terça-feira, 30 de novembro de 2010

Precariedade: a receita europeia para combater a precariedade

Podemos dizer que se não morrermos da doença, morreremos da cura: a Comissão Europeia traçou o quadro da precariedade crescente na Europa, evidenciando o caso português, mas como solução apontou a "flexisegurança".
Dois dias depois da Greve Geral em Portugal a Comissão Europeia (CE) publicou o seurelatório anual sobre o mercado de trabalho. Não poderia ser mais a tempo, uma vez que se trata de um relatório cuja análise e propostas comprovam o que muitos milhares conhecem da sua própria vida, a proposta única de uma vida precária, por um lado, e o que alguns vão tentando impor como a receita que nos curará de vários males, entre eles, a aparente baixa produtividade e a rigidez da legislação laboral. Mas neste caso, poderemos dizer que se não morrermos da doença, morreremos da cura: a CE traçou o quadro da precariedade crescente na Europa, evidenciando o caso português, mas como solução apontou a “flexisegurança”, ou seja, mais trabalho precário.
O documento de Bruxelas, que faz uma análise profunda ao mercado laboral europeu em 2010, prova que a crise foi muito mais “suave” para a facturação das empresas portuguesas do que para a situação dos trabalhadores. Portugal foi dos poucos países que se ajustaram e pagaram a crise através de uma destruição de emprego em larga escala e, declaradamente, com mais exploração. É evidente que quem manteve o emprego passou a trabalhar mais - o número médio de horas de trabalho por pessoa aumentou - e isso “salvou” a economia. O índice de produtividade acompanhou o ritmo porque menos pessoas conseguiram criar mais riqueza - este ano o PIB vai crescer cerca de 1,3% (previsão do Governo), apesar do desemprego real estar nos 11%. Já os níveis salariais, esses caminham para a estagnação. Nos próximos anos, este fenómeno do aumento da produtividade sem criação de emprego deverá intensificar-se e é a CE que o prediz.
As questões sobre a produtividade, segundo os argumentos dos patrões e de quem quer promover uma opinião pública acrítica e ignorante, são sempre associadas aos trabalhadores e à sua “preguiça”, digamos, para abreviar. É uma ideia muito forte e que resulta muito bem quando se quer enfraquecer o lado que já é o dos mais fracos. Em tempo de crise e desemprego crescente, quando a competitividade é o que se exige, isso e uma corrida a escassas oportunidades de sobrevivência, é fácil desinformar e desviar a crítica para a (in)acção do outro que está mais próximo, que poderá ser até o colega de trabalho ou o vizinho desempregado.
O relatório da CE é bastante preciso no retrato da precariedade e demonstra como este modelo laboral e social tem vindo a instalar-se em Portugal. Na verdade, os números do relatório apenas permitem quantificar com mais rigor o que os vários movimentos de precários têm vindo a denunciar. Em Portugal, 53,5% dos contratos precários são de trabalhadores com idades entre os 15 e os 24 anos; 20% entre os 15 e os 49 anos; 10% entre os 50 e os 64 anos. Em termos de trabalho temporário, estamos bem acima da média europeia (40,2%). Em Portugal um em cada cinco trabalhadores tem um contrato temporário. Na Polónia e Espanha é um em cada quatro.
Este foi o resultado de reformas impulsionadas desde os anos 80, para combater o desemprego estrutural, através da desregulação dos contratos e da expansão de agências de trabalho temporário. Permitiu-se às empresas adequar o nível de emprego às encomendas e ajustar o número de empregados às capacidades manifestadas. O trabalhador “à peça”, “à campanha” ou “ao projecto”, é o modelo que tem tornado, nos últimos 20 anos, milhões de vidas descartáveis e impossíveis. Estas pessoas sobrevivem sob o gume da chantagem do desemprego, o que constitui uma ameaça absoluta e real. Segundo a OCDE, o desemprego resultante do termo de contratos precários é mais do dobro do que nos contratos permanentes.
A CE alerta ainda que os contratos a termo e outras formas mais precárias (como os recibos verdes) podem ser uma "porta de entrada" para o mercado de trabalho, embora estes vínculos temporários possam ser simplesmente “um factor de produção mais barato”. Em países como Espanha, Portugal, Eslovénia ou Eslováquia, a precariedade tem promovido uma juventude cada vez mais dependente dos pais ou familiares, impedindo o salto para a independência ou para a construção de uma carreira profissional de acordo com as expectativas geradas. A taxa de desemprego jovem em Portugal atingiu um recorde de 23,4%, quase 99 mil no terceiro trimestre deste ano.
Mas, conforme notou o Diário de Notícias, “esta realidade adversa não desmobiliza os gestores do Fórum para a Competitividade que na mesma semana em que saiu o relatório da CE pediram contratos ainda mais flexíveis para os jovens à procura do primeiro emprego”. Estes senhores querem “contratos flexíveis, com uma duração de quatro anos e com isenção total ou parcial nos descontos dos empregadores para a Segurança Social”. Nem sempre a desfaçatez dos nossos patrões é notícia, mas desta vez foi.
Esta realidade inclinada torna-se mais difícil de sustentar quando analisamos as conclusões contraditórias do mesmo relatório da CE, comparamos a nossa situação com a da Alemanha, por exemplo, e verificamos a impunidade dos nossos patrões.
A Alemanha não tem o FMI à porta, como nós, mas lá até há mais trabalho temporário (a taxa é de 57,2%). A CE diz que a segmentação no mercado laboral aumenta o risco de muitos trabalhadores ficarem apanhados entre empregos temporários e intervalos de desemprego. Contudo, a CE propõe uma "uma estratégia global, baseada na flexisegurança - flexibilidade no trabalho com fortes níveis de protecção no desemprego”, um tipo de contrato que acabe com a assimetria entre contrato permanente e a prazo, e a “elegibilidade universal na protecção do desemprego”.
Este discurso esconde uma falácia e uma estratégia. A CE erra disfarçadamente ao receitar o modelo global da flexisegurança para toda a Europa como se os mercados laborais nos diversos países fossem iguais e se movessem com iguais matizes, e ao receitar mais precariedade para combater essa mesma precariedade que vê como sintomática no mercado laboral que quer salvar. Milhares de trabalhadores já sabem o que significa a flexibilidade e não a associam a outra coisa senão a insegurança. Os níveis de protecção social são cada vez mais baixos, e é isso que preconizam os pacotes de austeridade encomendados pela mesma CE. Além disto, o que resulta da proliferação dos contratos precários, associados aos baixos salários, e sobretudo do flagelo dos “falsos recibos verdes” – que atingem já um milhão de pessoas em Portugal –, é o enfraquecimento galopante de uma Segurança Social cada vez mais descapitalizada.
Procurar transformar o mercado de trabalho, flexibilizando-o, iludindo com uma segurança baseada na protecção social que é insustentável por causa dessa mesma transformação é o plano engenhoso que esconde, afinal, a estratégia global do ataque ao Estado Social.

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.