sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

BPN: É chegado o momento da responsabilidade

O BPN foi o local do crime de uma das maiores fraudes no sistema financeiro português.
Sabe-se hoje que o BPN era uma rede de empresas offshore que traficavam dinheiro e influências. Sabe-se que havia um banco secreto e um balcão virtual movimentando centenas de milhões de euros. Sabe-se que havia negócios com traficantes de armas em Marrocos, especulação imobiliária no Brasil e sociedades fantasma em Porto Rico.
Mas, dois anos depois, não se sabe quem ficou com o dinheiro.
Sabe-se que o BPN estava falido em 2008. Entretanto, continuou sempre a funcionar falido, sem cumprir rácios mínimos de solvabilidade e com uma situação líquida negativa.
Mas, dois anos depois, não se sabe quem ficou com o dinheiro.
Nem se sabe nem se consegue saber: o ministro das finanças atrasou desde 15 de Setembro a audição parlamentar para explicações, como tinha sido aprovado a requerimento do Bloco de Esquerda, e o presidente do BPN marcou e adiou uma vinda à Assembleia.
Dois anos depois, só sabemos que há um buraco de 5,5 mil milhões de euros e que, fracassada a privatização, o governo prepara subrepticiamente a transferência da dívida para o Estado.
É por isso chegado o momento da responsabilidade. Os dois projectos que o Bloco de Esquerda traz hoje a votação respondem pela responsabilidade. E propõem regras para que se saiba o que tem sido escondido, para que possamos defender os direitos dos contribuintes contra a fraude que nos ameaça.
Não ignoro entretanto que esta questão se tornou um tema da campanha eleitoral – e, porque é uma questão tão sensível, começo por ela, porque a penumbra que persiste é gravosamente irresponsável.
Ontem, o candidato Cavaco Silva mandou dizer por um porta-voz que considera haver contra si uma “campanha suja, indigna, ignóbil” de “insinuação, intriga, mentira e baixa política”, “um atentado moral à democracia”. Foi uma declaração violenta e inabitual. No entanto, foi Cavaco Silva quem escolheu fazer sobre este assunto sucessivas declarações escorregadiamente imprecisas, que têm feito crescer a exigência de clareza.
Com a chancela oficial da Presidência da República, o actual candidato declarou que nunca comprou nem vendeu nada ao BPN. Não, o que Cavaco Silva fez foi ser sócio da SLN; era portanto um dos donos do BPN. Para tanto, comprou 105.379 acções em 2001, a um euro. E vendeu-as em Novembro de 2003, ganhando 147 mil euros. Esta mais-valia não tem qualquer justificação económica na valorização da SLN ou do seu principal activo, o BPN.
Esse negócio foi um favor. Ora, um responsável político não faz favores nem recebe favores.
E este foi um favor raro. Distribuirei ao parlamento a cópia de um contrato do mesmo tipo mas mais recente, em que a SLN garante a outra pessoa a recompra de acções, mas só lhes atribui 5% de valorização. Não paga 140%, como pagou a Cavaco Silva.
Se o candidato Cavaco Silva afirma que “quem não deve não teme” e aceita “o mais elementar dever de decência democrática”, então deve divulgar o seu contrato, para que se saiba em que condições vendeu e a quem vendeu a sua parte da SLN.
E saberemos se quem comprou as acções foi a SLN-Valor, de que vários responsáveis, como o seu presidente, Alberto Figueiredo, são hoje membros da comissão de honra de Cavaco Silva.
É portanto uma questão de decência. Os portugueses merecem a verdade e nada menos do que a verdade. Só a mentira é um “atentado moral à democracia”.
Ora, o caso BPN tem sido uma teia de mentiras desde sempre. Começou por ser um caso de apaixonado conúbio entre a política e a finança, e pelos órgãos sociais do banco passaram cinco ministros e um secretário de Estado dos assuntos fiscais: Dias Loureiro, Daniel Sanches, Rui Machete, Arlindo de Carvalho, Oliveira e Costa e, no final, Miguel Cadilhe. O BPN era um verdadeiro governo sombra do PSD.
O seu peso no poder político garantiu impunidade. O Banco de Portugal ignorou avisos de auditores. A segurança social aplicou os seus dinheiros no banco. E, quando chegou o momento do colapso, o governo decidiu uma protectora e imediata nacionalização dos prejuízos. O governo rejeitou então terminantemente a nacionalização de todo o sector financeiro do grupo, o que permitiria obter os activos necessários para compensar o prejuízo escondido do banco e responsabilizar os seus detentores pela acção que prosseguiram de forma fraudulenta.
Afirmou então o Bloco de Esquerda no plenário que “Aprovamos a nacionalização e votaremos a favor da proposta se garantir que não há um cêntimo do IRS dos portugueses que seja utilizado para financiar banqueiros criminosos. Se um cêntimo do dinheiro dos portugueses for utilizado para a ‘lei da Omertà’, para uma mão cobrir a outra, não é possível ter qualquer condescendência para uma regra que é uma vergonha para a democracia”. A lei mereceu por isso o voto contrário do Bloco de Esquerda.
Agora já sabemos quanto custa esta fraude:
30 milhões de défice, dizia Oliveira e Costa.
750 milhões, disse o ministro Teixeira dos Santos na conferência de imprensa de 2 de Novembro.
800 milhões, disse no parlamento no dia 6 de Novembro.
1624 milhões em 2008, dizem agora as contas oficiais do banco.
2013 milhões em 2009, dizem as contas.
Só não sabemos para onde foi o dinheiro.
A CGD responsabilizou-se por 4000 milhões de dívida em papel comercial e fez outros empréstimos para a liquidez do BPN, num total que chega agora a 5500 milhões.
Mas não sabemos para onde foi o dinheiro.
O BPN não podia emprestar mas emprestou: o banco tem 3 mil milhões em depósitos e tem 2 mil milhões em créditos mal parados. Não sabemos para onde foi o dinheiro.
Mas sabemos de onde vem o dinheiro. O governo divulgou hoje ao parlamento o esquema de absorção destas dívidas monumentais, com a criação de três empresas, a Parvalorem, a Parparticipações e a Parups, que vão integrar 3100 milhões de dívida e tentar vender algumas propriedades imobiliárias e empresas financeiras. O resto é lixo tóxico que o generoso contribuinte pagará. O Estado continua a garantir outros 400 milhões no BPN e vai pagar um aumento de capital de 500 milhões. Já sabemos por isso quanto vamos pagar: mais de 3 mil milhões de prejuízo, ou uma subida do défice previsto para 2011 de 4,6 para 6,6%.
Temos por isso o direito e mesmo a obrigação de informar o país sobre quem traficou e quem roubou, sobre quem usou o dinheiro do banco e quem apresentou contas falsas.
Apresentamos por isso um projecto de lei que determina que os accionistas sejam chamados, na dimensão da sua responsabilidade legal e na medida em que tenham contribuído para a fraude, a colmatar a situação líquida negativa do banco que tenham arrastado para a falência.
Em segundo lugar, apresenta o Bloco de Esquerda um projecto de resolução que garante que o país conhecerá os relatórios de avaliação do BPN, uma informação detalhadas sobre como se afundou o banco e, ainda, uma auditoria do Tribunal de Contas sobre a utilização dos dinheiros públicos nos últimos dois anos.
Respondemos assim a dois riscos sistémicos de enorme gravidade.
O primeiro é o risco da falta de transparência dos actos do Estado. Depois do fracasso dos reguladores do sistema financeiro, depois dos efeitos das fraudes no BPN, depois de um processo de nacionalização que descobriu um buraco gigantesco no banco, a recusa de informar detalhadamente o país acerca da forma como o banco foi ou está a ser gerido alimenta a incerteza – e a incerteza é sempre a certeza de que a obscuridade protege o privilégio de interesses particulares contra o interesse público.
O segundo risco sistémico é a transferência para as contas públicas dos sucessivos prejuízos acumulados pelo banco, agravando o défice do Estado e portanto impondo aos portugueses o buraco financeiro que já é mais de 1000 euros por cada contribuinte.
Só há uma resposta democrática a esta gigantesca fraude: responsabilidade. E só há uma resposta económica: ampliar energicamente a dimensão da banca pública para obter a rentabilidade que recomponha um sistema financeiro adequado ao crescimento do emprego, das exportações e de toda a economia.
Responsabilidade e transparência, é o que exigem estas duas iniciativas legislativas. Temos a certeza de que as suas medidas essenciais vão ser aprovadas hoje, e este será por isso um dia de viragem: agora, saberemos onde está o dinheiro que foi roubado ao país.
Declaração de abertura no debate parlamentar sobre o Banco Português de Negócios agendado pelo Bloco de Esquerda em 6 de Janeiro de 2011

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.