domingo, 9 de janeiro de 2011

Lusofonia, identidade e diversidade na sociedade em rede

Na era da Internet, não deveremos perder de vista a tensão entre identidade e diversidade lusófonas até porque a lusofonia é “uma construção extraordinariamente difícil”. Por Lurdes Macedo, artigo publicado em buala.org
Obra de António Ole
Obra de António Ole
A lusofonia, enquantocomunidade imaginada, configura uma ideia que pode ser abordada sob vários pontos vista. Tratando-se de um projecto com um passado de cinco séculos - assente no denominador comum que a língua portuguesa constitui - a lusofonia é, simultaneamente, um projecto disperso por vários espaços em todos os continentes do globo, nos quais habitam cidadãos de diversas etnias e com diferentes culturas. Interessa, por isso, fazer uma reflexão que nos permita compreender a complexa construção da lusofonia na contemporaneidade, para podermos perspectivá-la no futuro.
Em primeiro lugar, deveremos ter em conta que o passado recente foi marcado pela História de um espaço lusófono pós-colonial, estilhaçado e reconfigurado num conjunto de nações independentes e geograficamente distantes entre si. Talvez por isso mesmo, a relação entre os países de língua portuguesa se encontre, ainda hoje, sujeita a um conjunto de contradições e de dilemas que vão adiando a desejada aproximação capaz de formar e de consolidar a consciência colectiva de uma comunidade lusófona.
Ao mesmo tempo, a lusofonia tem sido, tradicionalmente, entendida à luz de um conjunto de dimensões que se afiguram cada vez mais redutoras: a dimensão geográfica, que reúne os oito países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP); a dimensão política, que se confina ao conjunto das comunidades de língua portuguesa espalhadas pelo mundo; e, finalmente, a dimensão histórico-cultural relacionada com o legado português em vários pontos do globo durante a expansão marítima e o império colonial. Como não perceber em cada uma destas dimensões, e citando Moisés de Lemos Martins1, “um espaço de refúgio imaginário” e de “nostalgia imperial”
É deste modo que a lusofonia se arrisca a cair num equívoco conceptual que devemos evitar: constituir-se como uma maneira cómoda de designar os países resultantes da colonização portuguesa.
Em segundo lugar, as políticas da língua levadas a cabo nos países lusófonos - que nos apresentam a proposta de um novo acordo ortográfico, com o propósito bem intencionado de preservar o principal factor identitário desta comunidade imaginada - têm sido acolhidas e integradas de forma diversa, representando hoje uma das mais acaloradas discussões no espaço da lusofonia. Aliás, há quem considere que este acordo representa uma ameaça às variantes do português oral e escrito utilizado em cada um dos países lusófonos, estando estas simbolicamente associadas à afirmação da diversidade e à preservação das identidades locais.
Todavia, a globalização e o novo paradigma comunicacional baseado na convergência e na ampla utilização de infotecnologias – a sociedade em rede – tem vindo a convocar um novo lugar para a lusofonia, no qual se estabelecem redes virtuais de comunicação entre cidadãos que pensam, sentem e falam em português: o ciberespaço.
Conforme nos recorda Frank Webster2, todos assistimos, nos últimos anos, à acentuada redução dos preços do material electrónico e informático, ao mesmo tempo que nos íamos rendendo às suas indiscutíveis capacidades de processamento, armazenamento e transmissão de informação. Paralelamente, a convergência de redes informáticas e de telecomunicações permitiu o desenvolvimento de meios de gestão da informação e a sua distribuição extensiva, bem como a possibilidade de estabelecer ligação, em tempo real, entre espaços físicos longínquos.
Se relacionarmos esta nova realidade comunicacional com o poderoso factor identitário que uma língua em comum pode constituir, estaremos em condições de reflectir sobre o contributo do ciberespaço para a aproximação entre cidadãos falantes de um mesmo idioma. E se pensarmos numa língua falada por muitos milhões de cidadãos, dispersos por todos os cantos do mundo, pertencentes às mais diversas etnias e culturas, esta reflexão afigura-se ainda mais pertinente. Trata-se do caso da língua portuguesa.
Em poucos anos, milhares de sites, de blogues e de fóruns em português inundaram a internet, tendo-se tornado a língua de Camões uma das mais influentes na World Wide Web. Segundo aInternet World Stats, em Junho de 2010, este dispositivo era utilizado por 1 966 514 816 de pessoas em todo o mundo. Os utilizadores lusófonos eram, aproximadamente, 82 548 200, representando a quinta comunidade linguística com maior representatividade no ciberespaço, como é possível verificar no gráfico que a seguir se apresenta. Estamos, assim, em condições de propor de uma dimensão virtual da lusofonia.
Representatividade das dez línguas com maior presença na Internet, em milhões de utilizadores (Junho de 2010)3

No entendimento de Pierre Lévy4, a propagação do ciberespaço à escala planetária criou um terreno propício para o desenvolvimento de uma inteligência colectiva, capaz de englobar a diversidade, e um território configurador do espaço público necessário à intervenção de uma sociedade civil com consciência global.
Admitindo esta visão optimista sobre o potencial contido na sociedade em rede, poderemos perspectivar uma dimensão virtual da lusofonia que englobe e preserve a diversidade de práticas culturais presentes nos lugares onde se fala o português, garantindo a tolerância e o respeito pelas diferenças? Que contributo poderá oferecer o ciberespaço à consolidação da consciência colectiva de uma comunidade lusófona?
De momento, não é possível responder a estas questões, uma vez que é ainda claramente insuficiente o número de estudos dedicados aos efeitos produzidos pela sociedade em rede no espaço lusófono. Todavia, é com satisfação que verifico que, em várias universidades portuguesas e brasileiras, investigadores da mais reputada qualificação e das mais diversas áreas científicas (Língua Portuguesa, Ciências da Comunicação, Estudos Culturais, etc.) se têm vindo a dedicar ao estudo destas questões.
Na era da Internet, não deveremos perder de vista a tensão entre identidade e diversidade lusófonas até porque, e convocando o pensamento de Helena Sousa5, a lusofonia é «uma construção extraordinariamente difícil». Aliás, a retórica tradicional da lusofonia tem persistido, não raras vezes, numa espécie de nostalgia do império, subvalorizando a diversidade cultural que cinco séculos de aventuras associaram à experiência de todos os cidadãos que pensam, sentem e falam em língua portuguesa.
Será, por isso, importante - e talvez também urgente – que todo um conjunto de políticos, intelectuais e académicos, que têm trazido à luz numerosas pistas sobre a complexa construção da identidade lusófona, reflicta sobre o contributo que o ciberespaço oferece à reconfiguração de uma lusofonia mais englobante e mais plural.
Artigo de Lurdes Macedo6 publicado em buala.org e originalmente na revista PESSOA


1 Professor Catedrático de Ciências da Comunicação na Universidade do Minho (Portugal).
2 Director do Departamento de Sociologia na City University London (Inglaterra).
3 Fonte: Internet World Stats (www.internetworldstats.com/stats7.htm).
4 Professor de Sociologia da Comunicação na Universidade de Otava (Canadá).
5 Professora de Ciências da Comunicação na Universidade do Minho (Portugal).
6 Doutoranda em Ciências da Comunicação na Universidade do Minho (Portugal), na Universidade do Texas (EUA) e na Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo (Brasil). Investigadora no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho (Portugal). Professora na Universidade Lusófona do Porto e na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viseu (Portugal).

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.