segunda-feira, 9 de maio de 2011

A era pós-nuclear

Fukushima marca, em matéria de energia atómica, o fim de uma ilusão e o início da era pós-nuclear. Classificado agora no nível 7 ou superior na escala internacional de incidentes nucleares (INES), o desastre japonês é comparável ao de Chernobyl (na Ucrânia, ocorreu em 1986) devido aos seus "efeitos radioactivos significativos sobre a saúde humana e o ambiente".
O desastre de Fukushima derrubou as certezas dos defensores da energia atómica civil. Foto de James Marvin Phelps
O sismo de magnitude 9 e o formidável maremoto que, no dia 11 de Março, atingiu com inaudita brutalidade o nordeste do Japão e causou o desastre actual de Fukushima, derrubaram as certezas dos defensores da energia atómica civil.
Curiosamente, a indústria nuclear estava a viver talvez a melhor época da sua história. Num grande número de países estavam previstas dezenas de construções de centrais. E isto essencialmente por duas razões. Primeiro, porque a perspectiva de que o petróleo venha a esgotar-se no final deste século, associada ao crescimento exponencial da procura de energia por parte dos "gigantes emergentes" (China, Índia, Brasil), faziam dela a energia de substituição por excelência [1]. Depois, porque a tomada de consciência colectiva face aos perigos das alterações climáticas causados pelos gases com efeito de estufa, conduzia paradoxalmente à preferência pela energia nuclear julgada “limpa,”por não produzir CO2.
A estes dois recentes argumentos, juntavam-se os pretextos habituais: o da soberania energética e da mínima dependência de países exportadores de hidrocarbonetos; o baixo custo da energia assim produzida; e – ainda que pareça insólito no contexto actual – o da segurança, sob o pretexto de que as 441 centrais nucleares do mundo (mais de metade das quais situadas na Europa ocidental) só registaram, ao longo de meio século, três acidentes graves[2]...
Todos estes argumentos – não totalmente absurdos – foram fulminados perante a excepcional dimensão do desastre de Fukushima. O novo pânico, de alcance mundial, que este cataclismo fez nascer assenta em várias constatações. Em primeiro lugar, e contrariamente ao de Chernobyl – atribuído em parte, por razões ideológicas, ao envelhecimento duma tecnologia soviética vilipendiada – este acidente acontece precisamente no coração de um dos centros hipertecnológicos mais avançado do mundo, num país onde bem se pode imaginar – o Japão foi em 1945, a única nação vítima do inferno militar atómico – que as suas autoridades e os seus técnicos tenham tomado todas as precauções possíveis para evitar o desastre nuclear civil. Portanto, se o Estado mais capaz e mais vigilante não conseguiu impedir a catástrofe, é razoável que os outros países continuem a brincar com o fogo nuclear?
Em segundo lugar, as consequências temporais e espaciais do desastre de Fukushima aterrorizam. Por causa da fortíssima radiação, as áreas que circundam a central ficarão inabitáveis durante milénios. As zonas um pouco mais afastadas, durante séculos. Milhões de pessoas serão definitivamente deslocadas para zonas menos contaminadas. Terão de abandonar para sempre as suas propriedades, as suas explorações agrícolas, industriais ou de pesca. Para além da região-mártir propriamente dita, os efeitos radioactivos far-se-ão sentir na saúde de dezenas de milhões de japoneses. E com certeza também na dos vizinhos, coreanos, russos, chineses... Sem excluir outros habitantes do hemisfério norte [3]. O que confirma que um acidente nuclear nunca é local, é sempre planetário.
Em terceiro lugar, Fukushima demonstrou que a questão da chamada “soberania energética” é muito relativa. Porque a produção da energia nuclear supõe uma outra sujeição: a “dependência tecnológica”. Apesar do seu enorme avanço técnico, o próprio Japão viu-se forçado a recorrer a especialistas americanos, franceses, russos e coreanos (além dos especialistas da Agência Internacional de Energia Atómica) para tentar retomar o controlo dos reactores acidentados. Além disso, os recursos de urânio do planeta [4] são extremamente limitados. Calcula-se que, ao actual ritmo de exploração, as reservas minerais desse minério se esgotem ao fim de 80 anos... ou seja, ao mesmo tempo que o petróleo...
Por todas estas razões, e muitas mais (a electricidade nuclear não é mais barata), os defensores da opção nuclear têm agora de admitir que Fukushima modificou radicalmente o enunciado do problema energético. E que daqui para a frente se impõem quatro imperativos: parar a construção de novas centrais; desmantelar as que existem num prazo máximo de trinta anos; impor uma frugalidade extrema no consumo de energia; e tirar pleno partido das energias renováveis. Só assim se poderá talvez salvar o nosso planeta. E a humanidade.
Publicado em Mémoire des Luttes
Tradução de Deolinda Peralta para o Esquerda.net
Notas
[1] Antes do acidente de Fukushima, estimava-se que o número de centrais nucleares no mundo devia aumentar 60% até 2030. A China, por exemplo, possui actualmente 13 centrais atómicas em actividade (que fornecem apenas 1,8% da electricidade do país); no passado mês de Janeiro, Pequim decidiu construir, entre 2011 e 2015, 34 novas centrais, uma de dois em dois meses...
[2] Three Mile Island, Estados-Unidos, em 1979; Chernobyl, União Soviética, em 1986; e Fukushima, Japão, em 2011.
[3] Partículas radioactivas provenientes de Fukushima caíram na Europa ocidental alguns dias após o acidente, e ainda que as autoridades tenham afirmado que "não constituíam nenhum perigo para a saúde", vários especialistas advertiram: se estas partículas ficarem acumuladas sobre legumes de folhas largas como alfaces, o consumo das mesmas pode constituir um risco.
[4] Um reactor nuclear não é senão um sistema para aquecer água. Para isso, utiliza-se a fusão do átomo de urânio 235 que, partindo-se através da "desintegração nuclear", produz uma enorme libertação de energia térmica e aquece a água. Esse calor é depois transformado em energia eléctrica. Convém saber que 156 toneladas de rocha contêm só uma tonelada de minério de urânio do qual se obtém no final apenas um quilo de urânio puro. Desse quilo só 0,7%, ou seja, 7 gramas, são de U235. Temos então que serão necessárias 156 toneladas de rochas para 7 gramas de combustível! Ler, Eduard Rodríguez Farré e Salvador López Arnal, Casi todo lo que usted desea saber sobre los efectos de la energía nuclear en la salud y en medio ambiente, El Viejo Topo, Barcelone, 2008 ; e Paco Puche "Adios a la energía nuclear", Rebelión (www.rebelion.org), 18 de Abril de 2011.

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.