terça-feira, 7 de setembro de 2010

Desespero e raiva crescem na sociedade grega

Tensões aumentam, enquanto as medidas de austeridade não dão resultado. Todo o país está à beira de uma depressão. Os trabalhadores sentem-se frustrados e ameaçam entrar em greve novamente. Por Corinna Jessen, em Atenas, para a Spiegel
Peritos estimam que o produto interno bruto do país caia cerca de 4% durante todo o próximo ano. Foto de karpidis
Peritos estimam que o produto interno bruto do país caia cerca de 4% durante todo o próximo ano. Foto de karpidis
As medidas de austeridade que deveriam supostamente solucionar os problemas da Grécia estão a atrasar a economia do país. As lojas estão a fechar, as receitas fiscais estão a diminuir e o desemprego atingiu uns surpreendentes 70% em alguns locais. Os trabalhadores sentem-se frustrados e ameaçam entrar em greve novamente.
As comemorações da Assunção de Maria, a 15 de Agosto, são o ponto mais alto do Verão no mundo ortodoxo grego. Aqui, numa das muitas igrejas do país, os crentes rezam à Virgem por misericórdia, muitos deles ajoelhados.
O jornal Ta Nea tem recomendado ao governo grego que adopte a mesma postura – os líderes do país têm de esperar que Maria faça um milagre para salvar a Grécia de uma crise séria, anuncia o jornal. Sem intervenção divina, sugere o jornal, será um Outono difícil para o governo mediterrânico.
Este prognóstico terrível surge apesar dos incríveis esforços de Atenas para solucionar as finanças do país. As apertadas medidas de austeridade do governo conseguiram reduzir o défice do país em uns surpreendentes 39,7%, depois de governos anteriores terem gasto o dinheiro dos impostos e falsificado as estatísticas durante anos. As medidas têm reduzido os gastos governamentais num total de 10%, 4,5% mais do que a UE e o Fundo Monetário Internacional tinham exigido.
O problema é que as medidas de austeridade têm afectado entretanto cada aspecto da economia do país. O poder de compra está a cair, o consumo entrou em queda livre e o número de falências e desempregados tem vindo a aumentar. O produto interno bruto diminuiu cerca de 1,5% no segundo quartel deste ano. A receita fiscal, que era desesperadamente necessária para consolidar as finanças nacionais, tem caído. Uma mistura de medo, desespero e raiva está a crescer na sociedade grega.
Desemprego estimado em mais de 70%
Nikos Meletis está impecavelmente vestido e o seu carro de qualidade mediana está limpo e arrumado. Meletis costumava ter um bom salário na empresa de construção naval em Perama, um porto situado na ponta oposta da ilha de Salamis. "De momento, vivo das minhas poupanças," diz o soldador de 54 anos, em frente a um porto silencioso cheio de navios atracados.
Meletis é um trabalhador que recebe o seu salário diariamente e que costumava trabalhar mais de 300 dias durante o ano; este ano ele só conseguiu trabalhar 25 dias até ao momento. O que lhe dá 25 selos de seguro de saúde, quando ele necessita de 100 para garantir o seguro para ele e para a sua família – inclusive a sua esposa que sofre de cancro. "Como é que vou conseguir pagar os custos do hospital?" interroga-se Meletis. O subsídio de desemprego é de 460 euros mensais e só está disponível no máximo durante o período de um ano – e apenas se ele conseguir apresentar no mínimo mais 150 selos relativos aos últimos 15 meses.
É quase impossível encontrarmos um trabalhador de construção naval no distrito de Perama que consiga isso. O desemprego na cidade oscila entre 60 e 70%, de acordo com um estudo levado a cabo pela Universidade de Piraeus. Enquanto 77% das empresas gregas de frota mercante indicam que estão satisfeitas com a qualidade do trabalho desempenhado em Perama, aproximadamente 50% ainda enviam os seus navios para serem reparados na Turquia, Coreia ou na China. Os custos são demasiado elevados na Grécia, dizem eles. O país, afirmam, tem demasiada burocracia e demasiadas greves, com disputas laborais que atrasam frequentemente os prazos das entregas.
Perama é certamente um caso extremo pouco usual. Mas o declínio dos estaleiros serve como um exemplo claro da incapacidade da economia grega de gerar competitividade. Quase nenhuma das indústrias do país consegue acompanhar a competitividade internacional em termos de produtividade e os peritos estimam que o produto interno bruto do país caia cerca de 4% durante todo o próximo ano. A Alemanha, a título de comparação, estima crescer mais de 3%.
Estima-se que as vendas diminuam em todo o país
O pacote de austeridade do primeiro-ministro George Papandreou tem abalado seriamente a economia grega. O pacote incluía a redução dos salários dos funcionários públicos em mais de 20% e o corte das pensões de reforma, enquanto propunha o aumento de vários impostos. O resultado é que os gregos têm cada vez menos dinheiro para gastar e a receita das vendas está a baixar em todo o país, anunciando uma catástrofe para um país onde 70% da produção da economia é baseada no consumo privado.
Um pequeno passeio pelas ruas do comércio de Atenas revela a dimensão do declínio. Um quarto das montras das lojas em Stadiou Street exibe cartazes vermelhos onde podemos ler "Enoikiazetai" – aluga-se. A Confederação Nacional do Comércio Helénico calcula que 17% de todas as lojas em Atenas tiveram de declarar falência.
As coisas não estão melhores nas cidades mais pequenas. Chalkidona era, até apenas alguns anos atrás, um ponto central para o transporte rodoviário na área circundante de Thessaloniki. Duas ruas principais, repletas de restaurantes de fast food e de refeições para os camionistas, cruzam-se na pequena e triste cidade. A habitação de Maria Lialiambidou situa-se exactamente na rota principal do transporte rodoviário. A renda de uma pastelaria no rés-do-chão do prédio dava-lhe 350 euros por mês, uma quantia que a ajudava de forma considerável, juntamente com a sua pensão de viuvez de 320 euros.
Todavia, durante os últimos dias, Kostas, o senhor que lhe alugava a pastelaria, a quem as pessoas costumavam chamar um grande “forreta”, já não consegue pagar mais a renda. Aqui também vemos um enorme cartaz na montra da pastelaria onde também se lê "Enoikiazetai". Ninguém quer arrendar a loja. A mesma situação passa-se no talho que se encontra vazio a poucos metros dali.
Um cartaz no outro lado da rua publicita o "Sakis' Restaurant." O proprietário, Sakis, ainda se tem aguentado, com clientes que ocupam uma ou duas mesas do restaurante ocasionalmente. "De facto, já não existe trabalho para mim aqui," diz um dos empregados albaneses que responde pelo nome de Eleni na Grécia. "Muitos já regressaram à Albânia, que não está melhor do que aqui. Vamos ver quando terei de ir também."
Sem saída
Todo o país está à beira de uma depressão. Tudo parece ir de mal a pior. A espiral está continuamente a cair e não existe uma saída à vista. O pior, todavia, é o facto de que quase ninguém acredita que tudo vai melhorar um dia.
A taxa de desemprego do país acentua claramente esta tendência. Em 2009, era 9,5%. Este ano pode subir para 12,1% e os economistas estimam que possa chegar a 14,3% em 2011. Estes são apenas os números oficiais que foram divulgados por Angel Gurría, secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). A associação sindical grega (GSEE) considera estes números demasiado optimistas. Considera que 20% é um número mais provável para 2011. Isso colocaria a taxa de desemprego tão alta quanto em 1960, quando centenas de milhares de gregos foram forçados a emigrar. Entretanto, o poder de compra caíu ao nível de 1984, de acordo com a GSEE.
'As coisas estão a começar a aquecer'
Menelaos Givalos, um professor de Ciência Política na Universidade de Atenas, apareceu na televisão, alertando os telespectadores para tempos piores que ainda estão para vir. Ele prevê uma enorme vaga de layoffs que terão início em Setembro, com "consequências sociais extremas."
"Tudo está a ficar mais caro, estou com muita dificuldade em ganhar algum dinheiro e ainda assim é suposto que eu pague mais impostos para ajudar a salvar o país?" interroga-se Nikos Meletis, o soldador. Os seus amigos, reunidos num pequeno café no pontão em Perama, estão gradualmente a ficar mais ruidosos. Eles estão todos desempregados, desesperados e revoltados com os políticos que os meteram nesta situação. Não existe empatia aqui por nenhum dos partidos políticos nem pelos sindicatos.
"Eles apenas organizam as greves para servir os seus próprios interesses!" grita um senhor chamado Panayiotis Peretridis. "A única coisa que ainda me interessa é o meu salário diário. Um pão de forma é o meu partido político. Eu quero ajudar o meu país – dê-me trabalho e eu pagarei os meus impostos! Mas o nosso orgulho enquanto trabalhadores qualificados, enquanto responsáveis pelas nossas famílias, enquanto gregos, está a ser atirado pelo cano abaixo!"
"Se retirarem o pão da minha família, eu dou cabo de vocês – o governo precisa de saber isso," afirma Meletis. "E depois, se isso acontecer, não nos venham chamar de anarquistas! Somos responsáveis pelas nossas famílias e estamos desesperados."
Ele prevê que a situação aqueça ainda mais. "As coisas estão a começar a aquecer aqui," diz ele. "E daqui a pouco vão explodir."
18 de Agosto de 2010
Tradução de Sara Vicente para o Esquerda.net

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.