domingo, 18 de julho de 2010

Porque sou vegetariano

Quero hoje, num registo mais pessoal que o costume, deixar uma resposta a esta pergunta.
Há cerca de seis anos, tornei-me vegetariano. Esta opção de vida ainda é pouco comum em Portugal, pelo que é corrente pessoas conhecidas perguntarem-me o porquê de ter tomado a decisão de deixar de consumir carne, peixe e produtos animais. Quero hoje, num registo mais pessoal que o costume, deixar uma resposta a esta pergunta.
Permitam-me, antes de começar, deixar um aviso importante. Não é minha intenção hostilizar quem não é vegetariano. De facto, conheço muitos/as brilhantes revolucionários/as que obtém as forças de que necessitam na sua luta por um mundo melhor comendo produtos de origem animal. Entendam, portanto, o argumento que se segue não como uma acusação contra os/as "omnívoros" mas antes como uma justificação para um ponto algo ousado que pretendo fazer: o de que um mundo vegetariano será um mundo melhor.
A primeira razão para ter decidido não comprar mais carne ou peixe foi a preocupação com os direitos dos animais. Se me posso alimentar e obter a energia de que necessito sem consumir produtos que envolvem sofrimento de seres vivos, então não vejo qualquer razão para não o fazer1. Ou seja, quando menciono "direitos dos animais" estou na realidade a falar da nossa obrigação moral de não causar sofrimento desnecessário a seres sencientes2.
A partir de certa altura na minha vida, apercebi-me que não podia justificar a incoerência entre esta posição ética que subscrevo e os meus hábitos alimentares. Fui então gradualmente deixando de comer carne, peixe, ovos e lacticínios. Deixei também de consumir cosméticos e vestuário que use produtos de origem animal, e assim me tornei um vegano.
Ao longo dos tempos, tive muitas surpresas, a maioria das quais positivas. Foi muito estranho descobrir que a vasta maioria dos produtos alimentares que encontramos à venda contém produtos de origem animal, embora não seja difícil encontrar produtos "vegan", inclusive entre as marcas mais baratas. Foi também estranho, embora positivo, descobrir formas de cozinhar os vegetais que antes não comia de acordo com os meus gostos culinários, numa constante jornada gastronómica. Mas a maior surpresa veio quando decidi que não ia deixar de lado a minha dieta nem quando como fora de casa e descobri que até nos locais mais remotos, em tascas e restaurantes típicos, consigo convencer o/a cozinheiro/a a fazer-me um excelente prato vegetariano, mesmo sem estar no menu.
A segunda razão para ter deixado de lado do meu prato qualquer produto que não seja de origem vegetal foi a preocupação com a crise ecológica que vivemos. A pecuária está hoje entre as principais causas dos principais problemas ecológicos (erosão dos solos, alterações climáticas, poluição da água, perda de biodiversidade e desflorestação), um facto já reconhecido pela comunidade científica e pela ONU3. Isto não significa, obviamente, que o impacto ecológico da produção de vegetais seja desprezível, particularmente quando provêm da agricultura intensiva. Mas a diferença a nível da utilização de recursos (como água, terra ou combustíveis fósseis) e das emissões de poluentes entre a produção de uma caloria de proteína de origem animal ou de origem vegetal é tão significativa que a superação da crise ecológica exige, como condição necessária, uma redução considerável no consumo de carne, ovos e leite.
O mesmo se pode dizer do consumo de peixe. Não é novidade para ninguém, creio, que o peixe está a desaparecer rapidamente dos oceanos, arrastado pelas enormes redes dos navios-fábrica de grandes empresas (conjuntamente com golfinhos, tartarugas e outros animais). Um estudo publicado na Science estimava que em 2048 todas as espécies de peixe e animais marítimos consumidos por humanos estarão em risco de colapso. A solução para este problema não é tão simples, portanto, como consumir as espécies em menor risco. Por outro lado, a aquacultura não representa uma alternativa viável à pesca, já que a produção de um quilo de peixe em aquacultura implica o uso de dois a vinte quilos de peixe capturado no mar para rações.
Resumindo, preocupações éticas com o futuro do planeta que habitamos e com os animais que partilham o planeta connosco levaram a que decidisse não dar mais do meu dinheiro a indústrias que lucram com o uso de animais. Mas não encaro esta opção meramente como um acto individual. Como qualquer acto político, apenas faz sentido quando enquadrado numa perspectiva mais abrangente de transformação social. Se esta modesta contribuição para o debate levar a que alguns/algumas camaradas de luta se juntem a mim na defesa de um mundo livre de sofrimento, ganhei o dia.
Che Guevara, no seu estilo único, afirmou em tempos: "Deixe-me dizer-lhe, correndo o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor...". Apetece-me responder que, de facto, Che era tudo menos ridículo por pensar assim. Mas acrescentaria que este amor deve ser estendido não só a todos os humanos mas também aos animais não-humanos. Deixem-me dizer, correndo o risco de parecer ridículo, que o amor é o único recurso inesgotável do mundo.
1 Uma pequena explicação científica: os estudos realizados por nutricionistas consideram, unanimemente, que os produtos de origem animal são um componente facultativo de uma dieta equilibrada.
2 Outra pequena explicação científica: um ser senciente é um animal capaz de sentir sofrimento e prazer. Todos os mamíferos são sencientes, assim como os peixes, os polvos e os caranguejos. Os insectos, por exemplo, não são sencientes, e as plantas não sentem qualquer tipo de dor.
3 Ver, em especial, o relatório da FAO "Livestock's long shadow" [ftp://ftp.fao.org/docrep/fao/010/a0701e/a0701e00.pdf]

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.