Através de quadros, gráficos e fotografias, os milhares de pessoas que utilizam aquela estação ferroviária puderam obter uma imagem forte de rostos e corpos feridos, queimados, mutilados, retrato duma realidade que é marca do atraso do país, a elevadíssima sinistralidade laboral, praticamente o dobro da média europeia.
Os números mais recentes sobre acidentes de trabalho, publicados em Agosto de 2010 pelo GEP do Ministério do Trabalho e da Segurança Social continuam impressionantes: em 2008, apesar do crescente desemprego e da diminuição das empresas em actividade, o número de acidentes de trabalho ocorridos – 240.018 - (que não inclui os verificados no trajecto de e para o local de trabalho) foi o mais elevado dos últimos seis anos. Outros elementos a destacar: mais de metade dos acidentados têm menos de 44 anos. Os mais afectados pelos acidentes de trabalho são os trabalhadores com vínculo contratual precário. E é nas micro e pequenas empresas (até 49 trabalhadores) que ocorrem 70% dos acidentes mortais.
Os sinistrados são gente trabalhadora que é ofendida na sua integridade física e psíquica, muitas vezes para sempre, em resultado duma prática empresarial que não dá atenção nem à organização dos processos de trabalho nem à necessidade de técnicas preventivas na realização das tarefas. São homens (75%) e mulheres (25%) vítimas da ganância capitalista.
Os custos económicos da sinistralidade são brutais: juntando aos acidentes de trabalho as doenças profissionais (cujo número de pensionistas é já superior a 30.000), são mais de 1,5 mil milhões de euros/ano. Mas nem assim há uma intervenção adequada das entidades responsáveis.
É na região Norte que ocorrem mais de 40% dos acidentes de trabalho, a que correspondem quase três milhões de dias de trabalho perdidos. Mas é o distrito do Porto que continua a ser o campeão na sinistralidade laboral – 21% do total nacional. E é também o distrito do Porto que vai à frente (mais um triste recorde) no número de mortos em acidentes de trabalho – 17% do total nacional.
A organizadora da exposição, a ANDST, é uma instituição com sede no Porto ,fundada em 1976, e que tem vindo a fazer um notável trabalho de apoio e defesa das vítimas de acidentes de trabalho e doenças profissionais. É necessário um outro olhar da sociedade sobre a sinistralidade laboral Mas o que é absolutamente imprescindível é a mudança de atitude das empresas, para que acabe o desprezo pelas condições de trabalho e passem a ser cumpridas as regras mais elementares de segurança no trabalho. É preciso reduzir drasticamente a ocorrência de acidentes de trabalho e doenças profissionais, para que os locais de trabalho passem a ser espaços seguros, de realização humana e profissional. Este é mais um combate da esquerda em Portugal.
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