sábado, 5 de junho de 2010

A guerra de classes moderna



A Grécia é um microcosmo de uma guerra de classes moderna que é raramente relatada como tal e que é combatida com toda a urgência do pânico entre os ricos imperiais. Por John Pilger
A Grécia é um microcosmo de uma guerra de classes moderna que é raramente relatada como tal e que é combatida com toda a urgência do pânico entre os ricos imperiais. Por John Pilger
Enquanto a classe política britânica finge que é democracia o seu casamento negociado dos conservadores com os liberais-democratas, a inspiração para o resto de nós é a Grécia.
Não é de admirar que a Grécia seja apresentada não como um farol mas como um “país-lixo”, que teve o que merecia devido ao seu “inchado sector público” e à sua “cultura de cortar pelos cantos” (The Observer). A heresia da Grécia é que a revolta dos seus cidadãos comuns oferece uma esperança genuína, ao contrário daquela que foi esbanjada pelo senhor da guerra na Casa Branca.
A crise que levou ao “resgate” da Grécia pelos bancos Europeus e o Fundo Monetário Internacional (FMI) é o produto de um sistema financeiro grotesco que está ele próprio em crise. A Grécia é um microcosmo de uma guerra de classes moderna que é raramente relatada como tal e que é combatida com toda a urgência do pânico entre os ricos imperiais.
O que torna a Grécia diferente é que na sua memória viva está a invasão, a ocupação estrangeira, a traição pelo Ocidente, a ditadura militar e a resistência popular. O seu povo não se deixa intimidar pelo corporativismo corrupto que domina a União Europeia. O governo de direita de Costas Caramanlis, que precedeu o actual governo do PASOK de George Papandreou, foi descrito pelo sociólogo Francês Jean Ziegler como “uma máquina para pilhagem sistemática dos recursos do país”.
A máquina tinha amigos infames. A Reserva Federal Norte Americana está a investigar o papel de Goldman Sachs e de outros operadores de fundos de risco americanos que apostaram na falência da Grécia quando os bens públicos foram vendidos e a sua evasão fiscal de 360 mil milhões de euros foi depositada em bancos suíços. Os maiores armadores Gregos transferiram as suas empresas para fora do país. Esta hemorragia de capital continua, com a aprovação dos governos e dos bancos Centrais Europeus.
Situado nos 11%, o défice grego não é superior ao défice americano. No entanto, quando o governo de Papandreou tentou pedir dinheiro à comunidade financeira internacional, foi eficazmente bloqueado pelas agências de rating (notação) americanas, que “baixaram a classificação” da Grécia até ao estatuto de “lixo”. Foram estas mesmas agências que avaliaram com triplo-A milhares de milhões dólares das chamadas hipotecas subprime, precipitando assim o colapso económico em 2008.
O que aconteceu na Grécia foi roubo a uma escala sem precedentes, embora não totalmente desconhecida. Na Inglaterra, o “resgate” de bancos como Northern Rock e o Royal Bank of Scotland custou milhares de milhões de libras. Graças ao anterior primeiro-ministro Gordon Brown e à sua paixão pelos instintos ambiciosos da City de Londres, estas dádivas de dinheiro público foram incondicionais, e os banqueiros têm continuado a pagar uns aos outros o saque a que eles chamam bónus.
Sob a monocultura política Britânica, eles podem fazer o que quiserem. Nos Estados Unidos, a situação é ainda mais marcante, conforme relata o jornalista investigador David DeGray, “[como os bancos mais importantes de Wall Street] que destruíram a economia pagam zero de impostos e recebem 33 mil milhões de dólares de reembolsos.”
* * *
Na Grécia, tal como na América e Inglaterra, foi dito ao povo que teria de reembolsar os ricos e poderosos das dívidas em que eles próprios incorreram. Empregos, pensões e serviços públicos são para ser cortados e queimados, sob o comando de piratas.
Para a União Europeia e o FMI, a oportunidade aponta para uma “mudança de culturas” e para o desmantelamento da segurança social da Grécia, tal como o FMI e o Banco Mundial “ajustaram estruturalmente” (empobrecendo e controlando) países por todo o mundo desenvolvido.
A Grécia é odiada pela mesma razão que a Jugoslávia teve de ser destruída fisicamente sob o pretexto de protecção ao povo do Kosovo. Muitos gregos são funcionários do estado, e os jovens e os sindicatos envolveram-se numa aliança popular que não tem sido pacífica; os tanques dos coronéis nos campus da Universidade de Atenas mantêm-se um fantasma político.
Tamanha resistência é anátema para os banqueiros centrais europeus e é considerada como uma obstrução à necessidade principal da Alemanha de capturar mercados após a sua conturbada reunificação.
Na Grã-Bretanha, tem sido tal a propaganda de 30 anos de uma teoria económica extrema inicialmente conhecida como monetarista, e depois como neoliberal, que o novo primeiro-ministro pode, tal como o anterior, descrever como “fiscalmente responsáveis” as suas exigências de que o cidadão comum pague as dívidas dos desonestos.
No que ninguém fala é sobre a pobreza e as classes. Quase um terço das crianças britânicas está abaixo do limiar de miséria. Na classe trabalhadora de Kentish Town, em Londres, a esperança de vida do homem é de 70 anos. Contudo, a cerca de três quilómetros de distância, em Hampstead, já é de 80 anos. Quando a Rússia foi submetida a uma idêntica “terapia de choque” nos anos 90, a esperança de vida caiu a pique. Um recorde de 40 milhões de americanos pobres está actualmente a receber senhas para comer: isto significa que eles não têm capacidade de pagar a sua própria alimentação.
No mundo desenvolvido, um sistema de triagem imposto pelo Banco Mundial e pelo FMI há muito que determina se as pessoas devem viver ou morrer. Quando as tarifas e os subsídios para alimentação e gasóleo forem eliminados pela ditadura do FMI, os pequenos agricultores sabem que foram declarados como dispensáveis. O Instituto de Recursos Mundiais calcula que o número de mortes de crianças por ano esteja entre os 13 e os 18 milhões. “Isto,” escreveu o economista Lester C. Thurow, “nem é metáfora nem simulação de guerra, mas guerra a valer.”
As mesmas forças imperiais têm usado armas militares horrendas contra países cuja maioria são crianças, e têm aprovado a tortura como um instrumento de política externa. É um fenómeno de negação que nenhum destes assaltos à humanidade, em que a Grã-Bretanha esteve activamente envolvida, pôde interferir nas eleições britânicas.
As pessoas nas ruas de Atenas não sofrem deste mal. Elas têm a noção clara de quem é o inimigo e consideram-se elas próprias, uma vez mais, sob ocupação estrangeira. E uma vez mais, levantam-se com coragem. Quando David Cameron começar a cortar 8,7 mil milhões de dólares dos serviços públicos na Grã-Bretanha, vai dizerr que o que aconteceu na Grécia não vai acontecer na Grã-Bretanha. Devíamos provar que ele está errado.
24 de Maio de 2010
Retirado do Socialist Worker. Publicado primeiro no New Statesman.
Tradução de Noémia Oliveira para o Esquerda.net

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.