quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A guerra do PEC às políticas sociais públicas

Estas medidas significam uma espiral de baixa dos salários. Significam uma pressão brutal para baixar os salários no nosso país, que como sabemos já são dos mais baixos.
O Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) continua a marcar as nossas vidas. O PEC é a matriz do próximo Orçamento de Estado (OE). Estão lá plasmadas as grandes opções do Governo, que mereceram o apoio directo e negociado do PSD. É  a posição liberal face à crise financeira, económica e social. Por isso recebeu os elogios ao ser depositado em Bruxelas. É um manual de como reduzir o défice, de forma repentina (até 2013) e de forma drástica (de 9,3% para 2% do PIB).
E faz uma opção – ataca as políticas sociais públicas.
Este Plano incluiu uma medida “inovadora”, que traduz um conceito perverso nas políticas sociais públicas –  um “tecto” para as despesas sociais do Estado. A partir de agora o Estado só gasta X ou Y com os apoios sociais. Estes não dependem da realidade concreta, das necessidades objectivas, das metas do combate à pobreza e à exclusão, dependem da verba global que o Estado tem para “gastar” nos apoios sociais.
Esta medida espantou e indignou muita gente, incluindo sectores do Partido Socialista que viram aqui, e muito bem, um retrocesso no papel do Estado Social e das políticas sociais. Não é só o intensificar da redução dos apoios é a mudança de paradigma. As prestações sociais deixarão de ser prestações de direito e passarão a funcionar para atender às situações mais graves. As pessoas têm “direito” ao RSI, mas este está dependente de um “tecto” global, por isso esse direito poderá ser posto em causa – basta o Estado alegar que não tem mais verba. Daqui até ao retorno à política assistencialista pura e dura vai um passo. O “direito” é substituído pelo critério arbitrário de quem decide que apoios “merecem” uma pessoa ou uma família.
É isto que se prepara. Um retrocesso civilizacional nas medidas de combate à pobreza. É o regresso às medidas assistencialistas tão queridas da Direita. É o retorno às concepções de Bagão Félix de que os pobres são pobres porque não trabalharam para não o ser, que os pobres não sabem gerir o dinheiro, daí necessitarem do apoio em “géneros” para não gastarem o dinheiro em “cerveja” e em “doces”. É a crueldade de uma classe abastada que olha para os de baixo com desprezo e como os culpados pela sua própria situação. E não hesita em propagar preconceitos, como aqueles a que temos assistido em relação aos beneficiários do RSI.
Mas desenganemo-nos, as medidas do PEC não são dirigidas apenas aos mais pobres dos pobres. Estas medidas vão atingir a maioria das famílias portuguesas. Não são as famílias que têm mais de 100 mil euros em património (coisa que também ainda não se entendeu muito bem…), são todas as famílias que recebem algum tipo de apoios sociais – abono de família, apoio social escolar, bolsas de estudo, comparticipação nos medicamentos, pensões de alimentos pagas pelo Estado, apoios na habitação, apoio judiciário, etc., etc..
Vejamos: a primeira medida do Governo foi revogar as medidas extraordinárias de apoio aos desempregados e desempregadas que ele próprio decidiu no âmbito do combate à crise – prorrogação por mais seis meses do subsídio social de desemprego inicial e subsequente; redução do prazo de garantia (número de dias de descontos para a segurança social) para se ter acesso ao subsídio de desemprego que era de 365 dias e agora ficou nos 450 dias e a eliminação da majoração de 10% do subsídio de desemprego para os desempregados com dependentes a seu cargo.
Por outras palavras: a crise ainda não acabou, o desemprego continua a subir, aumenta o número de famílias atingidas e o Governo revoga as tímidas medidas extraordinárias de apoio, cujo objectivo era vigorarem durante a crise.
Mas o Governo foi ainda mais longe e alterou a Lei do subsídio de desemprego com consequências devastadoras no valor do salário.
As normas agora em vigor determinam que o valor máximo do subsídio de desemprego passa a ser 75% do seu salário líquido, até agora era 65% do salário ilíquido, ou seja antes dos descontos para a Segurança Social (11%) e da retenção para o IRS. A consequência é que o valor do subsídio de desemprego diminui.
Mas mais, com as novas normas o desempregado(a) é obrigado(a) a aceitar um emprego cujo salário seja igual ou superior em 10% ao valor do subsídio durante os primeiros 12 meses. Após essa data é obrigado a aceitar pelo valor do subsídio, ou seja um salário que é 75% do valor líquido (antes dos descontos, repito) que recebia. Consequência: quando retorna ao mercado de trabalho vai receber um salário mais baixo.
Estas medidas significam uma espiral de baixa dos salários. Significam uma pressão brutal para baixar os salários no nosso país, que como sabemos já são dos mais baixos.
A juntar a estas medidas entrou também em vigor no dia 1 de Agosto um Decreto-Lei que altera as condições de recurso às prestações sociais. Há muito que os apoios sociais deixaram de ser universais. A ideia base do Estado Social é proporcionar um conjunto de apoios sociais universais e os cidadãos e cidadãs retribuíam ao Estado em impostos. Quem mais ganha, mais paga de impostos. Mas há  muito que não funciona assim e existe uma condição de recursos, que tem a ver com os rendimentos e com a composição do agregado familiar. Vem agora o Governo também alterar estes dois conceitos. Passam a ser contabilizados património mobiliário e imobiliário, independentemente da sua condição, passam a contar os rendimentos de familiares e o cálculo da capitação é diferente.
Por exemplo: um casal de idosos que tenha uma pequena propriedade na sua terra natal, que não dá  lucro e que não consegue vender, pode ver a sua prestação alterada porque passa a ser considerado um valor por ter essa “propriedade”. Uma mulher, que tenha um filho, que esteja desempregada e que por esse motivo volte para casa dos pais temporariamente, passa a ter que incluir os rendimentos dos pais para ter acesso ao abono de família e ao apoio social escolar.
Até agora o cálculo da capitação era feito pela divisão do número de pessoas, adultos e crianças, que faziam parte do agregado familiar. Com as novas normas passa a ser da seguinte forma: tomemos o exemplo de uma família de 4 pessoas, dois adultos e duas crianças – o primeiro adulto vale 1, o segundo já vale 0,7 e cada criança 0,5. As consequências estão  à vista.
A somar a tudo isto é de sublinhar mais dois aspectos. O primeiro tem a ver com a forma como vão ser aplicadas estas medidas – de forma automática. Não serão avaliados os casos. Primeiro corta-se e só depois poderá haver lugar a uma reavaliação. Falamos de prestações pecuniárias que fazem a diferença para ter uma refeição ou não ter, em muitas famílias. Segundo aspecto, todos as pessoas que beneficiem de algum tipo de apoio social, vão ter de autorizar o levantamento do segredo fiscal e bancário, para que o Fisco e a Segurança Social possam fiscalizar tudo e evitar as fraudes. É caso para dizer que passaremos a viver num país onde só os ricos usufruem do segredo bancário.
Conclusão: as medidas do PEC vão ter efeitos muito negativos num grande número de famílias, efeitos directos pois as prestações sociais diminuem e vão exercer uma pressão, também ela directa, no sentido de baixar o valor do salário. Não se protege o desempregado(a), por um lado, e condiciona-se a sua reentrada no mercado de trabalho com um salário muito mais baixo.
Mas estas medidas, ultra-liberais, vão também ter consequências no nível da consciência de desempregados e trabalhadores. O “medo social” que hoje já existe e que se traduz em dificuldades em reagir perante os ataques aos direitos de trabalhadores e trabalhadoras pode aumentar com a pressão directa que é exercida sobre as condições de vida. Porque a vida vai piorar para muita gente.
O esclarecimento dos impactos das medidas do PEC continua a ser uma necessidade urgente, assim como a comparação com situações de autêntica “ganância legal” como é o caso dos prémios chorudos aos gestores. Já se fala de mais um prémio à administração da PT e sobretudo a Zeinal Bava, devido ao seu desempenho no negócio com a Telefónica. Insistir nesta diferenciação, que tem um cunho de classe bem marcado, entre o tratamento aos gestores de topo e o tratamento aos desempregados ajuda a clarificar posições e a tornar credível aos olhos das pessoas que o caminho que Governo segue não é inevitável. Não servem as juras à defesa do Estado Social que o Partido Socialista agora vem fazer a propósito da revisão da Constituição proposta pelo PSD. O Estado Social defende-se todos os dias, nas opções políticas que vão sendo tomadas, no que se decide taxar e no que se decide isentar, no apoio que é efectivo ou no apoio que é mitigado. Este Governo já mostrou de que lado está e até onde quer ir na defesa do Estado Social. Compete agora à esquerda, chamando a si todos os que defendem o Estado Social criar opinião, movimento e resistência para travar este processo.
A campanha para a presidência que se avizinha é um momento privilegiado para debater as políticas públicas. Manuel Alegre tem defendido com clareza os serviços públicos e as políticas públicas. O confronto com Cavaco Silva sobre estas matérias será clarificador e poderá contribuir para juntar à esquerda uma forte oposição à destruição do Estado Social.

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.