sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Fado votado


O tempo não está para fadunchos. Mesmo para os que foram votados. Há muito que fazer. Voltar as costas ao destino, ou fazer-lhe um grandessíssimo manguito.
Dali vos digo que ouviA voz que se esmeraBoçal, um faia banal
Cantando à severa
Se Malhoa pintasse agora a cidade capital não se lhe pressentiria aquele fado que as guitarras acompanham. Não emanaria da tela o cheiro a vinho das vielas, essa palavra que sempre aparece nas letras destas canções sobre a cidade.
Não sei se o fado é uma canção. Costuma-se dizer que é um lamento, uma nostalgia cantante ou cantadeira, uma saudade árabe, que a guitarra remata. Começou por ser uma coisa popular, um código vadio de ditos e chistes deixados ao acaso em diálogos críticos e cantados, em desafios de improviso. A igreja, sempre tolerante, refilou, reprimiu e amordaçou esta forma de estar, este modo de ser, esta espontaneidade criativa.
O fado virou faduncho. Uma coisa chorada e choramingas, um emblema de pobreza que se canta a si própria, uma melopeia arrastada.
Os fascistas aproveitaram o fado, mais propriamente o faduncho, para dizer que a vida era assim. A vida portuguesa era assim porque os portugueses eram precisamente assim, criaturas fatalistas, aconchegadas à miséria, ao beco e à tal viela, ao álcool, e ao gemido. O corpo era a traição, uma traição gingada, com uma navalha ou uma viola tristonha, com muita lágrima desesperada por amores trocados e apunhalados. Nesses fados fadunchos, nesses destinos, o país inexistia. Não havia país, só ciúme, só cilada amante. Era o destino. Um destino de amargura e saudade na viela de má fama que este país era, como dizia uma canção contestatária. Um destino embuçado, um destino marialva, um destino cretino atestado, melhor dizendo, abarrotado de subserviências, obediências e conformismo.
O fado foi depois recuperado como música daqui. Daqui, deste Portugal do depois, renascido numa data que se comemora todos os anos. Até ver.
O fado libertou-se da carga, da canga ajudante e coadjuvante, libertou-se da função de alfaia cultural habilmente utilizada pelo regime da bota e do velho que se eternizou pesado durante quase meio século.
Das tabernas antigas só o nome sobrevive. As tabernas são hoje sítios gourmet.
De tabernas fica só a nostalgia oblíqua e esverdeada do nome, que tem uma conotação de tertúlia bêbeda. Algumas havia que só vendiam copos de três a alcoólicos. Também havia aquelas que tinham pastéis de bacalhau com vários dias e crostas secas, ovos cozidos dentro de recipientes com sal, jaquinzinhos de escabeche, passarinhos fritos e o mesmo cheiro a ranço. Essas eram as dos copos e petiscos. As outras eram dos ébrios de desesperança. Tascas antros. Conversas manhosas, de má qualidade, aquelas que o álcool concede.
O fado recuperado também canta a inquietude amarga da vida que se vai cumprindo; canta também o amor e a traição, a luz e as sombras da existência. Mas não é um hino ao tem que ser, dá a volta ao destino, à sina, à buena dicha.
Querem-nos pôr novamente à luz do petróleo. Uma luz muda, silenciosa, uma luz amarelada de pleno declínio, onde a guitarra da desventura desliza, com palavras sofridas, num beco de inevitabilidade e nenhuma esperança. Ouvindo, todos, atentamente, boçal, um faia banal cantando à severa. Severamente cantando à severa.
Para quem não sabe, faia é fadista.
O tempo não está para fadunchos. Mesmo para os que foram votados. Há muito que fazer. Voltar as costas ao destino, ou fazer-lhe um grandessíssimo manguito. Eles que cantem à vontade nos antros próprios dos camarins ministeriais o fado da desgraçadinha ao som da guitarra de uma troika que tem a sensibilidade musical de uma porta. Que cantem o fado da sistemática impiedade na pouca-vergonha das vielas governamentais. Que vão eles para o beco sórdido e acanalhado que nos destinam. Que bebam a aguardente em copos de três como se fosse chá de malvas, dancem o fandango com os dedos encavalitados nos coletes e o barrete que nos querem enfiar que o ponham no cocuruto das agências. Que cantem à vontade toadas e tabuadas. Contratem militares e forasteiros e outros pantomineiros. Que se vistam de elites de fala grossa, ou professores de economia, duques incompetentes e aristocratas decadentes. Que convoquem toda a canalha para este fado votado.
Abrem-nos as portas dos infernos e nós só temos que dizer não. Não, obrigado, ou obrigada, se quisermos ser educadinhos, ou educadinhas. Contudo, se estivermos sem pachorra para conversas, também podemos apenas abanar a cabeça. Não. Podemos cantar o fado da negação. Não.
Se quisermos ser mais incisivos podemos colocar o braço em ângulo recto e sobrepor o outro braço ali na articulação do cotovelo. Reforça a negativa. O gesto técnico pode ser acompanhado da frase imediata – queres mais faduncho? Toma. A seguir o braço deve anichar-se com força na dita articulação. Tecnicamente é um manguito. E emocionalmente também.
Se quisermos, não obstante os dias que correm, cantar um fado, que cantemos então o dokilas, o mau da fita: e na roda deste fado / nunca se sabe o que se nos depara / que os que ainda andam na mó de cima / têm se saber que a roda não pára / e fatalmente o fim se aproxima/ a vida não pára.
Pois não. Não pára.

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.