sábado, 9 de outubro de 2010

O mundo em marcha-atrás

Alterações climáticas: Torna-se evidente que nenhum acordo vinculativo será assinado em Cancún.
Nesta semana, decorre em Tanjin, China, a última conferência de preparação para a cimeira de Cancún, México, onde será discutido pela comunidade internacional o futuro do Protocolo de Quioto. A cada ano que passa, os avisos que vêm da investigação científica sobre alterações climáticas tornam-se mais dramáticos. Sabemos hoje, melhor que nunca, que temos a obrigação de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa drasticamente nos próximos anos, sob pena de termos de viver num mundo com um clima muito mais agreste, o que terá consequências graves sobretudo para os mais pobres do planeta.
Na cimeira climática de 2009, em Copenhaga, Dinamarca, os líderes dos países industrializados foram incapazes de assumir um compromisso vinculativo de redução de emissões de gases com efeito de estufa. Tudo o que saiu desta cimeira foi um acordo não vinculativo, feito à pressa por Obama com o apoio de alguns países semi-industrializados, que apenas mencionava a necessidade de limitar o aumento da temperatura média global a 2ºC. Pior, os compromissos de redução de emissões avançados pelos países desenvolvidos ao abrigo deste acordo são tão fracos que, mesmo que sejam cumpridos, conduzirão a um aquecimento global de mais de 3ºC.
A ciência é muito clara em relação ao que necessitamos de fazer. Já não estamos a tempo de evitar as alterações climáticas, dado que excedemos já o nível de concentração de gases com efeito de estufa que nos permitiria ter um clima semelhante ao que tivemos desde que a humanidade surgiu1. Mas podemos actuar para, pelo menos, evitar as piores consequências das alterações climáticas, como a extensão dos desertos na África Subsahariana, o desaparecimento de ilhas no Pacífico Sul (com o aumento do nível médio do mar que resulta do derretimento dos icebergues), o colapso da Amazónia ou, para pegar num exemplo próximo, o agravamento das secas em Portugal.
O desafio não é pequeno: para conseguir ter pelo menos uma probabilidade de 25% de o aquecimento global não exceder os 2ºC necessitamos de reduzir as emissões em 70% relativamente a níveis de 1990, o que implica que três quartos das reservas de combustíveis fósseis conhecidas terão de permanecer inexploradas2.
As perspectivas de conseguir em breve um acordo internacional que responda à crise climática são, contudo, muito fracas. O melhor que a sociedade global neo-colonial já conseguiu até hoje foi o Protocolo de Quioto, através do qual os países da OCDE, excluindo os EUA, assumiram o compromisso de reduzir as emissões em 5% até 2012, relativamente a níveis de 1990. Os truques contabilísticos que o mercado de carbono permite associados a uma recessão mundial parecem ser suficientes para que este fraco objectivo seja cumprido, mas estamos longe de sequer poder dizer que a situação melhorou. Desde 1997, ano de Quioto, graças sobretudo à industrialização nos países em vias de desenvolvimento e à recusa dos EUA em aplicar uma política ambiental minimamente ambiciosa, as emissões de gases com efeito de estufa globais aumentaram em 25%.
Entretanto, em Tanjin, o cenário repete-se. Os governos dos países desenvolvidos (a tríade EUA-UE-Japão) estão demasiado comprometidos com os interesses da indústria, particularmente da exploração de combustíveis fósseis, para poder assumir o compromisso de transição para uma sociedade dependente de fontes de energia limpas. O governo dos EUA, em particular, pretende eliminar a distinção entre países ricos e pobres num tratado pós-Quioto e tem um discurso para com os países em vias de desenvolvimento que segue a máxima “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”. Os governos dos países em rápida industrialização (sobretudo China e Índia) têm investido fortemente na expansão do uso de petróleo e carvão e, naturalmente, não estão dispostos a inverter este percurso enquanto os países mais ricos continuarem a negar as suas responsabilidades na crise climática. De lado ficam os países menos desenvolvidos que, apesar de representarem a maioria da população mundial, contam muito pouco nas negociações internacionais.
Os textos da Cimeira de Cochabamba, onde movimentos sociais se encontraram para propor medidas ambiciosas para resolver a crise climática, fazem agora parte das negociações climáticas, graças ao governo da Bolívia. Mas quase ninguém parece interessado em discutir as aspirações das populações. Os assuntos mais discutidos nas negociações estão antes relacionados com a criação de mais buracos no tratado pós-Quioto, que permitam aos países ricos escapar às suas responsabilidades. Um desses buracos é o projecto REDD3, que permitirá aos grandes poluidores continuar a poluir desde que financiem a conservação de florestas em países pobres. Outro buraco é a contabilização das florestas como sumidouros nos países ricos, de forma a que países com grande cobertura florestal (como os do norte da Europa) possam poluir mais. À medida que mais propostas vão sendo aprovadas para expandir o mercado de carbono e manipular a contabilidade das emissões, torna-se cada vez mais difícil avaliar a veracidade dos compromissos de redução de emissões. A UE, por exemplo, prepara-se para chegar a 2020 anunciando um corte nas emissões de 20% a 30% que será apenas virtual, ao mesmo tempo que expande o uso de carvão e o transporte aéreo.
Outro problema sem resolução à vista é o da transferência de fundos para os países mais pobres para apoiar a adaptação às alterações climáticas. Embora os países desenvolvidos se tenham comprometido a transferir 100 mil milhões de dólares ao abrigo do Acordo de Copenhaga (uma quantia irrisória comparada, por exemplo, com os gastos em guerras imperialistas), uma boa parte deste dinheiro está associada à expansão do mercado de carbono. Por outro lado, os EUA têm pressionado para que o dinheiro seja gerido pelo Banco Mundial, uma pretensão rejeitada pela maioria do mundo, dada a natureza pouco democrática desta instituição.
Neste momento, torna-se evidente que nenhum acordo vinculativo será assinado em Cancún. Torna-se também evidente que não será das negociações de gabinete entre governos neo-liberais que sairão as medidas necessárias para travar a crise climática. Por isso é que é tão importante a participação da sociedade civil.
É de esperar que Cancún seja invadida por enormes manifestações pela justiça climática. Também nós, por cá, devemos cumprir o nosso papel e defender a transição para uma sociedade pós-combustíveis fósseis.
Afinal, não temos outra alternativa senão dar o nosso melhor nesta luta.

1 Estudos científicos estimaram em 350 partes por milhão (ppm) o nível seguro de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera (ver http://www.350.org/en/about/science). Hoje estamos em 388ppm (dados em http://co2now.org/), pelo que entramos já numa trajectória de aumento da temperatura média global.
3 Redução de Emissões da Desflorestação e Degradação de Florestas

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.