domingo, 4 de julho de 2010

Cortes na Cultura: “Não são mais do que políticas do desespero”

O Esquerda.net conversou com Sofia Neuparth, investigadora/criadora na área da dança (no CEM), sobre os cortes do governo no financiamento da cultura e sobre o estado da arte “que continua a não ser vista como forma de conhecimento e de trabalho”.
Sofia Neuparth: "Choca-me que alguém tenha um cargo político e não tenha a mínima percepção sobre o que está a fazer"
Sofia Neuparth: "Choca-me que alguém tenha um cargo político e não tenha a mínima percepção sobre o que está a fazer"
Os profissionais ligados ao sector do cinema já reuniram e assumiram uma posição de protesto que se tornou pública e que, de certa forma, provocou o recuo por parte do Ministério da Cultura em relação à retroactividade dos 10% de corte orçamental.
No entanto, para os restantes sectores culturais, dança, teatro, etc., tudo se mantém no que diz respeito ao estipulado no Decreto-Lei 72-A/210 já em vigor e que reduz os orçamentos e financiamento das actividades artísticas e culturais.
Tens conhecimento de como este decreto de lei irá afectar as outras outras da cultura?

Eu gostaria de falar em nome das artes, em geral, pois se há algo que lamento imenso é o facto de quando há cortes as pessoas só falam do que lhes foi cortado a elas. Acho que todos os artistas deveriam falar sobre o que está a acontecer, globalmente. Falo enquanto artista mas sobretudo enquanto cidadã, porque o que está acontecer resulta de uma grande falta de visão sobre a importância das artes e da cultura para o desenvolvimento do país. Choca-me que alguém tenha um cargo político e não tenha a mínima percepção sobre o que está a fazer em termos amplos e globais. Parece-me que tudo se baseia nessa lógica do agora, dos mandatos a quatro anos, sem nenhuma perspectiva do impacto das decisões, a médio e longo prazo.
Também se baseia tudo na lógica da popularidade, numa inexistente reflexão geral e eu acho que é preciso fazer isso. Uma reflexão que deverá ser feita não só pelos artistas, como também pelos ditos políticos, os economistas. Sinto mesmo uma grande falta de respeito neste tipo de atitudes pois não são mais do que “políticas do desespero”. Quando a perspectiva é esta só poderemos ficar desesperados pois não existem vias de reflexão, vias para a vida, apenas para a sobrevida e a matar todas a gente à volta! É tudo caótico e redundante. A situação da cultura é sintomática.
A arte continua a não ser perspectivada como uma forma de conhecimento ou como trabalho. Continuamos a achar, e muitas vezes por culpa de muitos artistas também, que a arte é para entreter, é uma coisa digestiva – as artes performativas, por exemplo, são algo divertido para ver depois do jantar... - e, assim, tudo o que seja reflexão, construção, criação, no sentido de criar humanidade, perde-se por aí. Andamos muito ocupados a lutar por bolos, tal como Maria Antonieta  - «não temos pão mas dêem-me bolos» - isto é absurdo.
Isto nota-se também no recuo acentuado do investimento na área da investigação, não só na artística como nas ciências sociais e humanas. Porque os cortes são sempre feitos sobre aquilo que não entra na média popularidade do para já, porque só interessa fazer “para já”. Tem de ser o máximo de vida mas em quatro anos...
Não se considerando a arte sequer como uma forma de conhecimento ou como trabalho então corta-se aí, no supérfluo que é arte. Esquecem-se que não existem ideias se não houver criação, nem existirá a política se não houver criação. Eu diria que nem existirá sociedade, se não houver criação.
Isto tudo é um jogo mas neste jogo eu não compactuo. Por exemplo, porque é que o CEM tem pagar pela ocupação de espaço público quando faz coisas na rua, de acesso livre, feitas também pelas pessoas que vivem na rua, enquanto os megas festivais que cobram bilhete não pagam pela ocupação do espaço público?
Os recuos da ministra inscrevem-se neste jogo do “toma lá, dá cá”, “ficas tu, não, fico eu”. Sempre que a ministra se sentir mais aflita, parece-me, irá remediar pequenos impactos mas tudo permanece na mesma lógica.
E ainda assim eu pergunto como poderão as pessoas ter dinheiro para pagar mais impostos, como é que as pessoas vivem sem dignidade? Onde estão esses outros 10% de outras coisas? Eu luto não só pelo CEM mas pela dignidade da vida que incluí a arte. Quem somos nós, vis mortais, para achar que devemos ou não incluir a arte na nossas vidas se ela é até mais antiga do que a política e a economia...
Na minha opinião, a investigação artística não serve para criar espectáculos para divertir as pessoas. É antes um levantamento de formas de conhecimento que são os próprios alicerces da humanidade. Corta-se no quê então?
Em relação a todas as estruturas artísticas é absolutamente absurdo fazerem cortes em financiamento que já está gasto, isto falando, no tal “agora”. Porque isto inscreve-se na lógica do “pronto, não se fazem x ballets não sei onde”. Como se o que se altera seja a escolha de alguém que já não vai ao teatro e fica em casa. Como se as peças de teatro, de dança, a exposições de artes plásticas não tivessem uma trama de pessoas, de carne e osso, a criar a possibilidade de haver aquela peça. Estamos também a falar de salários, de condições de vida, de trabalhadores.

As consequências destes cortes reflectem-se, aparentemente, apenas no número de espectáculos, mas também na sua qualidade e diversidade. E nas vidas dos profissionais intermitentes?
Bom, os artistas independentes ainda nem sequer têm uma resposta da Direcção Geral das Artes sobre o concurso sobre este ano. Como vai ser?
Tudo isto continua a ser reflexo da continuidade da não consideração sobre a especificidade do “trabalho” que a arte é. É evidente que quando há estes cortes, quando continua a não ser feita uma reflexão de fundo sobre a adequação de determinadas legislações em relação à especificidade dos diversos sectores das áreas artísticas e do espectáculo (incluindo todos, obviamente, pois não há distinção entre o coreógrafo e o técnico de luz), todos aqueles que são os agentes que possibilitam a arte não são considerados e não se equacionam as consequências neste nível.
Nesta lógica do “agora” o que se está a criar é uma razia, uma completa desidratação de todo o tecido artístico que terá consequências profundas no desenvolvimento do país.

Expectativas para o futuro? Como ficará a Cultura em Portugal?
Na REDE, e entre todos os artistas, falamos há tanto tempo sobre a questão de conseguir que 1 por cento do PIB seja para a cultura... UM por cento?! Continuamos a tentar configurar se a arte cabe ou não cabe...  É a mesma lógica dos tais festivais que não pagam pela ocupação do espaço público, trata-se de um jogo de interesses onde o lucro monetário tem um lugar preponderante. Por exemplo, o CEM terá agora, em Julho, o Festival Pedras d'Água onde todo o programa é de entrada livre. Não há impacto económico a medir não se cobrando bilhete, como é evidente.  
Além disso, a televisão parece sempre melhor porque não ajuda a pensar, só entretém. Já a investigação artística é perigosíssima. Imaginem se as pessoas começam a “querer” viver? Que chatice... é aterrador.

Haverá uma reunião que juntará profissionais de todos os sectores das artes na próxima 2.ªf. O que poderá sair desta reunião?
Eu estarei lá, claro. Ainda não está nada concertado. Haverá uma resposta que será certamente aguçada. Eu até tenho pena que infelizmente não venha a ser uma resposta mais de fundo. Mas claro, se a luta é sobre “o agora”, as respostas têm de ser sobre “o agora”. E é evidente que toda a classe artística tem imensa força, se quisermos ver isto de um certo lado, porque somos mediáticos, etc. Poderemos sempre puxar pelos nossos galões.
É evidente que toda a reacção que houver será apoiada pela reflexão que já existe, da nossa parte. Os artistas também estão a par das actuais condições, das contingências. Exemplo disso é a intervenção dos Intermitentes, da própria REDE. São estruturas que reúnem com regularidade e que fazem o que muitos políticos nunca fizeram que é pensar em coisas que não sejam só reagir.
Claro que as pessoas se juntam mais quando há estados de pânico, mas julgo que mobilização será bastante forte. Digo isto tendo em conta a minha experiência, uma vez que já estou neste trabalho há muito tempo e também dentro da reflexão sobre política cultural. Eu faço parte dos grupos de fundo, haja ou não pânico, e eu não sou a única, felizmente. Por isso haverá de certeza uma grande mobilização.



Sofia Neuparth é investigadora na área da dança, professora de corpo, criadora e dirige o C-E-M – Centro Em Movimento. É membro fundador da APPD e da REDE – Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea e colabora na Plataforma dos Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual.
Entrevista por Sofia Roque.
    
    
 

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.