segunda-feira, 1 de novembro de 2010

John le Carré: Desmascarando os traidores

“Não posso entender que Blair ainda tenha vida pública. Parece-me que um político que tenha levado o seu país à guerra, utilizando pretextos falsos, cometeu o maior dos pecados”, diz o escritor.
John le Carré, o ex-espião britânico que se converteu em autor de romances de espionagem, dedicou duras palavras a Tony Blair. Passados mais de sete anos da invasão do Iraque, o ex-primeiro-ministro britânico, que agora não ocupa qualquer cargo e se dedica a excursionar pelo mundo promovendo as suas memórias políticas, vem enfrentando grandes protestos durante as sessões de autógrafos do seu livro.
“Não posso entender que Blair ainda tenha vida pública. Parece-me que um político que tenha levado o seu país à guerra, utilizando pretextos falsos, cometeu o maior dos pecados”, disse-me o escritor, quando nos encontrámos em Londres recentemente. “Acho que deveríamos ter vergonha quando numa guerra nos recusamos a aceitar o número de pessoas que matámos. Sempre há que ter cuidado com isso. Não falo como profeta, simplesmente falo como um cidadão enraivecido. Penso que é verdade que causámos danos irreparáveis no Oriente Médio e acho que vamos ter de pagar por isso durante muito tempo.”
Estávamos sentados num estúdio de televisão localizado numa das margens do rio Tamisa, com vista para dois dos antigos locais de trabalho de Le Carré: o MI5, (o Serviço de Segurança Interior do Reino Unido), dedicado às operações dentro do território, e o MI6 (Secret Intelligence Service, SIS, o Serviço Secreto de Espionagem britânico), que opera em nível internacional. Para termos um grau de comparação, seriam equivalentes ao FBI e à CIA dos Estados Unidos. John le Carré é o pseudónimo do inglês David Cornwell, que trabalhou como espião no período do final da década de 1950 até princípios da de 1960. Ele começou a escrever novelas e teve de escolher um pseudónimo devido ao seu trabalho em espionagem. Tinha a sua base na Alemanha quando, em 1961, viu como foi erguido o Muro de Berlim, o que o motivou a escrever o seu terceiro romance: “O espião que saiu do frio”, cuja primeira edição foi publicada em 1963, convertendo-se num best-seller em todo mundo.
O romance foi publicado no mesmo período em que outro autor britânico de novelas de espionagem, Ian Fleming, desfrutava o sucesso da famosa série de ficção cujo protagonista é o espião britânico James Bond. Diferente dos extravagantes personagens e da acção sem limites dos livros e filmes de Bond, os personagens das novelas de Le Carré são sujeitos desolados, envolvidos em actos de enganos, desonestidades e violência deliberada. Com a atenção do mundo posta no Muro de Berlim e na crise dos mísseis em Cuba, Le Carré cativou o público do mundo inteiro ao mostrar a crua realidade do espião na frente de batalha da Guerra Fria.
Quando a Guerra Fria chegou ao fim, Le Carré continuou a sua produtiva carreira de escritor, e foi mudando o foco dos seus textos. Aproximou-se cada vez mais de temas como as desigualdades da globalização, o poder corporativo multinacional sem restrições e a frequente confluência dos interesses das transnacionais com as actividades dos serviços estatais de espionagem.
Talvez um dos mais conhecidos dos seus últimos romances seja “O jardineiro fiel”, que trata de uma companhia farmacêutica que utiliza cidadãos do Quénia, sem o seu consentimento, para realizar perigosos testes de uma droga experimental, que podem ser mortais. John le Carré explica: “As coisas que são feitas em nome dos accionistas são, do meu ponto de vista, tão aterrorizantes quanto as coisas que se fazem, permitam-me dizer, em nome de Deus.” Como outros dos seus livros, “O jardineiro fiel” teve uma versão para o cinema, tornando-se um filme muito popular, protagonizada por Ralph Fiennes e Rachel Weisz, direcção do brasileiro Fernando Meirelles e fotografia do uruguaio Cesar Charlone.
John le Carré tem escrito com frequência a respeito da África: “É onde tenho visto a globalização a funcionar. É um panorama bastante feio. A imagem da globalização que nos é transmitida é uma fantasia de reunião de direcção de empresa. O seu verdadeiro significado é a exploração de mão-de-obra muito barata, e com frequência também implica em desastre ecológico, a criação de mega cidades e o fim da cultura agrária e tribal.”
O seu último livro (o 22º), publicado há pouco mais de uma semana, tem como título “Um traidor como os nossos.” Trata-se de uma ficção sobre um conjunto de banqueiros londrinos e seus protectores no parlamento que conspiram em conjunto com a máfia russa para apunhalar a enfraquecida economia mundial através da lavagem de biliões de dólares provenientes de actividades criminosas.
Em 2003, antes da invasão do Iraque, Le Carré participou das manifestações contra a guerra junto a mais de um milhão de pessoas, segundo as estimativa: “A marcha deteve-se. Estávamos todos muito juntos e com olhos postos em Downing Street, endereço onde se localiza a residência do primeiro-ministro. Parecia que ninguém ia dizer nada, mas a vontade do povo fez-se ouvir numa espécie de grito selvagem. Imaginei o que deve ter sido para Blair estar sentado dentro desse edifício e ouvir aquele som. Era como um grito imenso, como esses que surgem num jogo de futebol, onde na realidade não se verbaliza nada, como se fosse um som animal. Acho que Blair vai sempre ser lembrado como aquele que nos levou à guerra com base em mentiras.”
John le Carré disse-me que não vai comprar o livro de Tony Blair, mas que tem algumas perguntas para lhe fazer: “Viu alguma vez o que acontece quando uma granada cai numa escola? Realmente sabe o que fez quando ordenou a estratégia de 'choque e pavor’? Está preparado para se ajoelhar ao lado de um soldado que está a morrer e explicar-lhe por que foi ele à guerra do Iraque?”
O autor inglês resumiu o que considera o problema central dos poderes mundiais, especialmente do poder britânico e dos EUA: “As vítimas nunca esquecem. Os vencedores sim. Esquecem muito rapidamente.” Por isso, aos 80 anos, John Le Carré continua a escrever, captando o interesse dos leitores na sua busca do que chama “a grande verdade.”
16 de Outubro de 2010
Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna.
Texto em inglês traduzido por Fernanda Gerpe e Democracy Now! para o espanhol.
Texto traduzido da versão em castelhano e revisto do original em inglês por Bruno Lima Rocha; originalmente publicado em português em Estratégia & Análise. Adaptado para Portugal pelo Esquerda.net

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.