A PRIMEIRA REPÚBLICA PORTUGUESA
Podemos dizer que os ideais republicanos radicam na Revolução Francesa de 1789 e, em Portugal, conhecem uma primeira oportunidade de se exprimirem com a Revolução Liberal de 1820.
Daqui até à substituição da Monarquia pela República em Outubro de 1910 vai um lento e sinuoso processo de amadurecimento e afirmação destes ideais.
Como escreve António Reis no Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, «a incapacidade revelada pela monarquia portuguesa para fazer evoluir a Carta Constitucional (de 1826) num sentido mais democrático, deu largo campo de manobra ao republicanismo e seus adeptos, ao mesmo tempo, aliás, que contribuía indirectamente para relegar a alternativa socialista para um lugar cada vez mais marginal.» Daí que «o sucesso inicial dos socialistas em breve desse lugar à desilusão e ao impasse, num país de proletariado e indústria incipientes. (Início do último quartel do século XIX). Ganharam com isso os republicanos que não deixaram, aliás, de procurar fazer seus alguns ideais de reformismo social, canalizados, sobretudo, pela sua ala esquerda.»
Com as comemorações do tricentenário da morte de Luís de Camões em 1880, «promovidas pelos grandes vultos do movimento republicano» foram ultrapassadas as principais divergências ainda existentes entre os republicanos portugueses que acabaram por se unir à volta de um novo partido.
O Manifesto do Partido Republicano de 1891 retoma os principais pontos do programa do partido, sistematizando-os de outro modo e acrescentando algumas preocupações de carácter social como o desenvolvimento de associações cooperativas de consumo, produção, edificação e crédito com base no adiantamento pelo Estado de um fundo inicial. «Pode dizer-se que, a partir desta data, a ideologia republicana está fixada nos seus traços essenciais. (…) Ao transitar do domínio teórico para o domínio da propaganda, esta ideologia afirmar-se-á mais pela negativa, qual torrente demolidora do trono e da Igreja, dos privilégios das oligarquias e da corrupção dos partidos, sob a influência da Maçonaria e do cientismo positivista que fizeram dos Jesuítas e do obscurantismo do Vaticano I alvos privilegiados» fazendo da educação popular uma das suas armas principais.
Quanto a Alcanena são por demais conhecidas as suas simpatias pelos ideais republicanos desde o século XIX. Terra liberal por excelência, o concelho vibrou com a Implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, tomando parte activa na proclamação que teve lugar nos Paços do Concelho de Torres Novas, de que ainda era freguesia.
Há muitos anos descontentes com a pouca atenção que recebiam da sede do concelho, julgando-se discriminados pela autarquia da então vila torrejana, os alcanenenses achavam que mereciam mais por parte de um concelho de que eram grandes contribuintes dado o seu desenvolvimento económico. Alcanena inicia então uma prolongada luta pela sua autonomia guiada pelo lema "Para o País a República, para Alcanena o Concelho".
Conscientes deste entusiasmo, muitos dos principais vultos da República, entre os quais Afonso Costa, prometeram concretizar o desiderato de autonomia do concelho logo que chegassem ao poder e, de facto, o projecto da sua criação foi aprovado quer pela Câmara dos Deputados, quer pelo Senado, não sem que houvesse vozes contrárias ligadas sobretudo aos interesses de Santarém.
A 8 de Maio de 1914, foi finalmente promulgado o Decreto-lei n.º 156, assinado pelo Presidente da República, Dr. Manuel de Arriaga, e pelo Ministro do Interior, Dr. Bernardino Machado, que elevou Alcanena a Concelho. A data, ainda que sem ser feriado municipal como pareceria lógico, continua a ser celebrada
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