quarta-feira, 18 de abril de 2012

YPF, da fantasia aos factos

Há vários anos que a reestatização do petróleo figurava na fantasia do governo argentino e de vários de seus membros, presidenta Cristina incluída. Agora a fantasia tornou-se um facto. E os factos na política, mais ainda em se tratando de política petrolífera, provocam realinhamentos, abrem a etapa das disputas concretas, geram lutas encarniçadas e lançam a agenda do futuro. Artigo de Martín Granovsky, da Página/12.
Na maioria da América do Sul, com exceção do Chile, hoje não pesam as opiniões que questionam o papel do Estado.
Na maioria da América do Sul, com exceção do Chile, hoje não pesam as opiniões que questionam o papel do Estado. Foto YPF
Há vários anos que a reestatização do petróleo figurava na fantasia do governo e de vários de seus membros, presidenta incluída. E um secretário de Estado com acesso privilegiado a Cristina Fernández de Kirchner e antes a Néstor Kirchner, a quem chamava de “o mais rebelde de todos nós”, às vezes até se animava a fazer dessa fantasia um plano a cumprir.
A sigla YPF reaparecia com frequência na boca de vizinhos ou amigos. Em abril de 2006, o ministro Julio De Vido e uma reduzida comitiva viajaram a La Paz para negociar o preço do gás boliviano e um gasoduto para o noroeste argentino. Nesse momento, ocupava o Ministério de Hidrocarbonetos Andrés Soliz Rada, um velho nacionalista de esquerda a quem um então e atual funcionário argentino havia protegido em sua casa durante a ditadura. Em sua mensagem de boas vindas, a primeira coisa que Soliz Rada fez foi lembrar que a Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia (YPFB), havia sido fundada em 1936, seguindo a ideia argentina da YPF. Mas aquela YPF iniciada por Hipólito Yrigoyen e impulsionada por Marcelo Torcuato de Alvear, junto com um engenheiro militar a caro da empresa estatal, Enrique Mosconi, já não existia em 2006. Havia sido privatizada, atomizada e provincializada durante o governo de Carlos Menem, entre 1990 e 1992. E, em janeiro de 1999, a sociedade anónima já estava sob o controle maioritário da espanhola Repsol.
No Brasil, o Conselho Nacional de Petróleo havia sido fundado em 1939, sob Getúlio Vargas, com a YPF como uma das referências. Era uma instância de regulação. A YPF terminou por ser o modelo inicial da Petrobras, fundada em 1953, durante outro mandato de Vargas.
Em 1939, o presidente Lázaro Cárdenas criou a Petróleos Mexicanos. Cárdenas também havia tratado com Mosconi que, segundo o investigador e diplomata Carlos Piñeiro Iñiguez, foi quem o apresentou a outro oficial, Juan Perón, ante o presidente do México.
Cada país ensaiou, nos anos 30 e nos anos seguintes, distintas experiências com o petróleo. Houve etapas mais estatizantes e etapas mais flexíveis frente o capital privado, como a que protagonizou o próprio Getúlio Vargas, enquanto negociava investimentos siderúrgicos dos Estados Unidos no Brasil.
Mas o único país que mudou totalmente o modelo foi a Argentina, no início do primeiro governo de Carlos Menem e ao final do segundo. Fez isso, inclusive, indo mais além de outras gestões neoliberais na região, como a dos brasileiros Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso, ou a do mexicano Carlos Salinas de Gortari. Superou até a ditadura de Augusto Pinochet, que reprivatizou só parcialmente o cobre nacionalizado pelo governo do socialista Salvador Allende (1970-1973).
Talvez por isso a iniciativa de Cristina Fernández de Kirchner de reestatizar a YPF tenha sido recebida com tanto alarido na Espanha mas, em troca, mereceu um tom informativo e neutro, por exemplo, em dois portais ligados ao mundo dos negócios do Brasil, o do jornal Estado de São Paulo e o do Valor Económico. Na maioria da América do Sul, com exceção do Chile, hoje não pesam as opiniões que questionam o papel do Estado e menos ainda as críticas que apontam como negativo o controle dos hidrocarbonetos pelos governos.
Na verdade tampouco deveriam pesar, honestamente, na Europa Ocidental. Em outubro de 2008, um mês depois da queda do Lehman Brothers, o ministro do tesouro da Grã-Bretanha, Alistair Darling, anunciou que o Estado compraria até 60 mil milhões de dólares em ações de quatro bancos britânicos. Ou seja, anunciou uma nacionalização parcial. Ou sim, pesam as opiniões mais rígidas em uma Europa do sul menos flexível e mais débil nestes dias frente o furacão da crise mundial? As decisões sobre a Repsol, assim como sobre Aerolíneas ou outras empresas, foram compartilhadas entre a direita do Partido Popular e a socialdemocracia do PSOE em períodos históricos distintos. Por isso a solidariedade com Mariano Rajoy, expressa ontem pelo candidato socialista derrotado nas últimas eleições, Adolfo Pérez Rubalcaba. Uma solidariedade que talvez tenha uma dose de dogmatismo compartilhado frente à ortodoxia de mercado, que já destruiu a Grécia e segue além.
O anúncio de Cristina abre uma discussão interessante e sem limites, inclusive sobre se Santa Cruz não pode, não soube ou não quis se opor naquele momento à atomização de Menem, ou sobre as debilidades da política petrolífera de 2003 até hoje. Mas, para além do debate histórico sobre realidades próximas ou mais distantes, que não parece preocupar o governo, o envio do projeto de lei e a intervenção na Repsol são factos. E os factos na política, mais ainda em se tratando de política petrolífera, provocam realinhamentos, abrem a etapa das disputas concretas, geram lutas encarniçadas e lançam a agenda do futuro. Ontem, Rajoy estava furioso e Pino Solanas* contente.
 


Publicado em Página/12. Tradução de Katarina Peixoto para o portal Carta Maior.
* N.R.: Pino Solanas é um realizador argentino e deputado em Buenos Aires, autor de "Memórias do Saque", o documentário premiado em Berlim que trata a situação do país entre a ditadura militar e a revolta de 2001, mostrando como a dívida disparou a par do saque das riquezas dos argentinos por parte das multinacionais protegidas pelos políticos corruptos.

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.