Para arrecadar uma receita adicional de 1.000 milhões de euros, pune-se o trabalho – sobre-taxando o subsídio de Natal - e deixam-se os juros e dividendos de fora. É necessário estimular a poupança, justifica o Governo. Cinismo puro: a poupança de quem? Aos 44% da população portuguesa que, não fossem as prestações sociais do Estado, estariam em risco de pobreza, anunciar a isenção de juros e dividendos em nome da poupança soa a insulto. Não, o que está em causa é a criação de uma almofada orçamental à custa da perda de qualquer almofada para os rendimentos do trabalho situados no limiar da pobreza e em favor de uma almofada para os juros, as acções e os dividendos.
No mesmo dia em que expôs ao país este plano, o Ministro das Finanças anunciou que o Governo prevê uma subida do desemprego de 10.8% para 12.5% ainda este ano e para 13.2% em 2012. A destruição de trabalho cifrar-se-á em perto de 150 mil postos de trabalho irreversivelmente eliminados. Para este milhão de pessoas atiradas para a margem o Governo reduzirá o montante e o tempo do subsídio de desemprego. Chama a isto programa de emergência social. Gente, tanta gente, cuja vida deixa de ter qualquer almofada a não ser a assistência aos indigentes.
Um país, dois sistemas. Na ilusão perversa de que todos acreditemos que, se formos por aí, o calvário grego nos passará ao lado. Pois eu digo-vos que não, que não reclinaremos a cabeça nessa almofada que está preparada para nos sufocar durante o sono.
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