus estados financeiros em boa situação. Os bancos e seus dirigentes ficarão satisfeitos com o resgate, enquanto o governo em Dublin terá todo o agradecimento dos seus amos em Londres, Paris e Berlim.
No entanto, a carga fiscal deste tipo de compromissos ultrapassa tudo. E, por outro lado, os mercados financeiros colocaram a dívida soberana irlandesa no mesmo nível de risco que os títulos lixo da Ucrânia, Paquistão, Grécia e Argentina.
O plano do BCE-FMI consiste em reduzir o défice fiscal para 3 por cento do PIB, impondo cortes no gasto social, reduções dos salários mínimos e do seguro de desemprego. Mas os impostos às empresas continuarão no nível mais baixo da União Europeia (12,5 por cento) e as transacções financeiras mantêm-se sem encargos. Será difícil reduzir o défice desse modo, e a estagnação reduzirá ainda mais a colecta. A receita de “baixar impostos para crescer” ficou mais desprestigiada que nunca.
A Irlanda deixou de ser uma república independente e transformou-se no protectorado do BCE e do FMI. O governo da Irlanda defraudou o seu povo. Enganou-o primeiro fazendo-o acreditar que o seu modelo económico era um sucesso. Estendeu-lhe uma armadilha depois com o resgate dos bancos locais e europeus. Submeteu-se ao diktat do BCE, o qual determinou o formato e conteúdo das negociações para o “resgate”. Hoje, os poderosos foram resgatados. Os demais podem afundar-se e trabalhar para pagar o tributo.
Em Ulisses, a novela de James Joyce, Stephen Dedalus queixa-se de que a Irlanda era o escravo de dois amos, o império britânico e a santa Igreja apostólica e romana. Hoje poderia queixar-se do jugo que lhe é imposto pelos pontífices do capital financeiro e seus agentes no Banco Central Europeu.
Artigo publicado em La Jornadaa ; 24 de Novembro de 2010, traduzido por Informação Alternativa

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.