domingo, 2 de janeiro de 2011

Os dois paradoxos de Ellsberg

Ellsberg foi o economista e ex-militar que abalou as bases tanto da ortodoxia económica como da guerra imperialista.
Nestes tempos em que enfrentamos mais uma crise bolsista e em que Julian Assange, a cara do Wikileaks, é perseguido criminalmente por ter divulgado documentos secretos do governo dos EUA, vale a pena lembrar a história de Daniel Ellsberg, o economista e ex-militar que abalou as bases tanto da ortodoxia económica como da guerra imperialista.
Ellsberg estudou economia em Harvard, tendo-se juntado à RAND Corporation, um think-tank com ligações ao exército dos EUA, onde trabalharam muitos economistas famosos. Aí fez parte de um grupo que estudava teoria da decisão, liderado por John von Neumann, do qual saiu a teoria da utilidade esperada, em 1944.
Com von Neumann, a escolha racional em contexto de incerteza é formulada como a que, de entre as opções disponíveis, oferece um maior ganho esperado, tendo em conta as probabilidades relevantes. Esta teoria foi extensamente usada pelo Pentágono para o planeamento de guerras, tendo-se tornado também num pilar da ortodoxia económica. Os modelos de avaliação de risco, que levaram tantos investidores a comprar activos tóxicos, dão-nos um exemplo recente dos estragos que a teoria causou.
A principal falha da teoria da utilidade esperada é ignorar a distinção entre risco e incerteza, dada duas décadas antes pelo economista Frank Knight: podemos falar de risco quando podemos atribuir uma probabilidade a cada estado do mundo e de incerteza quando não é possível saber qual a probabilidade de obter um resultado de uma dada acção. Quem aposta o seu dinheiro na roleta russa, por exemplo, pode calcular com exactidão a probabilidade de ganhar o primeiro prémio. Mas quem compra um activo sem saber o que está a comprar, assumindo que a classificação dada pela agência de rating está correcta, não tem como calcular a probabilidade de ganhar ou perder dinheiro. Ou seja, a chamada “economia de casino” é instável precisamente porque não funciona como um casino.
Ellsberg foi o primeiro a desenvolver uma experiência que demonstra como esta falha leva-nos a criar modelos irrealistas sobre a forma como a mente humana funciona em contexto de incerteza. Suponhamos que temos uma urna com 30 bolas vermelhas e 60 bolas pretas e amarelas. Não sabemos quantas quantas bolas pretas ou amarelas existem e as bolas estão misturadas aleatoriamente. De cada vez que é retirada uma bola da urna, a mesma bola é colocada posteriormente de volta na urna, de forma a que a composição da urna nunca muda.
As pessoas que fazem parte da experiência têm então de escolher entre duas apostas:
A: Receber 100 dólares se for retirada uma bola vermelha;
B: Receber 100 dólares se for retirada uma bola preta.
A seguir, as mesmas pessoas têm de escolher entre as seguintes apostas:
C: Receber 100 dólares se for retirada uma bola vermelha ou amarela;
D: Receber 100 dólares se for retirada uma bola preta ou amarela.
O que se verifica é que a maioria das pessoas escolhe A e D, o que constitui uma escolha irracional. Vejamos porquê.
Se alguém escolhe A sobre B, será porque acredita que retirar uma bola vermelha é mais provável que retirar uma bola preta. Mas se alguém escolhe D sobre C, é porque acredita que retirar uma bola vermelha seria mais provável que retirar uma bola preta. As duas escolhas são, portanto, inconsistentes.
O que o denominado Paradoxo de Ellsberg demonstra é que existe uma aversão à ambiguidade e que as pessoas preferem ganhos certos a ganhos incertos. Às apostas A e D conseguimos associar uma probabilidade de ganhar os 100 dólares (1/3 e 2/3, respectivamente), mas o mesmo não se passa com as apostas B e C.
Este resultado foi suficientemente importante para ser publicado no Quarterly Journal of Economics, em 1961. As suas implicações para a invalidade da teoria da utilidade esperada foram, contudo, ignoradas, e esta teoria continua a ser ensinada nas faculdades como se nada se tivesse passado.
Mas Ellsberg foi ainda responsável por revelar um outro paradoxo: o de que as democracias ocidentais não são tão democráticas quanto isso, na medida em que a legitimidade dos governos é frequentemente baseada na supressão de informação e manipulação da opinião pública. A demonstração deste paradoxo da democracia surgiu no momento em que, graças aos seus contactos com o exército dos EUA, o economista conseguiu ter acesso a um conjunto de documentos sobre a guerra no Vietname que mostravam como o seu governo insistia em sacrificar soldados e civis numa guerra que admitia já estar perdida.
O que Ellsberg viu foi suficiente para o convencer a ir a reuniões de movimentos pacifistas. Numa reunião, em 1969, assistiu a um testemunho de um soldado que estava disposto a assumir publicamente a sua posição anti-guerra, sabendo que isso lhe custaria a liberdade. Ellsberg ficou tão impressinado com a coragem do soldado que decidiu também meter mãos à obra. Durante várias noites, fotocopiou centenas de páginas de documentos secretos do Pentágono, tendo depois entregue tudo a alguns senadores com posições anti-guerra.
A expectativa de Ellsberg era a de que um senador submetesse ao Senado os documentos secretos, sabendo que, pela lei dos EUA, um senador não poderia ser responsabilizado criminalmente por algo sucedido no exercício do seu cargo. Dessa forma, esperava poder expor a verdade sem correr o risco de ser preso ou morto. Mas nenhum senador aceita o desafio.
Apenas em Junho de 1971 os documentos se tornam públicos, quando um jornalista do New York Times quebra uma promessa feita a Ellsberg e publica alguns excertos. Quando uma ordem do tribunal suspende a publicação deste jornal, Ellsberg reage enviando os documentos para o Washington Post e vários outros jornais. Dias depois, o New York Times vê consagrado pelo Supremo Tribunal o seu direito de publicar o material e Ellsberg entrega-se à polícia.
A Administração Nixon tudo faz para denegrir a imagem de Ellsberg e para o prender para a vida. Mas a acusação contra ele tinha sido construída com base em provas obtidas ilegalmente e Ellsberg sai em liberdade em 1973. Mais tarde, depois de os seus algozes terem sido sentenciados pelo seu envolvimento no escândalo Watergate, fica-se a saber que estes chegaram a planear o seu assassinato.
Daniel Ellsberg manteve-se até hoje fiel aos seus princípios, tendo sido uma das vozes activas contra a guerra no Iraque. Recentemente, tem sido uma das vozes que nos EUA denuncia a política terrorista do seu governo, que pretende prender quem denunciou os crimes de guerra mas não quem os praticou. É de pessoas assim que a democracia é feita.
A versão original deste artigo foi publicada no Mãos Visíveis (http://maosvisiveis.wordpress.com/)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.