quarta-feira, 9 de março de 2011

O mercado de carbono europeu na base do capitalismo fóssil

Todo o tipo de argumentos ridículos são usados para disfarçar o facto de que o mercado de carbono não reduz emissões, nem irá reduzir no futuro.
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Todo o tipo de argumentos ridículos são usados para disfarçar o facto de que o mercado de carbono não reduz emissões, nem irá reduzir no futuro.
Em 1997, quando o Protocolo de Quioto estava a ser negociado, a UE opôs-se à proposta dos EUA de introduzir o comércio de direitos de emissão de carbono como forma de cumprimento das metas de redução de emissões, favorecendo antes políticas e medidas coordenadas. Mas em 2001, quando os EUA abandonaram unilateralmente as negociações climáticas, a UE tinha já mudado a sua posição, tendo-se tornado uma ávida entusiasta da ideia de entregar o destino da política climática a um mercado especulativo. Em 2005, lóbis industriais como a UNICE (indústria) e a EURELECTRIC (produtores de energia) e grandes corporações petrolíferas, como a BP e a Shell, finalmente conseguiram o que queriam: um mercado europeu para direitos de emissão de CO2 que permitiria à indústria continuar a poluir e até obter um lucro.
Ao abrigo do Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE), os poluidores recebem dos governos nacionais um número de licenças de emissão, que terão de usar para cobrir as suas emissões de CO2 em cada ano. Caso não detenham licenças suficientes, podem comprar mais no mercado a poluidores que detenham um excesso. Outra opção é comprar créditos, gerados pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), ao abrigo de projectos que (supostamente) reduzem emissões nos países menos desenvolvidos.
A primeira fase do CELE, de 2005 a 2007, foi, segundo qualquer critério de avaliação, um desastre completo. As emissões de CO2das fontes cobertas subiram, em vez de descer, dado que o limite fixado para as emissões em 2007 era 8.3% superior às emissões verificadas em 2005. A segunda fase, de 2008 a 2012, tem sido apenas marginalmente menos má, com o limite de emissões apenas 2% abaixo das emissões de 2005. Apenas entre 2008 e 2010 as emissões registaram um decréscimo, como consequência da crise que reduziu a produção e, logo, o uso de combustíveis.
O futuro da política climática da UE não é mais animador, dados os problemas com o chamado “ar quente”. O CELE distribuiu um excesso de licenças de emissão pelos poluidores, as quais podem ser usadas no futuro. Este excesso detido pelas indústrias é suficientemente elevado para que possam evitar reduzir as suas emissões até 2016. Para mais, os países membros podem comprar licenças aos países da Europa de Leste ou à Rússia, que detêm um enorme excesso devido à desagregação da indústria no início dos anos 1990. Como se isto não fosse suficiente, os poluidores podem sempre comprar créditos de carbono do MDL e assim continuar a poluir indefinidamente.
Outra forma de ver o problema da sobre-alocação de licenças é que o incentivo para reduzir as emissões, dado pelo preço das licenças, tem sido sempre baixo. O preço de uma licença nunca excedeu os €30, quando estudos económicos apontam para €100 como o nível que tornaria o investimento em tecnologias limpas atractivo, e tem-se situado normalmente em torno dos €10, tendo descido para zero por duas vezes até agora. Ao contrário de uma taxa, o incentivo depende do funcionamento de um mercado especulativo volátil e é manipulável pelos seus participantes.
A performance ambiental do CELE é tão má que podemos indagar-nos se as emissões da UE seriam hoje diferentes se tivesse seguido o exemplo dos EUA e decidido nada fazer para travar as alterações do clima. Mas há quem tenha ganho com este desastre. Tal como os especuladores, bancos de investimento e fornecedores de serviços financeiros, que lucram com um mercado financeiro criado por regulação governamental, as indústrias poluidoras têm recebido lucros extraordinários que consistem numa enorme renda oferecida às corporações.
De um lado, as indústrias podem lucrar vendendo as licenças que receberam gratuitamente. Normalmente, os compradores de licenças são fornecedores de energia, as quais são capazes de passar para os consumidores o custo da operação. Grandes poluidores já ganharam importantes somas desta forma, com a Arcelor Mittal, a gigante metalúrgica, a ganhar €108 milhões de 2007 a 2009 e Lafarge, a gigante do cimento, a ganhar €142 milhões em 2009. Conjuntamente, os maiores ganhadores do mercado de carbono poderão lucrar €3.2 mil milhões em 2012, uma soma muito superior ao investimento em renováveis e tecnologias limpas.
Do outro lado, as empresas produtoras de energia conseguem receber significativos lucros extraordinários através de truques contabilísticos. As empresas de produção de electricidade cobram aos clientes aquilo que estimam que as licenças de emissão custarão no futuro. Isto deixa um espaço considerável para sobre-estimativas, tendo a empresa de consultadoria Point Carbon estimado que estas empresas podem ganhar €23 a €71 mil milhões no período de 2008 a 2012 em lucros extraordinários.
Mas a lista de entidades que lucram com o mercado de carbono não estaria completa sem mencionar os vigaristas. Um grupo de trapaceiros têm comprado licenças a países que não cobram IVA, vendendo-as depois em países que cobram a taxa, metendo o dinheiro ao bolso e fugindo com ele, numa fraude conhecida como a “fraude de carrossel” que custou aos contribuintes europeus €5 mil milhões. O governo húngaro “reciclou” créditos do MDL usados, trocando-os por licenças de emissão, que têm um preço superior, e vendendo-os no mercado, num movimento que levou ao encerramento de várias bolsas quando os créditos voltaram a entrar no mercado e poluidores compraram-nos sem saber que não poderiam ser usados. Esquemas de “phishing” e “hacking” causaram prejuízos de milhões de euros a empresas que participam no CELE, quando piratas conseguiram roubar licenças e vendê-las no mercado “spot”. Como qualquer mercado financeiro complexo, o CELE tem sido um paraíso para quem consegue aldrabar o sistema.
Os sucessivos falhanços do CELE levaram as autoridades europeias a redefinir o sucesso. A primeira fase foi um sucesso porque as empresas aprenderam a operar no mercado de carbono. A segunda fase é um sucesso porque a fraude é elevada e evidentemente os vigaristas não perdem o seu tempo com mercados insignificantes. Todo o tipo de argumentos ridículos são usados para disfarçar o facto de que o mercado de carbono não reduz emissões, nem irá reduzir no futuro. De facto, esse nunca foi o seu propósito e é por isso que grandes os poluidores o adoram.
Uma versão deste texto foi publicado na Green Left Weekly, a revista do partido australiano Socialist Alliance [http://www.greenleft.org.au/node/46909]

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.