domingo, 2 de outubro de 2011

A Esquerda e o combate à corrupção


Nesta entrevista ao esquerda.net, José Vitor Malheiros realça a importância da implementação de novas ferramentas essenciais para uma verdadeira estratégia de combate à corrupção. O jornalista pronuncia-se ainda sobre as debilidades do sistema judicial português no combate à corrupção.
Qual a sua opinião sobre a criação do crime de enriquecimento ilícito para os titulares de cargos públicos ou políticos?
Eu sou claramente a favor da criação do crime de enriquecimento ilícito. A corrupção é um crime que é muito difícil de investigar, é um crime invisível. É possível, por exemplo, que aconteça apenas num computador que está instalado num país qualquer distante, existem transferências de dinheiro que são feitas dessa forma. São, portanto, crimes que deixam um rasto muito difícil de seguir, que exigem competências muito particulares e, de facto, a melhor forma de os identificar é através de manifestações de riqueza que não são explicáveis para os seus detentores. A criminalização do enriquecimento ilícito, do enriquecimento não transparente, daquele que não é possível explicar, parece-me fundamental como ferramenta de combate à corrupção.
Qual é a importância do levantamento do sigilo bancário para o combate à corrupção?
Penso que o levantamento do sigilo bancário é também uma ferramenta fundamental num programa de combate à corrupção. É evidente que têm que existir mecanismos de defesa da privacidade, no entanto, o levantamento do sigilo bancário no caso de investigações criminais no âmbito de um programa de combate à corrupção parece-me absolutamente fundamental. Não me parece que seja possível defender a manutenção do sigilo bancário com base apenas na defesa de valores como a defesa da vida privada. As investigações policiais, as investigações criminais devassam, investigam forçosamente, inúmeros aspectos da vida privada das pessoas, por vezes com muito maior sensibilidade do que são os seus dados bancários.
Considera que, em Portugal, o sistema judicial é eficaz no combate à corrupção?
Não só os especialistas que têm investigado o fenómeno da corrupção, como os profissionais que trabalham na área do combate à corrupção, quer no sistema judicial, quer na investigação criminal, referem isso. Não se trata de uma questão de opinião. Existem relativamente poucas denúncias de corrupção, e essas denúncias são, esmagadoramente, feitas de forma anónima e não permitem o prosseguimento das investigações. Por outro lado, o número de acusações que é feito em Portugal pelo sistema judicial é, de facto, muito baixo, e a percentagem de condenações é praticamente irrelevante. O facto de pessoas que são condenadas verem sistematicamente as suas penas suspensas, fazerem sistematicamente recurso dessas penas e, por vezes, de forma prolongada ao longo dos anos, utilizando imensas manobras dilatórias, e acabarem por não ser sancionadas de forma nenhuma, tem duas consequências. Por um lado, contribui para o sentimento de que é inútil recorrer à denúncia, de que a investigação criminal e o sistema judicial não são operantes e, acima disso, para o sentimento de que, provavelmente, esses dois sistemas, que deveriam ser esteios de uma sociedade democrática, estão também eles corrompidos, são também eles pilares de um sistema corrupto.  
O regime de incompatibilidade poderá contribuir para o fim da “dança de cadeiras entre poder político e poder económico”?
É curioso que praticamente não existe nenhum emprego no sector privado que não venha acompanhado de alguma incompatibilidade. Uma pessoa não pode trabalhar numa empresa e, simultaneamente, noutra empresa do mesmo ramo, ou numa empresa concorrente. Isto acontece em praticamente todos os sectores. Na administração pública e no sistema político subsistem inúmeras situações onde não existe qualquer incompatibilidade. Nós vemos funcionários de autarquias que são simultaneamente trabalhadores de gabinetes de projectos de construção civil, vemos deputados que exercem, simultaneamente, a advocacia, o que me parece completamente inconcebível. A definição de um sistema que envolva toda a administração pública e todos os dirigentes políticos e que defina incompatibilidades e conflitos de interesses parece-me absolutamente fundamental. No entanto, tal como acontece relativamente aos registos de interesses e às declarações de património, entre outros, essas incompatibilidades não devem ser uma mera formalidade. Não se trata apenas da entrega de uma declaração que pode ou não ser verdadeira, que pode ou não estar desactualizada. Todos esses mecanismos são mecanismos que só funcionam se forem, de facto, escrutinados pelas autoridades, pelos media, pela sociedade em geral. É evidente que isso terá que ser analisado caso a caso, mas, no caso dos dirigentes políticos, todas essas declarações deveriam ser submetidas a um escrutínio sistemático por parte das autoridades.
Considera que a transparência é uma ferramenta central de qualquer estratégia de combate à corrupção?
A transparência é a ferramenta central de qualquer estratégia de combate à corrupção. Ainda que seja necessária uma polícia especializada e técnicos competentes em diversas áreas, o que é central, de facto, nessa estratégia é a exigência da transparência, porque quando nós temos transparência temos todos os grupos de interesses e as organizações que existem na sociedade e todos os cidadãos a poderem escrutinar aquilo que se passa. A transparência é importante não apenas porque obriga a pôr a nu, mas porque obriga a uma discussão. Temos muito para discutir. Há incompatibilidades que talvez façam sentido, outras não, há fontes de rendimento que são admissíveis numa circunstância e que poderão não ser noutra… Ainda que todos tenhamos a tentação de ver a corrupção a preto e branco, as coisas não são, por vezes, tão claras que nos permitam tomar uma decisão e condenar imediatamente, e não devemos fazê-lo de uma forma demasiado leviana. Esse debate que é necessário fazer a propósito do que é lícito e do que é que não é lícito, porque é que deve ser permitido e quando é que deve ser permitido e a quem é que deve ser permitido, é um debate que só é possível quando os dados, quando a informação de base está disponível para a sociedade debater. Por um lado, a transparência é fundamental para que haja fiscalização mas é fundamental também para que alimente um debate sobre quais é que devem ser as normas, os procedimentos e os critérios que devem ser seguidos.      
Como contrariar a corrupção “Robin dos Bosques”?
A corrupção “Robin dos Bosques” é um termo que eu inventei, não é uma designação técnica. Acontece que, em Portugal, muita gente tem a noção de que as leis são feitas pelos ricos para proteger os ricos e de que o sistema jurídico é um sistema essencialmente injusto que eterniza desigualdades. Quando se tem essa concepção é natural que se salte para a consequência de que combater essas leis, combater essas normas, desobedecer a essas normas jurídicas, pode não só ser moralmente aceitável mas até pode ajudar a equilibrar a balança de poder, pode ajudar a reduzir algumas desigualdades sociais. Ora o que a investigação nos prova é que isso não acontece. A corrupção não é, nunca em circunstância alguma, nem a pequena corrupção, um fenómeno de combate ou de redução das desigualdades sociais. A corrupção é um fenómeno de poder, sempre feita pelos poderosos, e está sempre ao serviço dos poderosos. A corrupção não é um mecanismo de transmissão de poder, é um mecanismo de eternização dos poderosos no poder. Para que os cidadãos em geral tomem consciência do quão perniciosa é a corrupção, e a corrupção não é apenas perniciosa porque desvia recursos públicos mas principalmente porque cria um descrédito no sistema político, na estrutura jurídica, nas leis, nos políticos e na própria democracia, é necessário existir informação de cariz técnico sobre aquilo que acontece, sobre as consequências de determinados actos, sobre a bondade de determinadas opções. É necessário, igualmente, assegurar o debate, que é um debate político no qual as organizações políticas têm uma particular responsabilidade. Não há nenhuma outra forma de convencer as pessoas de que mesmo a pequena corrupção não é aceitável, é perniciosa para toda a gente e não ajuda a combater as desigualdades, a não ser através da informação sobre os diversos processos de corrupção para que as pessoas adquiram consciência dos recursos que são desviados.

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.