domingo, 20 de junho de 2010

A anatomia do medo

O medo não é irracional. É a consequência da crise estrutural do sistema-mundo.
O medo é a mais universal emoção pública na maioria do mundo actual. Este medo não é irracional, mas não conduz necessariamente a formas sábias de lidar com os presumíveis perigos. O modo como actua pode ser claramente compreendido em dois acontecimentos importantes do passado recente. O primeiro foi a dramática queda da Bolsa de Valores de Nova York a 6 de Maio deste ano – uma queda que espantou a todos e durou apenas poucos minutos. O segundo foram as revoltas em Atenas, que já causaram três mortes e que continuam.

O que aconteceu na Bolsa? Parece que, naquela manhã, a média do Dow Jones industrial caíra cerca de 300 pontos. Foi uma descida considerável (cerca de 3%), mas que não parecia uma reacção incomum a uma combinação de más notícias em várias frentes nos Estados Unidos, a que se juntaram as crescentes incertezas sobre as probabilidades de a Grécia evitar a bancarrota.
Mas, de repente, no fim da tarde, o Dow caiu mais 700 pontos com rapidez incrível. Foi a maior queda de transacções jamais registada num só dia. Ninguém a previu, e aparentemente deixou os operadores estupefactos. Algumas acções importantes caíram 90% e passaram a valer um cêntimo. Então, os operadores “assistiram, boqueabertos”, e quase com a mesma rapidez que acontecera a queda, ao Dow a subir de novo, terminando com uma perda de “apenas” 371,80 pontos – para o aparente alívio dos operadores do mercado.
Evidentemente que todos procuraram uma explicação. A primeira fornecida foi que um único operador tinha um “dedo gordo” e pode ter introduzido uma operação de milhares de milhões, quando o que queria eram milhões. O problema com esta explicação foi que ninguém conseguiu localizar esta pessoa ou demonstrar que ele existe ou teve, de facto, um “dedo gordo”.
Começou então a circular uma explicação alternativa. A Bolsa de Nova York tem um mecanismo de desaceleração quando as operações parecem estar demasiado rápidas. Mas outras bolsas não têm o mesmo mecanismo. Assim, dizem alguns, os operadores, diante da desaceleração da Bolsa de Nova York, decidiram transferir as operações para outras bolsas. Alguns sugerem outra variante desta explicação: a culpa foi das chamadas estratégias algorítmicas de operação, que envolvem mecanismos automáticos de compra e venda pré-programados para fazer essa transferência. A falta de coordenação entre as várias bolsas, diz-se, é culpa dos regulamentos, e agora alguns argumentam que todas as bolsas deveriam ter mecanismos de desaceleração conjuntos. Para outros, a queda pode ter sido causada por um mecanismo automático, assim não se pode culpar máquinas em vez de pessoas.
Todas estas explicações podem ou não ser válidas. Mas omitem o facto de que, em vários pontos, intervieram decisões humanas – para reagir ao início da queda, para desacelerar as operações, para começar outra vez a comprar e permitir a subida do Dow. E é aqui que entra o factor medo.
Uma Bolsa de Valores envolve, por definição, risco e incerteza. Mas os operadores dependem fundamentalmente de sentir que as flutuações são relativamente pequenas e que ocorrem dentro de uma amplitude expectável. Quando as flutuações começam a ficar selvagens, ou seja, extensas e súbitas, os operadores entram compreensivelmente em pânico. E quando entram em pânico, inevitavelmente acentuam as flutuações posteriores. É um círculo vicioso.
No exacto momento em que os operadores de Nova York entraram em pânico, viam nos seus ecrãs os conflitos de rua em Atenas. Isso ainda os preocupou mais, por duas razões. Estavam mergulhados na incerteza acerca de como seria a decisão final dos países da União Europeia de ajudar a Grécia (ou mesmo se o fariam). Estavam mergulhados na incerteza acerca das implicações que teria nos bancos dos EUA, da Europa ocidental e do Japão a acção europeia (ou inacção) sobre os problemas da Grécia. E estavam mergulhados na incerteza sobre se a potencial falência da Grécia traria consigo um desemaranhamento global do mercado mundial.
Mas, acima de tudo, tinham razão de temer os conflitos gregos. Os conflitos eram o resultado dos temores da Grécia. O que mais preocupava os gregos era a grande probabilidade de sofrer uma redução drástica dos seus rendimentos reais nos próximos anos. Estavam furiosos por causa disso e com muito medo. E não estavam nada convencidos de serem os culpados, e de terem de pagar por isso.
Mas os temores dos cidadãos gregos são claramente apenas a ponta do iceberg, como muito bem sabem os líderes dos governos e os operadores das bolsas de todo o mundo. O problema do governo grego é bastante simples. A sua arrecadação fiscal é demasiado pequena e o seu nível de gastos demasiado alto para os seus rendimentos correntes e num futuro previsível. Por isso, ou aumenta os impostos (se os conseguir colectar) ou corta gastos, ou ambas as coisas – e drasticamente. Mas este é também o problema da Alemanha, da França, da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos, e a lista prolonga-se. Nem os poucos países que parecem ter, de momento, as suas cabeças fiscais acima da linha d'água (como o Brasil e a China) estão isentos deste contágio. Os gregos estão a tomar as ruas em protesto. Mas isto vai espalhar-se. E, à medida em que se espalhar, o mercado mundial tornar-se-á ainda mais volátil, e os medos vão crescer, não diminuir.
A principal resposta política em todo o lado foi ganhar tempo com papel moeda emprestado ou impresso. A esperança é que, de alguma forma, no tempo do empréstimo ocorra um renovado crescimento económico que restore a confiança, pondo fim aos pânicos latentes e reais. Os políticos agarram cada pequeno sinal deste crescimento e exageram a sua interpretação. O bom exemplo é o aplauso recente à criação de empregos nos Estados Unidos, quando esta foi menor que o crescimento da população no mesmo período.
O medo não é irracional. É a consequência da crise estrutural do sistema-mundo. Não pode ser resolvida com os adesivos que os governos estão a usar para tratar as sérias doenças que enfrentamos actualmente. Quando as flutuações se tornam muito grandes e rápidas, ninguém pode fazer planos racionais. Assim, as pessoas deixam de agir como actores razoavelmente racionais numa economia-mundo relativamente normal. E é este grau de medo avolumado que é a realidade fundamental da era presente.
Immanuel Wallerstein
Comentário nº. 281, 15 de Maio de 2010
Tradução de Luis Leiria, revista pelo autor

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.