Anders também destacou que a boa gestão dos recursos hídricos e o fornecimento de água potável e saneamento são requisitos fundamentais para cumprir os diferentes Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), entre eles reduzir para metade a proporção de pessoas que sofrem indigência e fome até 2015.
“Sem água, nunca poderemos combater a fome. Sem casas de banho nas escolas, as meninas continuarão a abandonar os estudos antes de completar a sua educação. E sem um saneamento adequado, as doenças continuarão a espalhar-se, o que aumentará a mortalidade infantil e a má saúde materna”, explicou. Nos hospitais há muitas camas ocupadas por pessoas que sofrem de doenças originadas na má qualidade da água, acrescentou Anders.
“Portanto, a água deveria ser reconhecida como um dos temas mais importantes a serem abordados na Cimeira, reconhecendo que é necessário urgentemente aumentar o financiamento em todos os planos da nossa sociedade”, disse Anders, cujo instituto será sede da Semana Mundial da Água, de 5 a 11 deste mês, em Estocolmo. Espera-se que deste encontro – que este ano completa o seu vigésimo aniversário – participem mais de 2.500 especialistas, profissionais, políticos e empresários, que debaterão sobre a crise hídrica mundial.
Esta crise é maior do que a causada pelo HIV/SIDA, pela malária, por tsunamis e terremotos, “e por todas as guerras juntas num ano”, alertou Aaron Wolf, director do programa sobre Gestão e Transformação de Conflitos Hídricos na Oregon State University. O alívio da pobreza é uma estratégia explícita para enfrentar as inseguranças do mundo, afirmou Aaron em entrevista colectiva na ONU. Nesse sentido, a água foi “uma preocupação explícita em matéria de segurança”.
Segundo a ONU, cerca de 800 milhões de pessoas em todo o mundo carecem de acesso a água potável, enquanto 2,5 mil milhões não contam com saneamento adequado. Serena O’Sullivan, da organização End Water Poverty, com sede em Londres, disse à IPS que a comunidade internacional precisa fazer mais e melhor para cumprir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Isso inclui investir em saneamento, como parte de um enfoque exaustivo para combater pobreza, fome e doenças.
O saneamento, em particular, é absolutamente desatendido pela comunidade internacional e pelo processo dos ODM. “A cimeira da ONU proporciona uma oportunidade única de agir, e a End Water Poverty estará lá para garantir que as nossas mensagens sejam ouvidas”, afirmou Serena. “Trabalhamos com outras redes mundiais para elaborar um informe político – Breaking Barriers (Rompendo Barreiras) – que chama para um novo enfoque na abordagem dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”, acrescentou Serena. “Se queremos erradicar a pobreza, simplesmente não podemos ignorar a pobreza da água e do saneamento”, destacou.
As evidências falam por si mesmas. Os países mais pobres perdem 5% do seu produto interno bruto por culpa da crise, enquanto a população perde tempo colectando água ou sofrendo de doenças como diarreia, o que a impede de trabalhar e estudar. Isto também sobrecarrega os frágeis sistemas de saúde.
Na África subsaariana, metade de todos os leitos hospitalares está ocupada por pessoas que adoecem pela má qualidade da água e do saneamento. “O acesso a água limpa e a um saneamento adequado é um requisito para tirar as pessoas da pobreza”, disse em Março a vice-secretária geral da ONU, Asha-Rose Migiro, no Diálogo Interactivo de Alto Nível sobre a Água. Também destacou que sete em cada dez pessoas sem saneamento apropriado vivem em áreas rurais.
Contudo, a quantidade de habitantes de áreas urbanas que carecem dessas instalações aumenta junto com as populações das cidades. “Apesar de 1,3 mil milhões de pessoas ter conseguido acesso a um melhor saneamento desde 1990”, é provável que no mundo falte atender mil milhões de pessoas para cumprir o Objectivo sobre saneamento, disse Asha-Rose.
Esses Objectivos, definidos pela Assembleia Geral da ONU, incluem reduzir para metade o número de pessoas que sofrem pobreza e fome, com relação a 1990, garantir educação primária universal, promover a igualdade de género e reduzir a mortalidade infantil e a materna, combater a sida, a malária e outras enfermidades, assegurar a sustentabilidade ambiental, e fomentar uma associação mundial para o desenvolvimento. Tudo isto até 2015.
O seu cumprimento encontrou obstáculos devido a vários factores, como as crises financeira e alimentar, o impacto da mudança climática e a redução da assistência ao desenvolvimento por parte dos doadores do Ocidente. Espera-se que a próxima Cimeira avalie os êxitos e fracassos no caminho para essas metas e também procure meios para acelerar o seu progresso nos próximos cinco anos.
A Assembleia Geral da ONU adoptou, no mês passado, uma resolução reconhecendo o direito humano básico à água. Este “é um sinal positivo que vai na direção correcta”, afirmou Anders. Porém, destacou que “não é legalmente vinculante” para os 192 Estados que compõem a ONU e que, “no final das contas, o que importa é se os que tomam as decisões em todos os níveis da sociedade” estão dispostos a considerar isto uma prioridade.
Envolverde/IPS
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