sábado, 16 de abril de 2011

A Islândia nos limites da democracia

O que se passa na Islândia é a resistência popular a levar ao limite as possibilidades que lhe são institucionalmente atribuídas. E é, nesse sentido, uma exposição crua dos limites à soberania popular da presente configuração da ordem económica.
Já tentaram tudo. Mas nem propostas de revisões dos juros exigidos (de 5,5% para 3%) e do prazo de pagamento (que se poderia estender até 2045), nem as já clássicas ameaças dedowngrading por parte das agências de rating convenceram os islandeses a pagar as dívidas dos seus bancos falidos.
Os islandeses voltaram a rejeitar o acordo Icesave, que visava ressarcir os Estados da Holanda e do Reino Unido das garantias pagas aos clientes que, nestes dois países, haviam investido em produtos financeiros de alto risco aí comercializados pelos três principais bancos privados islandeses.
O processo tem-se desenrolado de forma (assustadoramente) despercebida, pela razão de que não se trata só de convulsões sociais contestatárias de medidas de austeridade e de governos impopulares. A recusa do povo islandês relativamente a tornar público o prejuízo das instituições financeiras privadas do seu país já derrubou um governo, já se impôs em dois referendos nacionais, e enfrentará agora o tribunal supranacional da European Free Trade Association (EFTA). Quer dizer: o que se passa na Islândia é a resistência popular a levar ao limite as possibilidades que lhe são institucionalmente atribuídas. E é, nesse sentido, uma exposição crua dos limites à soberania popular da presente configuração da ordem económica.
Sobre isto vale a pena frisar três pontos.
O primeiro não expressa uma crítica nova; antes, tem sido amplamente debatido e legitimamente constituído como questão central para a re-configuração institucional pós-crise. Tem a ver com o problema da (i)legitimidade do papel das agências de notação financeira. A ameaça da Moody’s em vésperas do segundo referendo, de que baixaria a classificação do Estado islandês para o nível “Lixo”, caso o acordo Icesave fosse novamente rejeitado, é a confissão de que, para as “opiniões” que estes agentes emitem (e que determinam as condições de financiamento das economias), pouco interessa que um país saia da recessão, apresente crescimento económico e crie emprego. Se houver a possibilidade de banqueiros serem presos e de os buracos negros financeiros privados não serem tapados pelos contribuintes, segundo a Moody’s, esse é um país “com o qual não é seguro negociar.”
O segundo é a problemática do contrato social subjacente a esta lógica. A propósito da nacionalização dos prejuízos do BPN e da injecção de dinheiros públicos no BPP, Teixeira dos Santos disse uma vez que “a estabilidade do sistema financeiro é um bem público”. A orientação aqui contida é muito simples mas não tem nada de democrático: se um determinado grupo tiver a liberdade de fazer basicamente aquilo que quiser, com o Estado a garantir a sua capacidade de acumulação a salvo do risco e de constrangimentos redistributivos, então, por arrasto do crescimento económico que daí advirá, toda a gente sairá beneficiada.
Como bem coloca Harvey1, ao neoliberalismo interessa menos o funcionamento das leis e da disciplina de mercado (que, de resto, ditaria a falência dos bancos e as perdas dos investidores) do que esse estabelecimento de poder de classe. Quando transforma a dívida privada em dívida pública e aplica programas de austeridade, o que o Estado faz é substituir o mau dinheiro do risco assumido pelo capital financeiro pelo bom dinheiro da economia produtiva; e quando faz recuar o Estado Social em favor de “reformas estruturais” e de “ambiciosos programas de privatizações”, o que faz é ampliar o potencial de acumulação de uma classe.
Com isto chegamos ao terceiro ponto, que se prende com a arquitectura institucional propriamente dita que reproduz esta ideologia de estabelecimento de poder de classe.
A Islândia pertence à European Economic Area (EEA), o acordo pelo qual os países da EFTA acedem ao mercado único da União Europeia sem partilhar das suas obrigações fiscais, com a contrapartida de terem de adoptar parte da legislação europeia, mas sem representação nas instituições políticas onde essa legislação se negoceia. Neste quadro, salienta-se o papel do tribunal da EFTA como mecanismo de imposição de decisões desvinculadas da vontade popular.
Esta fórmula tem a mesma essência que caracterizou a construção da UE. Uma integração económica sem o contraponto de processos robustamente democráticos de construção política. Um modelo em que um Tribunal Europeu de Justiça com a exclusividade da interpretação dos Tratados faz tantas vezes avançar a integração que deveria ser política e democraticamente deliberada num plano judicial supranacional, com consequências para a prática legislativa que não chegam à consulta popular e não poucas vezes se sobrepõem a ela.
No tribunal da EFTA, a soberania popular islandesa deparar-se-á, assim, com os limites que lhe são colocados pela própria forma da sua integração económica. Isto expõe a falência de legitimidade democrática de modelos de integração assimétrica e do contrato social que tem implícito. E essa exposição é tão incómoda e tão revoltante – mas ao mesmo tempo tão radicalmente inspiradora – por se tratar das mesmas amarras que hoje aprisionam a UE.

1Harvey, David (2005) A Brief History of Neoliberalism

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.