domingo, 16 de outubro de 2011

A mistificação dos rankings


Os resultados desmentem a superioridade da escola privada. E isso acontece tanto nas avaliações nacionais como nas suas comparações com resultados internacionais.
O argumento da direita para usar os recursos públicos para financiar o ensino privado baseia-se nos alegados melhores resultados da escola privada. Se esta é melhor devia ser aberta a todos, e o Estado melhor faria em pagar a escola privada em vez de pagar a escola pública. O problema é que este argumento não é verdadeiro, porque é desmentido pelos factos.
A sua demonstração seria dada pelos rankings das classificações obtidas pelos alunos nos exames obrigatórios. José Manuel Fernandes, com outros neoconservadores como Helena Matos, Fátima Bonifácio ou Maria Filomena Mónica mobilizaram colunas e editoriais para a causa da avaliação das escolas através de rankings dos resultados de exames, para retirarem a conclusão esperada que permitisse a promoção do ensino privado, porque teria melhores resultados do que o público. Conseguiram a publicação e há oito anos que são publicados os rankings das escolas segundo as classificações dos exames do 12.º ano.
O problema é que os resultados desmentem a superioridade do privado. E isso acontece tanto nas avaliações nacionais como nas suas comparações com resultados internacionais.
Como é evidente, o privado é valorizado pelo efeito da escolha social dos seus alunos. De facto, os resultados são melhores quando as escolas seleccionam alunos de classes favorecidas, que têm uma tradição familiar de acesso ao conhecimento e condições de aprendizagem que os distinguem dos alunos mais pobres.
Um exemplo é o colégio de São João de Brito, uma escola privada com alunos de famílias privilegiadas. Este Colégio tem estado sempre numa posição destacada, normalmente entre as cinco primeiras posições e, em 2010, estava na oitava posição. O Colégio é da Ordem dos Jesuítas, que tem mais duas escolas, estas com contrato de associação com o Estado e que, por isso, recebem alunos de todos os extractos sociais: o Instituto Nun´Álvares em Santo Tirso e o Colégio da Imaculada Conceição em Cernache, Coimbra. Só que os resultados destas escolas são chocantemente diferentes dos do Colégio de São João de Brito: o Nun'Álvares ficou em 177.º em 2009 e em 212º em 2010, e a Imaculada Conceição em 91.º e depois em 230º.
Inquirida sobre estas diferenças tão notórias, a Ordem reafirmou que os métodos de ensino, contratação e formação de professores são exactamente idênticos nas três escolas. No entanto, o responsável pela escola premiada, o São João de Brito, não esconde o privilégio social: "A grande maioria dos nossos estudantes é oriunda da classe média alta", diz António Valente. E pagam 400 euros por mês, podia ter acrescentado. Jorge Sena, o director da escola de Santo Tirso, explica por sua vez a diferença: "Esta zona já foi muito industrializada, mas está a atravessar uma grave crise de desemprego. Mais de 30% dos alunos recebem apoios económicos do Estado e muitas famílias têm uma história de pobreza cultural". E o director da terceira escola, a de Coimbra, concorre: os resultados são inferiores, porque "estamos num meio completamente diferente do de São João de Brito. Aqui a população estudantil é mais heterogénea. Não são famílias da classe média alta. Estamos num meio rural e não nos podemos comparar com os alunos da cidade" (i, 14.10.09). Afinal, a pobreza conta e faz diferença. Não é o ensino privado que é melhor, são os meios sociais dos alunos que são diferentes e que dão vantagem aos mais ricos.
José Manuel Fernandes aceita que há um problema social: "Dir-se-á: isso acontece [os alunos das privadas terem melhores resultados do que os das públicas] porque nas escolas privadas andam os alunos de famílias com melhor situação económica. É verdade, mas não é totalmente verdade nem explica tudo" (P, 10.12.2010). Não é totalmente verdade, falta a melhor qualidade do ensino privado, diz-nos o nosso arauto da escola privada.
Mas os exemplos também desmentem esta ideia. A escola D. Maria, em Coimbra, está no 13º lugar do ranking. No mesmo bairro, existe uma escola privada com contrato de associação, que portanto tem alunos com as mesmas características sociais: é o Colégio de S. Teotónio, e está em 35º lugar. Neste caso, o ensino privado é pior.
Nuno Serra sublinhou ainda uma outra razão para estas diferenciações, a interioridade que tem um preço, o atraso relativo. Os rankings dos resultados escolares reflectem inteiramente uma divergência nacional: no litoral norte, a média dos resultados de todas as escolas é 57% e a mesma vantagem é assinalável mais para o sul. No litoral está a parte mais rica do país e também as famílias com mais educação formal. Ora, as escolas privadas procuram o lucro, e por isso 78% estão localizadas no litoral onde, havendo mais população e mais clientes, existem também melhores condições sociais e culturais. Pelo contrário, o ensino público está em todo o país, com 48% das escolas no interior, contra 22% do privado (P, 16.1.2011). Logo, têm resultados influenciados pela sociedade cujos filhos educam.
Ora, se é verdade que os rankings nacionais não confirmam a tese da virtude das escolas privadas, as comparações internacionais também não. Assim, além da publicação dos rankings nacionais, foi divulgado outro estudo, o Relatório PISA, divulgado pela OCDE em Dezembro de 2010. Este relatório regista uma avaliação sobre a aprendizagem de jovens de 15 anos em vários domínios, incluindo a matemática e a interpretação de textos, comparando vários países. Sendo o único estudo internacional comparado sobre os resultados escolares, este relatório é um teste interessante sobre a evolução de cada sistema educativo.
No relatório de 2010, a OCDE destacou que "as melhores escolas são as mais igualitárias - os estudantes têm bom desempenho independentemente das suas origens sócio-económicas" e que "as escolas públicas e privadas atingem resultados semelhantes" - uma conclusão que também contrasta com a proposta mercantil dos neoconservadores. Mais ainda, sublinhou que os métodos de retenção - os chumbos dos alunos com dificuldades - têm dado resultados negativos: "os países em que os estudantes repetem os anos tendem frequentemente a ter piores resultados de conjunto".
A direita interpretou estes resultados como demonstrando, ainda assim, que o ensino privado é melhor do que o público. De facto, em Portugal e para este estudo, a média dos estudantes inquiridos que estão nas escolas públicas é inferior à média dos estudantes (que são só um sétimo da amostra) que vêm das privadas. Mas isso não demonstra que o ensino privado seja melhor do que o público, considerando o privilégio social das privadas contra a diversidade social das públicas. Os resultados do PISA até demonstram o contrário do que afirma a direita: se compararmos os resultados dos alunos das escolas privadas portuguesas com os das privadas dos outros países, verificamos que as portuguesas ficam em 12º lugar em leitura e na segunda metade da tabela em ciências e matemática (em 28 países). O desempenho não é famoso, porque são piores do que as privadas na grande maioria dos outros países.
É certo que estas comparações são traiçoeiras, porque os diversos países têm tradições muito diferentes: no Japão, em Itália e na Holanda, as escolas privadas registam piores resultados do que as públicas, e o contrário acontece nos outros. Em todo o caso, em quase todos os países que a OCDE estudou, a diferenciação social marca a escolha entre o público e o privado. Só que, considerando tal diferença, a OCDE conclui que umas e outras escolas têm desempenhos comparáveis.
José Manuel Fernandes já tinha reconhecido, dos resultados do inquérito PISA anterior, que é a escola que cria capacidade de igualização: "Ora, olhando para os números [PISA], verificamos que os nossos melhores alunos a ciências - ou, pelo menos, os que tiveram melhores resultados - estão entre os que menos se diferenciam por classes de rendimento (um bom sinal) e estão à frente entre os que manifestam mais vontade de aprofundar os estudos nestas áreas (um excelente sinal)" (P, editorial, 8.9.2009). Mas os resultados de 2010 vão ainda mais longe e reforçam a conclusão de que é a universalidade da escola pública que garante o sucesso da escola. Os resultados da Suécia, que foi o único país europeu a introduzir o "cheque-ensino", são também expressivos: foi um dos sistemas de ensino que registou uma mais acentuada degradação, pela avaliação do PISA.
O cheque-ensino é, pois, uma proposta que visa a utilização dos recursos públicos para financiar o ensino privado, e assim reduz o apoio ao ensino público. Deste modo, privatiza dinheiro dos impostos e degrada o serviço público, ou seja, retira aos trabalhadores uma parte do salário indirecto para o entregar ao mercado. Por isso tem sido rejeitado" (de "Portugal Agrilhoado, 2011).

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.