sábado, 9 de outubro de 2010

Cuba: Entre a inquietação e a esperança

A população divide-se entre a preocupação, pela possibilidade de perder o emprego, e a expectativa pela abertura à actividade privada. Por Patricia Grogg, IPS
Novos impostos incidem, nomeadamente, sobre ganhos pessoais e o seu montante varia entre 10 a 40%. Foto de Neiljs, Flickr
A drástica reorganização laboral empreendida pelo presidente de Cuba, Raúl Castro, mantém a população entre o preocupada, pela possibilidade de perder o emprego, e o expectante, pelo real alcance da abertura à actividade privada, que segundo estimativas poderia acolher inicialmente umas 250 000 pessoas.
Segundo o previsto, as inscrições para exercer algum dos 178 ofícios por conta própria autorizados devem começar este mês. Mas funcionários do Ministério do Trabalho e Segurança Social e do Gabinete Nacional de Administração Tributária disseram aos jornalistas desconhecer detalhes a esse respeito.
Também não foi publicada a resolução do Ministério das Finanças e Preços, que estabelece o montante dos impostos a pagar. "Quero saber quanto me custaria ter uma licença. Se os impostos são muito altos, vou continuar como até agora", comentou Caridad, modista há vários anos.
O governo propõe-se prescindir de meio milhão de postos de trabalho de agora até ao primeiro trimestre de 2011, com o argumento de aumentar a eficiência e a produtividade do trabalho, o que considera imprescindível para elevar os salários e "sustentar os enormes gastos sociais" do seu sistema socialista.
O reordenamento laboral implica conseguir que pelo menos 80% do pessoal esteja ligado directamente à produção, serviços ou outra actividade considerada fundamental.
O trabalhador declarado "disponível" pode optar por lugares na agricultura, construção ou polícia que hoje apresentam défice de pessoal ou no trabalho autónomo.
Segundo as autoridades, a eliminação dos quadros inflacionados, subsídios excessivos e gratuitidades indevidas, juntamente com libertarem o Estado dum grupo de actividades, devem permitir o financiamento dos aumentos de salários num futuro imediato, uma reivindicação muito esperada nesse sector laboral.
"Eu não quero ser polícia, nem entendo porque devo deixar a capital onde vivo desde que nasci para trabalhar no campo. Nem sequer tenho dinheiro para lançar um ofício por conta própria. Não sei o que vou fazer se perco o meu emprego", disse à IPS um jovem afro-descendente de 26 anos empregado de serviços num hotel da capital.
Castro esclareceu em Agosto que "ninguém ficará abandonado à sua sorte" e que se apoiará quem "realmente não esteja com capacidade de trabalhar (noutros empregos)". Mas nem as palavras do governante nem as assembleias explicativas realizadas nos centros de trabalho conseguiram tranquilizar os trabalhadores que temem ficar entre os excluídos.
"É uma preocupação lógica. Romper com 50 anos de paternalismo estatal não é fácil, mas este ajustamento das forças produtivas é absolutamente necessário, se queremos manter outras coisas que são valiosas, como a gratuitidade dos serviços de saúde e a educação", comentou ao IPS um economista cubano que não quis ser identificado.
Estimativas oficiais indicam que só nesses dois sectores se empregam 46,7% dos gastos correntes do orçamento do Estado, necessitado portanto de novas fontes de rendimento. O direito de cidadania de gozar de forma gratuita de serviços educativos e sanitários está garantido pela Constituição.
O arcebispo de Havana, cardeal Jaime Ortega, não deixa de admitir inquietação com a possibilidade dos despedimentos, especialmente entre os que "têm algum cargo burocrático", mas considera por outro lado que "há um pouquinho de expectativa sobre as mudanças e o êxito que possam ter (...), e em alguns há aceitação".
Em pessoas "com habilitações especiais que as tornam aptas para uma pequena empresa, um pequeno negócio (...) pode haver alegria ou entusiasmo", comentou aos jornalistas Ortega, que vê uma volta "positiva em si" em "pensar as dificuldades económicas de Cuba e em como superá-las".
Contudo, muitas pessoas reagiram com pouco entusiasmo à ampliação de possibilidades de trabalho independente. Em parte porque já exercem algum dos ofícios sem pagar licença nem impostos por ganhos pessoais, ou então porque se prevê que estas cargas sejam maiores.
Em documentos filtrados de meios estrangeiros de comunicação sustenta-se que as propostas tributárias incluem impostos sobre ganhos pessoais, sobre vendas ou serviços, pela utilização da força de trabalho, contribuição para a segurança social e taxa por anúncios e propaganda comercial nos casos em que se apliquem.
O montante das cargas iria de 10 a 40% e seria pago em moeda nacional em todos os casos, pois quando se opera em pesos convertíveis (CUC), a divisa livremente convertível de circulação nacional, aplica-se a taxa de câmbio vigente no CADECA1.
Nessas casas estatais de câmbio, o CUC equivale a 24 pesos. Segundo cálculos preliminares do grupo de estudos tributários, a entrada na actividade por conta própria de 250.000 pessoas significaria uma entrada no orçamento do Estado de 1.000 milhões de pesos a partir de 2011.
Alguns economistas consultados consideram essa meta demasiado ambiciosa e pouco estimulante para a entrada massiva nessa alternativa laboral. "O regime tributário deveria ser mais discreto, pelo menos numa primeira etapa, para dar lugar a que as pessoas comprovem os benefícios", comentou uma fonte académica.
As informações oficiais disponíveis até ao momento permitem adiantar entre os novos aspectos da abertura ao trabalho por conta própria, a livre subcontratação de mão-de-obra em 83 actividades e a derrogação de regulações que impediam, entre outras, o arrendamento de casas inteiras em divisas, assim como de automóveis.
Essas possibilidades em matéria de aluguer estendem-se inclusive a pessoas que têm autorização para residir no estrangeiro ou a quem saia do país por mais de três meses. Também se estuda a possibilidade de que os que tenham actividade por conta própria possam aceder a um crédito bancário para pôr a andar a actividade escolhida.
Para os analistas, todas estas medidas começam a abrir uma porta que pode levar a resoluções mais audazes, embora de imediato, o reajustamento laboral e as suas consequências gerem novas tensões na família cubana, especialmente naquelas encabeçadas por pessoas de menor preparação profissional.

Tradução de Paula Sequeiros para o esquerda.net

1 CADECA - o mercado de câmbios criado para a população

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.