As justificações são pouco originais - temem a instabilidade política e social, duvidam da nossa capacidade para cumprir as metas do défice e consideram que temos dificuldade em conseguir fontes estáveis de financiamento.
Continuam a fazê-lo com a suposta seriedade de quem não tem nada a ver com o assunto, munidos de uma legitimidade que ninguém lhes conferiu, pelo menos não de forma democrática.
No dia 24 de Março, tanto a Fitch como a S&P reduziram o rating português, na sequência da não aprovação do último pacote de austeridade e a resignação do primeiro-ministro.
O analista de crédito da S&P afirmou na altura esperar “que o governo sucessor não tenha escolha a não ser adoptar uma versão destas propostas de reforma, dado o interesse aparentemente reduzido dos investidores pela divida portuguesa (...).”
Este não é um aviso sem consequências, já que foi o causador de um novo máximo nos juros da divida pública, em todos os prazos. E por cada vez que a ameaça de uma empresa privada - como a S&P - relativamente aos desígnios da política nacional agrava as condições de financiamento da economia, a democracia sai enfraquecida.
Desde Janeiro de 2010, a Moody’s reduziu o rating da República 4 níveis, a Standard & Poors 5 níveis e a Fitch 6. Mas desde Janeiro de 2010, o défice não é seis vezes maior e a nossa incapacidade de crescer não piorou quatro vezes. A única variável que acompanhou a evolução dosratings foram mesmo os juros da divida pública (e outros instrumentos financeiros).
Sempre que uma agência de rating anuncia um novo corte, ou diz aos jornais que está a pensar fazê-lo, os juros batem recordes, tornando cada vez mais penoso pagar a nossa dívida futura e aproximando-nos da bancarrota.
O peso dos juros tornou-se no principal problema da nossa economia – não pedimos emprestado para investir, ou para despesas sociais, mas para conseguir suportar os juros das novas emissões de divida pública. Entretanto, a degradação dos ratings dificulta também o financiamento das empresas e dos bancos privados, hipotecando qualquer hipótese de recuperação do investimento privado nos próximos tempos.
Não existem cortes “preventivos” nos ratings. Quando o processo começa, o que se segue é uma contínua degradação das condições de financiamento da economia, com consequências ao nível das contas públicas e da percepção do risco pelos mercados, que leva a novos cortes, e assim sucessivamente até à bancarrota. E eis que chegam os abutres, prontos para especular com o que resta e comprar por tuta-e-meia o Estado a preço de saldo.
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