domingo, 27 de novembro de 2011

Átilas modernaços

Os verdadeiros fazedores da crise não se mostram. Estão numa clandestinidade prudente, no ninho de ratos das agências, miméticos, confundem-se com as paisagens.
A troika alapardou-se no nosso destino. Depois de feitas as malfeitorias, há-de esgueirar-se por entre os pingos da chuva. Molhados ficamos nós. Ei-los, pois, por aí. Esperaram pacientemente a sua hora. Como a carraça cujo ciclo de reprodução pode levar anos. Pressente-se-lhes a saliva retórica a justificar mais desacatos nas nossas bolsas e até nas outras, nas Bolsas deles. São canibais. Pressente-se-lhes o dançar. Já não é o tango acanalhado de bordel. É um bailar frenético, incessante e desvairado, europeu, vindo da Europa mais sórdida. Europa pasteurizada e sórdida.
Quadrilhas difusas mas organizadas pretendem tratar-nos dos dias que passam e dos que hão-de vir. São energias primordiais da agenciocracia reinante, desta doença sistémica, desta maleita autofágica, desta coisa ruim que nos tem vindo a acontecer. Quadrilhas ávidas percorrem-nos a vida. O que se passa no lá fora, tem óbvia correspondência no cá dentro.
Boys. Gerações sucessivas deles de várias origens e linhagens.
Boys. Uns, silenciosos e manhosos. Outros, amáveis e prolixos, o verbo fácil a escorregar como se fosse baba, em cima dos microfones. Boys heróis. Boys gestores a quem o país deve muitíssimo, pois claro. É claro, que devendo muitíssimo, paga muitíssimo. Quanto? Muito mais num ano do que a maior parte de nós receberá na vida toda, com várias reencarnações incluídas.
Uns têm o ar casto de anjo perverso. E depois há uma multidão deles que não têm qualquer ar, porque anónimos, desconhecidos, sem qualquer perfil, aboboram por ali, na toca da confiança política.
Vivem exilados num outro país. O país dos dias fáceis, dias paralelos ao do outro país em crise. As paralelas nunca se encontram. Boys espertos, mesmo que o QI seja débil. Boys bandidos, daquela bandidagem legal e aceite como boa. Saltitantes, estão por todo o lado. Têm uma ética ginasticada, flexível que permite tudo e ao mesmo tempo tudo proíbe.
Este governo é como uma casa covil com divisões muito escuras. Parecem laboratórios de fotografia. Se lá entrar luz está tudo estragado. Por isso mesmo só lá entram sombras. Inquietantes. Mistérios, silêncios e cumplicidades atafulham as gavetas dos governos.
Passos e Portas poupam em tudo menos na porrada que a polícia há-de dar. O medo é um bem precioso.
Costuma funcionar com razoável eficácia, embora falhe por vezes. A eficácia.
A eficácia da porrada aborta, quando a raiva chega àquele patamar do vai ou racha. Àquele patamar do não haver nada a perder.
O governo tem medo de nós. Por isso acha melhor que tenhamos medo dele. Se levar quer dar, em troca generosa. Se for preciso matar, que se mate. Se for preciso prender, que se prenda. Se for preciso torturar à paisana ou de farda, que se torture. Nesta matéria do medo, o governo pensa rápido e aposta forte. Para aprenderem e, sobretudo, para não esquecerem, afirma. O medo. Dantes aprendia-se o medo nas escolas. Pode ser que venha a ser reintegrado nos currículos.
Um governo medroso é um governo perigoso. Esta gente que vai agora ao sabor da maré alemã, que nada planeia senão a sobrevivência do seu poder, que um dia diz sim para no dia a seguir dizer não, que é completamente incompetente para projectar uma saída mínima desta tempestade, só planeia com desembaraço actuante uma única coisa: a porrada.
É difícil reencontrar a Europa no mesmo sítio de há oitenta anos. Mas está lá.
Tanta pedra que rolou entretanto. Depois da crise assassina dos anos trinta, em que a Alemanha desnorteada optou pelo caos, depois da ultrapassagem da agonia do 3º Reich, depois do estado previdência e das virtualidades do estado previdência, do projecto europeu e das democracias, a Europa essa coisa narcísica e vaidosa, doentiamente auto referencial, dá uma volta psicótica e fica à beirinha do mesmo precipício de onde tinha fugido.
No início da guerra segunda, quando a Alemanha invadiu a Polónia, jornais europeus, nas suas primeiras páginas, mostravam a fotografia de galantes cavaleiros polacos armados de espadas em cima de cavalos bem arreados, cavaleiros cheios de pompa e brio. Os jornais, dos que haviam de ser os aliados, faziam a legenda generosa daquela fotografia estética: Agora fala a Polónia.Era um grito a intimidar a Alemanha. Que medo.
Sabemos o que se passou a seguir. Hitler e os tanques de Hitler, a que acrescia todo o arsenal bélico hitleriano novinho em folha, que o mesmo Hitler tinha comprado e confeccionado à frente de toda a gente e com a ajuda de toda a gente, entraram por ali adentro, e adeus cavalos com arreios e adeus cavaleiros de espada. A Polónia não falou. Talvez tenha dado um brevíssimo e pungente gemido. Tanques e metralhas contra os arreios dos cavalos e o garbo dos cavaleiros.
O mundo nem sempre se lê. Não consegue. Há alturas na história em que fica cego, ou escolhe na sua cegueira jogar à cabra cega. Como há quase oitenta anos.
Os tanques e as metralhas são agora os alvitres das agências a ressoar na cabeça mínima da Merkel decisora e governadora. Sarkozy é um Pétain mais pequenote e vivaço que o próprio Pétain, esse marechal colaboracionista, que a história não absolveu. Não apetece viver neste mundo. O mundo virou um sítio infame. Já era infame antes disto. Mas tinha dias de sol. De vez em quando os deuses enviavam bafos com promessas. Os deuses, tal como os cavaleiros polacos, também parecem ter sido metralhados.
Esta gente tem toda o mesmo padrão doutrinário. Gente sem rosto, sem angústia nem remorso, de olhar oblíquo.
Os verdadeiros fazedores da crise não se mostram. Estão numa clandestinidade prudente, no ninho de ratos das agências, miméticos, confundem-se com as paisagens.
Estão no Pártenon grego, escondidinhos atrás das colunas; estão em Roma, nas piazzas repletas de gente comum; na Irlanda, com um copo na mão em qualquer bar; na Hungria nas margens dos seus rios; estão em Portugal, na sombra da nossa luz magnífica. Estão, em suma, semeados um pouco por todo o lado, são poliglotas, conservadores, brutais e serenos. Átilas modernaços em invasões sucessivas, orquestradas por batutas invisíveis. Artistas do caos e dos cacos.
São os Bórgias deste tempo. São, repete-se, Átilas modernos. Neros em conferência a convocar incêndios. Uma síntese do piorzinho que a história conheceu, a que não faltará uma suástica se necessário for.
Dói o tempo.
Árvores de raízes retorcidas, assim são as lutas. Retorcidas e enfurecidas, as raízes rompem tudo o que apanham pela frente. Fazem grandes rasgões no solo. É assim que as árvores ficam mais sólidas.

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.