sábado, 13 de agosto de 2011

Inglaterra: Os saques reflectem uma sociedade governada pela pilhagem e pela ganância


Os distúrbios irromperam em várias partes do que é hoje a cidade mais desigual do mundo desenvolvido — onde a riqueza dos 10% mais ricos é 273 vezes maior do que a dos mais pobres. Por Seumas Milne, Guardian.
Loja a arder e carro da polícia queimado, Tottenham, Londres, 6 de Agosto de 2011 – Foto de Beacon Radio/Flickr
Loja a arder e carro da polícia queimado, Tottenham, Londres, 6 de Agosto de 2011 – Foto de Beacon Radio/Flickr
David Cameron precisa dizer que a violência não tem causa, a não ser a criminalidade — ou ele e os seus amigos podem ser responsabilizados.
É essencial para os que têm poder na Inglaterra que os distúrbios que se espalham não tenham causa além da ferocidade maléfica dos envolvidos. Não é nada, mas “criminalidade pura e simples”, declarou David Cameron depois de reduzir as suas férias na Toscana. O presidente da Câmara de Londres e, como Cameron, ex-integrante do Clube Bullingdon [um grupo exclusivo da Universidade de Oxford], Boris Johnson, vaiado por londrinos hostis em Clapham Junction, alertou que os provocadores devem parar de ouvir as “justificativas económicas e sociológicas” (embora ele não tenha explicado quem as estava a dar) sobre o que estão a fazer.
Quando o seu predecessor Ken Livingstone ligou os ataques ao impacto dos cortes de orçamento, é como se ele tivesse largado fogo num prédio. O Daily Mail [tablóide britânico] gritou que culpar os cortes era “imoral e cínico”, e houve um eco dos entusiastas da repressão. Não havia nada a explicar, insistiram eles, e a única resposta deveria ser dada com balas de borracha, canhões de água e tropas na rua.
Ouviremos muito mais disso quando o Parlamento reunir — e não é difícil entender o motivo. Se estes distúrbios não têm causas políticas e sociais, então claramente nenhuma autoridade pode ser responsabilizada. E mais, com muita gente aterrorizada pelos distúrbios e frustrada com o fracasso da polícia, o governo tem a oportunidade de recuperar o equilíbrio apresentando-se como uma força em defesa da ordem social, com isso restaurando a sua credibilidade profundamente danificada.
Mas é uma posição que não faz sentido. Se a erupção desta semana é pura expressão da criminalidade e não tem nada a ver com violência policial ou desemprego de jovens ou a crescente desigualdade e o aprofundamento da crise económica, porque está a acontecer agora e não há uma década atrás? As classes criminosas, como os vitorianos se referiam àqueles à margem da sociedade, sempre estiveram connosco. E se não há relação com a divisão social selvagem da Inglaterra e os guetos da miséria, por que os distúrbios começaram em Haringey [um bairro pobre] e não em Henley [um bairro da elite]?
Acusar os que estabelecem estas ligações óbvias de ser apologistas ou “dar desculpas” para os ataques contra bombeiros ou pequenos comerciantes é igualmente tolice. Deixar de reconhecer as causas dos distúrbios é tornar mais provável que voltem a acontecer — e os ministros certamente não cometerão este erro a portas fechadas, se tiverem preocupação com seu próprio futuro político.
Aconteceu o mesmo quando distúrbios irromperam em Londres e Liverpool há trinta anos atrás, também resultado de um confronto entre a polícia e a comunidade negra, quando um governo conservador estava a promover cortes de investimento durante uma recessão. O povo de Brixton e Toxteth foi denunciado como criminoso e bandido, mas em algumas semanas Michael Heseltine [primeiro-ministro] estava a escrever um memorando privado para o gabinete, começando com “foi preciso uma revolta” e falando sobre a necessidade urgente de acções contra a pobreza urbana.
Desta vez, os distúrbios multiétnicos espalharam-se mais longe e mais rápido. Foram menos politizados e houve mais saques, a ponto de que em alguns bairros agarrar “coisas de graça” foi a principal acção. Mas não há mistério sobre a origem dos distúrbios. O gatilho foi a morte de um jovem negro pela polícia num país onde os negros têm 26 vezes mais chances de serem parados e revistados pela polícia que os brancos. Os distúrbios que explodiram em Tottenham no fim de semana seguinte aconteceram num bairro que tem a maior taxa de desemprego de Londres, onde os clubes de jovens foram fechados para atender a um corte de 75% no orçamento dos serviços para a juventude.
Depois os distúrbios irromperam em várias partes do que é hoje a cidade mais desigual do mundo desenvolvido — onde a riqueza dos 10% mais ricos é 273 vezes maior do que a dos mais pobres — atraindo jovens que tiveram as suas bolsas de estudo cortadas justamente no momento em que o desemprego de jovens atingiu um nível recorde e o acesso à universidade foi dificultado pela triplicação das propinas.
Agora os distúrbios se tornaram nacionais. Mas não é que o governo não esperasse por eles quando embarcou no seu programa irresponsável de encolher o estado. No Outono passado, a Associação dos Superintendentes de Polícia alertou sobre o perigo de cortar o número de polícias num momento em que eles seriam necessários para lidar com “tensão social” ou “desordem ampla”. Há menos de duas semanas, jovens de Tottenham diziam ao Guardian que esperavam por distúrbios.
Os políticos e os média dizem que nada disso tem a ver com adolescentes sociopatas que partem vitrinas de lojas para roubar plasmas e ténis. Mas onde exactamente é que os manifestantes foram buscar a ideia de que não há maior valor que a riqueza pessoal, ou que produtos de marca são a rota para a identidade e o autorespeito?
Enquanto os banqueiros publicamente pilharam a riqueza do país e não pagaram por isso, não é difícil descobrir o que levou os que ficaram de fora da festa a pensar que têm o direito de levar um telemóvel de uma loja. Alguns dos que se envolveram nos distúrbios tornaram a conexão explícita. “Os políticos dizem que pilhamos e roubamos, mas eles são os gangsters originais”, declarou um deles a um repórter. Outro explicou à BBC: “Estamos a mostrar aos ricos que podemos fazer o que quisermos”.
A maioria dos que participaram não têm nada a perder, numa sociedade que os empurrou para fora ou num modelo económico que se atolou na areia. Está claro que uma Inglaterra dividida não tem condições de absorver a austeridade agora adoptada, já que três décadas de capitalismo neoliberal destruíram todas as relações sociais de trabalho e comunidade.
O que agora vemos em cidades da Inglaterra são reflexos de uma sociedade governada pela ganância — e o fracasso venenoso da política e da solidariedade social. Existe agora o perigo de que os distúrbios alimentem o conflito étnico. Enquanto isso, a fase mais recente da crise económica que pula entre os Estados Unidos e a Europa ameaça lançar a Inglaterra na recessão ou na prolongada estagnação económica. Estamos a começar a ver os efeitos devastadores da recusa de mudar de rumo.
Artigo de Seumas Milne, jornalista e colunista do jornal britânico Guardian. Tradução deviomundo.com.br

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.