O que é que isto tem a ver com o autocarro do Benfica? O episódio com o autocarro do Benfica serve para ilustrar como as autoridades policiais, o governo e também os órgãos de comunicação social tratam os diversos tipos de violência e sobretudo como tratam o crime que provavelmente mais mata no nosso país. A violência doméstica é o crime contra as pessoas, e sublinho contra as pessoas, que mais e maiores efeitos tem: produz mais vítimas (muitas vezes mortais), filhos e outros familiares, tem efeitos devastadores na saúde das vítimas directas e indirectas e, retira a Liberdade e a Cidadania a milhares de mulheres. É um crime público na verdadeira dimensão da palavra. Quando a Liberdade e a Cidadania estão em causa todos e todas temos a ver com o assunto.
Ontem a notícia da morte de uma mulher em Setúbal teve mais destaque porque o autor do crime é agente da polícia. Mas, ao contrário da notícia do autocarro do Benfica, não houve entrevistas a contextualizar a situação, não houve apelos, e, nenhum responsável policial ou governamental deu a cara pelo combate a este tipo de crime. E esta diferença diz tudo sobre a importância que lhe é atribuída.
As autoridades estão à espera que seja uma por dia para despertarem para este CRIME e para encararem de vez e com firmeza o fenómeno da violência contra as mulheres neste país de brandos costumes?
As poucas linhas que o Programa do actual Governo dedica a esta importante questão, suscitam preocupação séria: “Será dado um especial enfoque à prevenção da violência exercida em contexto doméstico sobre crianças, idosos, pessoas dependentes e com deficiência”… E o enfoque na violência contra as mulheres no seio da família, ela própria central em relação às outras vítimas? Parece que as mulheres não têm lugar no curto parágrafo que o programa do governo dedica à violência doméstica. Está aqui em potência um retrocesso cujas consequências são muito perigosas.
É pois tempo de não deixar cair no esquecimento nenhuma das vítimas.
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