Mas a Irlanda é um formidável exemplo para o que nos vai acontecer. Primeiro, surgiu como figurino do caminho a seguir em termos de crescimento económico na viragem do século. Graças a sindicatos ditos “moderados” (também os cá temos!), o Governo logrou forjar um pacto de paz social pautado pela moderação salarial. Em seguida, incentivou-se a banca a ser “imaginativa” e “ousada”, entulhando-se, como é sabido, em produtos financeiros tóxicos do imobiliário. Em terceiro lugar, reduziram-se brutalmente os impostos para as empresas e a instalação de capital estrangeiro, transformando-se o país num dos maiores off-shores mundiais. O menino exemplar caiu com estrondo, mas o seu perfil exímio levou-o a adoptar prontamente as receitas de sempre, elogiadas pela direita e pela “terceira via”, com um “exigente” pacote de austeridade, fortemente penalizador dos salários, das prestações sociais e do poder de compra. Uma vez mais o resultado está à vista: a economia entrou em recessão e os mesmos mercados que clamaram por sangue querem agora lucrar com o descalabro financeiro.
O problema é que nunca se falou da economia real: estaria a Irlanda a apostar na inovação e no conhecimento, ou nos sectores de ponta da competitividade global? Qualificou-se como país? Nada disso aconteceu e hoje vive um aumento das desigualdades, do desemprego e da pobreza. Portugal e a Europa têm a prova do falhanço do FMI sem FMI. Ele nem precisa de cá estar. É como um fantasma: sente-se.
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