Este primeiro ano de governo é marcado pelas escolhas e favorecimentos aos poderosos e conservadores, em particular os sectores financeiros e da construção civil. Esta escolha, osmose de interesses e protecção de privilégios, garantiu a estabilidade do sistema e da usura, a presença inquestionável nas forças da NATO e nos cenários de guerra, a crescente imposição de sacrifícios à população.
O recuo inicial e parcial com os professores e as taxas moderadoras era necessário para ganhar algum espaço de manobra – mas o governo nunca chegou a ter um estado de graça. O governo começou por dramatizar ao extremo a divergência com a sua política, era o tempo do fantasma das coligações negativas e o início das guerras fictícias com o PSD para esconder a substância.
A substância foi a aprovação sucessiva de leis e orçamentos, incluindo o rectificativo que até teve a abstenção do PCP [que também se absteve no projecto-lei do BE de cativação das mais valias urbanísticas], o célere esquecer das críticas aos especuladores, offshores, e da defesa da regulação financeira. Submete-se o Estado a um apoio ilimitado à finança, sucedem-se sucessivos PECs, dispara o desemprego e a dívida, continuam as privatizações e a ausência do combate à corrupção é notória.
A substância foi a subserviência à demanda especulativa internacional, ao Banco Central Europeu, aos critérios do PEC, à arrogância da dupla Merkel-Sarkozy que começou na economia e prosseguiu na indecorosa abstenção à condenação das expulsões de ciganos em França proposta na AR pelo BE. Qualquer semelhança disto com social-democracia é pura fantasia!
A convergência política encontrou-a sempre, estrategicamente, com Cavaco Silva, com o PSD e com o CDS. O rompimento das conversações para o orçamento de 2010 não ofusca este caminho; foi sempre à direita que o PS procurou alianças. E sempre em vassalagem aos mercados agiotas e em nome da estabilidade e do sentido de Estado. É essa convergência sistémica, conjugada com o medo social e a opressão da precariedade e do desemprego, que lhe ampara as duras medidas económicas e sociais. Acresce uma das maiores campanhas de manipulação ideológica da opinião pública de que há memória.
Este primeiro ano de governo Sócrates, em minoria mas governando como monarca absolutista, é mais uma prova cabal da sua transformação genética: o PS atirou o S para o caixote do lixo e ficou apenas o P das elites conservadoras responsáveis pelas políticas do atraso e da pobreza. É a escolha de um lado, é a escolha de um modelo.
O primeiro ano do XVIII governo é a natural continuidade do XVII. Este ano marcou bem os valores identitários e os princípios ideológicos do PS e não deixa dúvidas sobre uma ilusória dicotomia entre um PS com ou sem Sócrates. A linha plasmada no código genético do PS foi bem sinalizada pelo seu ideólogo, Augusto Santos Silva (ASS), quando proclamou que o “diálogo à esquerda não é preferencial” e que a esquerda aprende “o valor do mercado com a direita”. ASS não precisa explicar mais, percebemos-lhe o ser tornado inato.
Nós vamos ao combate!
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