segunda-feira, 7 de junho de 2010

As circunstâncias

Ao contrário do que faz crer a propaganda sionista, as coisas não correram mal por causa dos activistas, mas porque a combinação entre decisão política e execução militar se revelou trágica.
Telavive afirma que os seus soldados foram atacados e difundiu imagens que indicam isso mesmo. O governo israelita mostrou ainda fotografias do "material de guerra" a bordo do "navio do ódio". Ao contrário da sequência filmada, as fotos não provam nada. Facas de cozinha, chaves de fendas, paus e correntes são comuns em qualquer porão. E as máscaras anti-gás e fisgas incluídas no "arsenal" nem com boa vontade se podem catalogar como ofensivas.
Entretanto, com a libertação, sob pressão internacional, dos 648 prisioneiros não israelitas que integravam a frota, começou a ser conhecido o ponto de vista dos sitiados. Eis o depoimento do jornalista da Al Jazeera, Mohamed Vall: "durante hora e meia pensámos que ninguém sobreviveria ao ataque israelita quando vimos 30 navios de guerra rodeando o nosso barco. Ficámos com medo de uma guerra total contra um barco repleto de homens, mulheres e até de crianças. Os primeiros soldados a entrar no barco não foram mortos, foram capturados pelos defensores do barco que fizeram um escudo humano". Foi uma mistura de pânico, medo e raiva, que explicou a reacção dos tripulantes ao desembarque dos primeiros soldados. A espantosa inépcia com que a operação foi montada ajuda a compreender o que se seguiu. Demos de novo a palavra a Mohamed Vall: "momentos depois, outro helicóptero maior depositou mais soldados e dessa vez dispararam imediatamente contra as pessoas e mataram todas as que podiam para poder chegar à cabina e tomar conta do barco". Os banhos de sangue nem sempre obedecem a planos premeditados. Muitas vezes, são consequência de decisões políticas que derraparam no plano da execução militar. É, aparentemente, o caso. Othman Battiri, outro membro da equipa da Al Jazeera, relata a sequência dos soldados e oficiais de cabeça perdida: "primeiro lançaram bombas de gases lacrimogéneos e dispararam balas de borracha e algumas pessoas ficaram feridas por estas munições. Depois passaram a usar munições de guerra, feriram vários homens e observei que quatro pessoas ficaram mortas. Vi dois homens morrer ao pé de mim, um deles tinha uma bala no peito, outro sangrava abundantemente. Descemos e encontrámos mais mortos: um deles tinha uma bala na cabeça como se tivesse sido atingido por um franco-atirador. Havia munições de guerra por todo o lado. Cerca das sete da manhã começaram a entrar nos nossos camarotes e a amarrar-nos as mãos".
Já não é, contudo, possível, invocar a circunstância da espiral de medo e sangue para explicar ordens que ocorrem bem depois da matança. Um deputado egípcio e médico dentista, Hazem Faroug, declarou que "quando tentámos transportar os feridos, os soldados israelitas impediram-nos, disseram que não podiam ser os homens a fazê-lo. Apontaram-nos armas à cabeça com iluminação laser e disseram às mulheres para levar os feridos. Algumas não conseguiram..."
Ao contrário do que faz crer a propaganda sionista, as coisas não correram mal por causa dos activistas, mas porque a combinação entre decisão política e execução militar se revelou trágica. A decisão política existiu: os barcos não deveriam chegar ao seu destino, acontecesse o que acontecesse. E houve uma operação militar: se as imagens divulgadas por Israel "explicam" algo, é que o nível de incompetência revelado no assalto foi tão responsável pela tragédia quanto a decisão política.
Atirar as "culpas" sobre os tripulantes do barco é que não lembra ao diabo. De um lado estão militares armados e presumivelmente disciplinados, obedecendo a um plano de operações; do outro, civis entre o pânico, a indignação e a raiva. Alguns resistiram? Como não? Pior do que a decisão e muito pior do que a incompetência, só o modo como se tira a água do capote. Definitivamente, Israel já não é o que era...
Perguntar-me-ão: e os activistas não esticaram a corda ao não obedecerem às ordens da defesa marítima israelita? A resposta a esta pergunta mais do que legítima divide-se em duas partes: por um lado, esta era a nona tentativa desde que, em Agosto de 2008, se constituiu o movimento internacional que tem conseguido quebrar, episodicamente, o bloqueio a Gaza. Das iniciativas passadas, cinco tiveram sucesso e três foram travadas pelas autoridades do Estado de Israel. Em nenhuma delas, contudo, houve vítimas mortais a registar. Em nenhuma delas, os militares israelitas se comportaram com os estrangeiros como se eles fossem palestinianos... Por outro lado, este movimento de ajuda humanitária não tem por principal objectivo a mediatização. Ele quer mesmo furar o bloqueio e demonstrar que é possível fazê-lo usando contra as armas, meios de resistência não violenta. Que é possível à "sociedade civil" ser eficaz onde a paralisia da comunidade internacional bordeja a cumplicidade. Forçar a corda é a condição de passagem. Inverter os parâmetros de responsabilidade ou imitar Pôncio Pilatos (ao estilo, "houve culpas dos dois lados") é esquecer o essencial: que Israel aprisionou, desde Agosto de 2008, milhão e meio de almas a céu aberto e que lhes nega o mínimo de condições de dignidade na sobrevivência. Anteontem, o embaixador de Israel em Bruxelas chegou atrasado a uma audição no Parlamento Europeu e exibiu a sua indignação por sido "bloqueado" durante duas horas e meia numa embaixada cercada por manifestantes pró-palestinianos. Foi preciso que alguém lhe perguntasse se conseguia imaginar a indignação dos de Gaza, sob bloqueio há dois anos, para se perceber como o mundo é visto em função da cadeira onde cada um de nós se senta...
Por mim, deixo-lhe apenas uma pergunta: imagine que os indonésios tinham considerado o "Lusitânia" como uma "arma de guerra" ao serviço dos "terroristas de Xanana Gusmão", que o barco em que ia Ramalho Eanes decidia desobedecer pacificamente, e que os militares da ocupação tinham actuado como agora o fizeram os israelitas. De que lado estaria? No meio de lado nenhum?

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.