quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Incêndios em áreas protegidas: uma tragédia anunciada

Até ao dia 13 de Agosto deste ano já arderam perto de 19 mil hectares de floresta em áreas protegidas, o equivalente aos 20 mil hectares ardidos no ano trágico de 2005.
Se as condições climatéricas continuarem favoráveis aos incêndios, poderemos facilmente atingir os valores do pior ano de sempre, o ano de 2003, em que arderam 28 mil hectares, cerca de ¼ do total de área protegida queimada deste 1992.
Perante este cenário, e de mais uma vez o único Parque Nacional do país, o da Peneda-Gêres, estar a ser fustigado pelas chamas, a Ministra do Ambiente acha que "as coisas estão a correr bem". Condiz com o Governo a que pertence, que pinta o país cor-de-rosa mesmo quando está em cor de fogo.
E diz a Ministra que até tem existido um reforço do orçamento do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), quando sabemos que ao longo dos orçamentos de estado dos governos de Sócrates se têm vindo a agravar as debilidades de financiamento e a escassez de meios e pessoal deste organismo. Com cortes de investimento superiores a 50% nas áreas protegidas e uma redução de quase 20% para o ICNB em 2007, desde então nunca se recuperaram os valores anteriores já de si baixos. Ainda em 2010 o ICNB assistiu a um corte de mais 4% em relação ao orçamentado no ano anterior.
A escassez de meio e pessoal para a conservação da natureza é evidente quando olhamos para a situação dos vigilantes, cuja missão de prevenção, fiscalização e educação ambiental é essencial. Veja-se a situação do Parque Natural do Douro Internacional (85 mil ha) sem um único vigilante da natureza, do Tejo Internacional (26 mil ha) com apenas um vigilante, do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (75 mil ha) com dois, da Arrábida (11 mil ha) com quatro. Mas mesmo na Peneda Gerês (70 mil ha), onde existem 23 vigilantes, a falta de verbas ditou que estes estivessem, até recentemente, sem viaturas para trabalhar durante mais de um ano. Mesmo as saídas de trabalho que eram feitas em transportes públicos deixaram de acontecer por falta de dinheiro. (http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=1635758)
Tem sido esta política de desprezo pelas áreas protegidas e esvaziamento do ICNB em termos de recursos humanos, meios e capacidade financeira que coloca em causa a salvaguarda do património natural do país e aumenta o risco e as consequências dos incêndios florestais. O desordenamento dos espaços naturais, a construção dispersa e sem critério, as debilidades na fiscalização, a falta de limpeza dos matos e dos caminhos rurais são condições para que a tragédia se repita ao longo dos anos.
Este é um caminho que precisa de ser invertido. A conservação da natureza e o ICNB precisam de políticas públicas que lhes confiram a dignidade merecida para protegermos os bens públicos.
Veja-se brevemente o que tem sido este caminho sob a governação Sócrates.
Em 2007 decidiu-se fundir as áreas protegidas em 5 mega-agrupamentos com a criação de novos cargos de direcção intermédia e a redução substancial do pessoal técnico e administrativo, como é o caso dos vigilantes da natureza. O pretexto de uma maior eficiência de gestão apenas serviu para reduzir custos à conta de maiores debilidades de intervenção no terreno e contacto com as populações das áreas protegidas.
Também no mesmo ano, decidiu o Ministério reorganizar o ICNB, conferindo-lhe a natureza de instituto público e, consequentemente, a obrigatoriedade de ter de assegurar 2/3 de receitas próprias relativamente às despesas totais.
Esta política de auto-financiamento consolida-se em 2008 com a aprovação do regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade. Aqui opta-se claramente pela empresarialização da gestão das áreas protegidas, entregando-as à iniciativa privada através de concessões ou parcerias público-privadas e cobrando taxas pelo acesso e visitação do património natural público, mas também impondo taxas aos residentes e a quem aí desenvolve actividades económicas locais, como a pequena agricultura ou o turismo da natureza sustentável.
Ora, atribuir a missão de gestão das áreas protegidas a empresas significa que a gestão destas zonas far-se-á segundo critérios de rentabilidade financeira e não de serviço público, ou significa o pagamento de rendas públicas a privados que vão integrar necessariamente estes critérios, levando a maior despesa para o Estado no médio-longo prazo. Os bens públicos devem ter uma gestão pública e não podem ser olhados como um negócio.
Cobrar taxas pelo acesso às áreas protegidas significa restringir o acesso a bens públicos por meio de critérios discriminatórios de base económica e não de salvaguarda ambiental. E taxar os residentes e as actividades económicas locais, as populações que vivem e têm a sua base de sustento nas áreas protegidas, é inaceitável. São estas populações e actividades que mantêm estas zonas com vida, sendo, frequentemente, fundamentais para a própria manutenção da paisagem, conservação de habitats e espécies, limpeza de biomassa e prevenção de incêndios. Também estas têm sido o principal alvo das restrições impostas pelos vários planos de ordenamento das áreas protegidas, ao mesmo tempo que se permite a construção de casas de férias luxuosas, de grandes resorts turísticos, a agricultura intensiva ou a actividade de pedreiras e cimenteiras.
Esta tem sido a lógica a imperar na política da conservação da natureza e biodiversidade nos últimos anos. Debilitar o Estado na prestação do serviço público, dificultar a visitação, penalizar os residentes e pequenas actividades locais, ao mesmo tempo que se entregam as melhores zonas do país do ponto de vista ambiental aos interesses dos grupos económicos e do negócio. Assim, não há salvaguarda do património natural e dos bens públicos, nem se colocam travões às ameaças ambientais, como é o caso dos incêndios florestais.
Rita Calvário

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.