domingo, 6 de março de 2011

A morte lenta das áreas protegidas

A aprovação de planos de ordenamento de áreas protegidas que viram as costas às suas populações e abrem as portas aos grandes interesses económicos que aí se querem rentabilizar reflecte o falhanço da política de conservação da natureza e da biodiversidade. Os exemplos mais recentes estão na Peneda Gerês e no Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Portugal tem dos patrimónios naturais, paisagísticos e culturais mais ricos a nível europeu. A expressividade do território classificado para protecção é disso revelador, onde se incluem áreas protegidas de elevada diversidade.
A esta classificação deveriam corresponder políticas de serviço público para proteger a natureza e a biodiversidade, nas suas diversas componentes, conseguindo uma relação harmoniosa com as populações que residem nestas áreas e as que aí desenvolvem as suas actividades de sustentação económica, como a pequena agricultura, pastorícia ou pesca.
Reforçar a relação identitária e cultural que as populações têm com os seus territórios, muitas vezes secular, valorizar as actividades tradicionais que são parte integrante destas áreas e contribuem frequentemente para a sua riqueza e diversidade, bem como promover o desenvolvimento das economias locais tirando partido das valias destas áreas a favor das suas populações, deveriam ser eixos importantes desta política.
Mas o que este Ministério do Ambiente tem feito é precisamente o contrário. Não só continua a incapacitar o ICNB (Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade), cada vez mais descapitalizado, sem recursos humanos e meios logísticos, afastando-o dos territórios que deveria monitorizar, salvaguardar e valorizar e do contacto de proximidade com as suas populações, como tem aprovado planos de ordenamento que penalizam as gentes das áreas protegidas e as suas actividades, frequentemente sem qualquer justificação de ordem conservacionista, ao mesmo tempo que abrem a porta aos maiores atentados ao património natural para satisfazer os interesses económicos que aí apenas se querem rentabilizar (exemplo, o imobiliário) e em nada beneficiam as comunidades locais.
Vejam-se os exemplos mais recentes da aprovação dos planos de ordenamento do Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG) e do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV).
No PNPG, não só o plano tem várias gralhas e incoerências ao longo dos seus artigos, como introduz um conjunto de restrições e condicionantes que muito dificultam a vida às populações e actividades tradicionais, sem que isso acrescente melhor protecção ambiental ou promova o desenvolvimento sustentável das economias locais. Por exemplo, não se compreende o excesso de pedidos de autorizações e pareceres exigidos, o que parece ser mais uma motivação para aplicar taxas às populações e, assim, financiar um ICNB cada vez mais debilitado e incapaz de realizar as actividades mais simples na área do PNPG, como seja ao nível da vigilância ou da limpeza dos caminhos rurais. Também não se compreende a nova definição introduzida de "residente" que exclui os naturais, muitas pessoas que aí têm terrenos e desenvolvem actividades tradicionais desde há muito, chegando ao absurdo de dividir a população de uma mesma freguesia entre os que tiveram a sorte de ser considerados "residentes" e os outros a quem todos os condicionalismos são aplicados.
Estes são alguns exemplos que mostram como com este plano se perdeu uma oportunidade para o PNPG se conciliar com as populações, as quais têm ao longo dos anos e com as suas actividades tradicionais contribuído para a riqueza ambiental, cultural e patrimonial deste território e se sentem cada vez mais excluídas e desconsideradas.
No PNSACV, o plano aprovado não resolveu as inconsistências das versões anteriores e que foram em consulta pública sujeitas a dezenas de contributos pouco considerados. Este plano, além dos erros aberrantes de cartografia e de zonamento, ao mesmo tempo que coloca todas as condicionantes e restrições sobre a agricultura e pastorícia extensivas, à pesca local e ao turismo da natureza de pequena dimensão, abre espaço aos grandes empreendimentos turísticos e incentiva a agricultura intensiva no perímetro de rega de Mira, sendo absolutamente contraditório nos seus objectivos. É, por isso, um plano que não tem em devida conta a realidade social e territorial do PNSACV, nem as especificidades de algumas comunidades locais, vindo apenas criar uma série de novos condicionalismos que irão afectar negativamente o desenvolvimento local, acelerar o despovoamento, acentuar dramaticamente a crise económica e social já existente e agravar as condições de vida para muitos residentes do PNSACV, nomeadamente dos mais desfavorecidos.
O grande erro deste Ministério é entender as populações não como parceiras fundamentais para a concretização dos objectivos de gestão pública das áreas protegidas, mas sim como um problema a conter. Porque este é um Ministério que tem uma atitude desconfiada das populações, e alimenta esta imagem na comunicação social, fazendo passar a ideia de que os grandes riscos de degradação destas áreas são as pessoas que lá vivem e trabalham, ao mesmo tempo que promove uma atitude desconfiada das populações em relação ao ICNB e ao Ministério: ou seja, está a construir um clima de conflitos constantes (senão mesmo um barril de pólvora) que em nada responde aos interesses da conservação da natureza e da biodiversidade.
É certo que gerir uma área protegida é sempre uma fonte de conflitos, porque há vários interesses em jogo, nem sempre concordantes. É certo que muitos autarcas ainda têm uma visão de desenvolvimento dos seus territórios que passa pela política do betão e dos grandes projectos turísticos ou agrícolas, tendo mesmo sido co-responsáveis, ao longo dos anos, por vários atentados nestas áreas, como é o caso de licenciamentos que nunca deveriam ter sido emitidos ou do alargamento injustificável de perímetros urbanos nos PDM. Visão esta, aliás, concordante com a de um Governo que tem premiado a especulação imobiliária, os grandes resorts turísticos PIN ou as grandes explorações de agricultura intensiva.
Mas também é certo que este Ministério nunca lhes deu uma visão alternativa de desenvolvimento dos seus territórios, tirando vantagem das valias únicas e singulares existentes nas áreas protegidas e diferenciadoras de outros territórios. Por exemplo, os planos de ordenamento nunca têm associadas perspectivas de programação do desenvolvimento das economias locais que valorizem as riquezas naturais, paisagísticas e culturais das áreas protegidas a favor das suas populações, como seja ao nível do turismo da natureza de pequena escala, do alojamento familiar, da visitação guiada, da promoção dos produtos de origem local, da gastronomia, das tradições populares, entre outros.
Perante os conflitos existentes, a escolha deste Ministério tem sido a de penalizar as populações, promover o abandono humano destas áreas e de muitas actividades que delas fazem parte e as enriquecem, privilegiando quantas vezes os interesses exteriores que se querem rentabilizar nestas áreas sem benefício para as comunidades locais e a natureza. A escolha poderia ser outra, a que passasse por construir alianças fortes entre as populações e a gestão pública das áreas protegidas em prol da sua sustentabilidade ambiental, social e económica e contra os interesses do negócio e da especulação.
Com esta política de voltar costas entre as áreas protegidas e as suas populações, falham os próprios objectivos de conservação da natureza e da biodiversidade e compromete-se a prazo a viabilidade das áreas protegidas. Sem sustentabilidade social fica em causa a sustentabilidade ambiental das áreas protegidas e esta é a política do fracasso.
Mas engane-se quem pensa que é falta de visão do Ministério ou apenas uma visão ainda assente num modelo conservacionista estrito que entende natureza e actividades humanas sempre como conflituantes e, por isso, prefere impor condicionantes (mesmo que absurdas) como medidas preventivas.
Esta é uma visão estratégica bem clara e que já assistimos em tantos outros sectores de gestão pública, em que o Estado (central) gere mal, desperdiça recursos e alimenta conflitos com os supostos beneficiários: esta é a estratégica que vai introduzindo a ideia de que os privados fazem melhor (ou pelo menos, pior não fazem) e são mais eficientes. A ideia de que a empresarialização da gestão dos bens públicos, como são os presentes numa área protegida, funciona melhor. A ideia de que é preciso mercadorizar a natureza e a paisagem para justificar a despesa pública, porque mesmo com a gestão privada continua a ser o Estado a pagar o serviço público (como bem conhecemos das várias concessões e parcerias público-privadas que abundam no país). Esta é a estratégia do liberalismo aplicada à natureza, de cedência aos interesses económicos que se querem rentabilizar no melhor do nosso território e ou viver à sombra das rendas pagas pelo Estado.
E esta é uma estratégia totalmente consonante com as ideias de municipalização da gestão das áreas protegidas, como há tantos anos a direita vem defendendo. Porque entregar a gestão aos municípios (o que implica maiores custos para os orçamentos municipais), por melhor que seja a intenção dos autarcas, significa uma menor capacidade de resistir a estes interesses económicos (até porque o financiamento das autarquias continua a estar muito associado à construção ou pode advir a instalação de parques eólicos, barragens e outro tipo de empreendimentos ou actividades), mas também se perde a componente de interesse público, superior ao meramente local, dos valores presentes nas áreas protegidas.
Defender as áreas protegidas como bens públicos significa ter políticas de gestão pública que passem pela construção de uma relação harmoniosa entre os valores ambientais e paisagísticos e as populações que aí vivem e têm o seu trabalho. Por isso, a revisão dos planos de ordenamento do PNPG e do PNSACV é uma exigência cidadã a bem da sustentabilidade social e ambiental destas áreas protegidas.

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.